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"A situação no Afeganistão requer uma atenção especial, tanto dos países vizinhos quanto das organizações internacionais. É preciso reconhecer que, ao longo destes 20 anos em que um contingente militar significativo da aliança ocidental esteve no país, ele não foi capaz de obter resultados significativos na estabilização e formação de estruturas estáveis de administração", ressaltou durante a abertura da Conferência sobre Segurança Internacional de Moscou.
Valter Campanato/ Agência Brasil |
O ministro russo também afirmou que "após a retirada das forças da OTAN, há uma grande probabilidade de a guerra civil recomeçar, com todas as consequências negativas: maior deterioração da vida da população, migração em massa e propagação do extremismo aos países vizinhos".
Russofobia
Além disso, o ministro russo voltou a ressaltar que a russofobia por parte da OTAN supera o pragmatismo da aliança.
O problema do combate ao terrorismo está dando lugar à tendência de criação de coalizões globais, à divisão em "nossos" e "inimigos", afirmou.
"Ainda há muito pouco tempo, estávamos focados nos problemas relacionados à luta contra o terrorismo em um mundo multipolar. Hoje, uma nova tendência está surgindo - a formação de coalizões globais, a divisão do mundo em 'nossos' e 'inimigos'", afirmou Shoigu.
Controle de armas
Outro ponto citado pelo ministro russo foi o controle de armas, que segundo ele, depende em grande parte dos EUA.
"O rumo em que a situação na Europa se desenvolverá, inclusive na área do controle de armas, depende em grande parte dos EUA. Os resultados do recente encontro em Genebra entre os presidentes da Rússia e dos EUA confirmaram a urgência de retomar o diálogo estratégico. Muitas questões se acumularam nesta área, cuja solução implica levar em conta as preocupações e interesses de cada lado", disse o ministro na Conferência de Segurança de Moscou", afirmou.
De acordo com Shoigu, o presidente russo Vladimir Putin propôs chegar a um acordo sobre um conjunto de medidas transparentes para restaurar a confiança e eliminar as preocupações mútuas.
"Confirmamos nossa disponibilidade para trabalhar nesta direção", disse Shoigu.
Países latino-americanos
Shoigu também falou sobre o apoio russo aos países latino-americanos, incluindo Cuba, Nicarágua e Venezuela.
"Historicamente, temos desenvolvido relações de parceria com Cuba, Nicarágua, Venezuela e outros países. Por muitos anos, eles têm resistido a diversas formas de pressão, até a ameaça do uso aberto da força militar [...] Nos últimos anos, observamos tendências positivas na cooperação com a Bolívia, Brasil, Peru, Argentina, Uruguai e Paraguai", destacou.
Comandos espaciais
Diversos países estão criando comandos especiais com o objetivo de realizar operações ofensivas no espaço e no ciberespaço, se envolvendo cada vez mais no confronto militar, disse o ministro da Defesa russo.
"Como parte das forças armadas de diversos países, estão sendo criados comandos espaciais e cibernéticos, cujo principal objetivo não é a defesa, mas sim o planejamento e a realização de operações ofensivas nas suas respetivas áreas", afirmou Shoigu.
OTAN treina envio de tropas para as fronteiras da Rússia e Belarus
A OTAN está treinando o envio de tropas para as fronteiras da Rússia e de Belarus, segundo Shoigu.
"O bloco do Atlântico Norte está elevando o número de destacamentos de alta prontidão, treinando rotas para transferir rapidamente tropas para as fronteiras da Rússia e Belarus", afirmou o ministro.
O ministro também observou que um exemplo típico foi o exercício da OTAN Defender Europe, durante o qual foram praticadas operações ofensivas no flanco oriental da Aliança.
Putin: igualdade para solucionar os problemas globais
Por sua vez, o presidente russo, Vladimir Putin, ressaltou que a Rússia nunca impõe a sua vontade a outros países e está pronta a participar, em pé de igualdade, na solução de problemas comuns.
"Nós nunca impomos nossa vontade a outros países. Estamos prontos, usando métodos políticos e diplomáticos, para participar da resolução dos problemas globais e regionais, bem como expandir a cooperação construtiva com todos os países", afirmou Putin.
Putin observou que a turbulência geopolítica está crescendo, a erosão do direito internacional continua, assim como as tentativas de utilizar a força.
"Infelizmente, a turbulência geopolítica segue crescendo, mesmo apesar de alguns sinais positivos. A erosão do direito internacional também continua. Não param as tentativas de usar a força para fazer valer os seus interesses, para fortalecer a própria segurança às custas da segurança dos outros", enfatizou Putin.
O presidente russo também falou sobre os riscos de proliferação de armas de destruição em massa, de conflitos armados regionais e crime transfronteiriço.
"Os conflitos armados regionais, os riscos de proliferação de armas de destruição em massa, a atividade de grupos criminosos transfronteiriços, o tráfico de drogas e os criminosos cibernéticos estão causando sérias preocupações", afirmou o presidente, ressaltando que estes problemas requerem a união dos esforços de todos os países.
"Esse trabalho coletivo, é claro, deve ser realizado com base no direito internacional, nos objetivos e nos princípios da Carta da ONU", adicionou.
Vontade política e disposição para compromissos podem produzir resultados positivos na área da estabilidade estratégica, afirmou o presidente russo.
"Anteriormente, a Rússia apresentou propostas para criação de uma nova equação de segurança. Ela deve levar em consideração todos os fatores que afetam a estabilidade estratégica em sua interconexão. Estamos convencidos de que a vontade política e a disposição para compromissos podem produzir um resultado positivo", afirmou.
Destruição em massa
Sobre as armas nucleares, o chefe do Estado-Maior das FA russas, Valery Gerasimov, afirmou que a Rússia se reserva o direito de utilizar estas armas apenas em resposta ao uso de armas de destruição em massa ou armas convencionais contra ela caso a própria existência do Estado seja ameaçada.
"A Rússia se reserva o direito de usar armas nucleares somente em resposta ao uso de armas nucleares e outros tipos de armas de destruição em massa contra ela ou seus aliados, bem como em caso de agressão contra a Federação da Rússia com o uso de armas convencionais, quando a própria existência do país estiver ameaçada", afirmou.