Sputnik
Em 2021, a Ucrânia está sediando uma série de exercícios militares da OTAN. Alguns creem que estes exercícios derramam gasolina sobre o fogo, já que o país ainda tem um conflito militar não resolvido em Donbass.
Maiores exercícios da OTAN em um quarto de século
Os jogos de guerra, que agora estão decorrendo parcialmente, cobrirão a terra, o mar e o ar. A parte marítima é representada por Sea Breeze, uma simulação que reunirá 30 navios, 30 aviões de guerra e 1.400 militares representando 27 nações. Antes de 2014, a OTAN encenava Sea Breeze desde a Crimeia, mas mesmo depois que a região voltou a aderir à Rússia após um referendo os cenários não mudaram muito, e ainda giram em torno da península.
Os militares ucranianos também estão participando do Defender Europe 2021, o maior exercício do gênero nos últimos 25 anos, realizado simultaneamente em 16 países europeus, principalmente em áreas próximas aos Balcãs e à região do mar Negro.
Durante a primeira etapa do Defender Europe 2021, chamada de Swift Response, sete mil soldados de 11 países participaram de missões por todo o Leste da Europa, da Bulgária à Romênia, e também na Estônia.
O segundo estágio dos exercícios é chamado de Immediate Response e inclui exercício de tiro para cinco mil soldados de oito países. Há ainda duas outras etapas, que se concentram na defesa antiaérea e antimíssil, bem como no estabelecimento da coordenação entre as forças multinacionais.
Em abril de 2021, Aleksei Arestovich, porta-voz da representação ucraniana no chamado Grupo de Contato Trilateral (TCG, na sigla em inglês) sobre Donbass, composto pela Ucrânia, Rússia e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa, disse que o Defender Europe 2021 é a "simulação de uma guerra, um conflito armado com a Rússia", acrescentando que "o foco principal é nos Balcãs e na Crimeia e, naturalmente, tudo ao norte da Crimeia".
Pedantismo do Ocidente
Em relação às possibilidades de adesão da Ucrânia à OTAN, a retórica das altas patentes da aliança permanece oblíqua e cautelosa, com o secretário-geral Jens Stoltenberg dizendo que primeiro Kiev realizar uma "reforma para modernizar suas instituições de defesa e segurança". No entanto, a OTAN já está na Ucrânia e bombeando o país com cada vez mais armas.
As políticas expansionistas da OTAN não são uma novidade para Moscou. A aliança tem feito por décadas o contrário do que seus líderes proclamaram a respeito da expansão da OTAN para o leste, aumentando gradualmente a presença militar no Leste da Europa desde 1991 e, mais tarde, aceitando como membros nações do antigo bloco soviético.
No entanto, o peso total das críticas e das acusações de qualquer ato ilícito global relacionado a questões militares sempre foi distorcido pela mídia e pelos políticos ocidentais e apontado a Moscou.
Por exemplo, em abril de 2021, a Rússia foi criticada pelos EUA e pela Alemanha por organizar exercícios militares em seu próprio solo, ao mesmo tempo que dezenas de manobras militares fortemente interligadas e significativamente maiores envolvendo Kiev estavam sendo organizadas pelo próprio Ocidente nas proximidades das fronteiras da Rússia.
Os dois lados do conflito em Donbass continuam se acusando mutuamente de violações do cessar-fogo. Mas é provável que, após as manobras da OTAN, mais munições de fabricação ocidental apareçam nos relatos sobre bombardeios na região.
Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, armamentos e munições avançadas entregues pela OTAN para a realização dos exercícios serão mais tarde fornecidos às formações nacionalistas ucranianas em Donbass, aumentando ainda mais a tensão na região.
Quem realmente mina a soberania da Ucrânia?
Enquanto os responsáveis ucranianos preferem manter sua retórica antirrussa habitual e reforçar ao mesmo tempo suas forças militares nas proximidades das fronteiras russas sob pretexto de exercícios militares, Kiev parece estar lentamente se fechando dentro de novos limites políticos e militares, que estão sendo estabelecidos em Bruxelas e em Washington.
Moscou, por sua vez, continua sendo retratado pela mídia ucraniana e ocidental como o principal vilão e a ameaça principal à soberania da Ucrânia.
Os líderes da OTAN realizarão uma cúpula em Bruxelas na próxima semana, mas tudo indica que, apesar da vontade do presidente Zelensky de integrar seu país à Aliança Atlântica, ele não conseguirá aproximar a Ucrânia desse objetivo em breve.
Atualmente Washington parece ainda não estar preparado para permitir abertamente tais medidas, possivelmente preferindo manter a Ucrânia como moeda de troca e um instrumento para a administração de Biden continuar irritando a Rússia. Mas ainda falta saber se o povo ucraniano, que não tem uma palavra a dizer em toda esta situação, quer realmente tal papel para seu país.