Eduardo Barretto | Metrópoles
A Superintendência do Ministério da Saúde do Rio de Janeiro comprou em fevereiro, às pressas e sem licitação, computadores “completamente fora da especificação”, segundo um laudo técnico da pasta, que investiga o caso. Autorizada pelo coronel da reserva George Divério, indicado por Eduardo Pazuello, a compra foi cancelada no mês seguinte.
General Eduardo Pazuello | Igo Estrela/Metrópoles |
Esse processo foi citado na última segunda-feira (14/06) pelo médico Marcelo Lamberti, então superintendente substituto da pasta do Rio de Janeiro, em ofício à Corregedoria da pasta e a diversos órgãos de controle. Lamberti pediu que a PF, o MPF, a CGU, o TCU e a DPU apurem suspeitas sobre a gestão de Divério. O militar foi demitido em maio após ter autorizado, em dois dias, compras suspeitas de R$ 28,8 milhões sem licitação para reformas, como mostraram os repórteres Arthur Guimarães, Leslie Leitão, Marco Antônio Martins e Pedro Bassan.
A compra de R$ 17,6 mil com a empresa Win Distribuidora foi feita com rapidez. Às 8h20 de 11 de janeiro, o coordenador de Administração da superintendência da pasta, Joabe Antonio de Oliveira, pediu que Divério autorizasse duas dispensas de licitação para comprar materiais de informática. Seriam dois “computadores de alto desempenho para arquitetura e engenharia” e softwares. Apenas 32 minutos depois, o coronel concordou, destacando a urgência do caso. No fim daquela tarde, o projeto básico justificava que as máquinas seriam usadas para projetos de reformas na superintendência, que estava sob risco de paralisação no atendimento à população durante a pandemia.
Em 5 de fevereiro, a nota fiscal foi assinada e os computadores, entregues. Seis dias depois, o coordenador de Administração fez uma ressalva: informou que não havia conseguido encontrar duas máquinas como definia o projeto básico. Então, fez uma cotação com computadores de configurações diferentes, que atenderiam aos requisitos mínimos exigidos. No mesmo documento, pediu urgência para a instalação das máquinas e defendeu a “simplificação de processos”.
Poucas horas depois, contudo, um laudo técnico do ministério em Brasília apontaria um quadro bem diferente: os equipamentos “nem deveriam ter sido aceitos”, em meio a tantos problemas. Segundo o laudo do Departamento de Informática do SUS, as máquinas possuíam metade da memória solicitada; um terço do espaço em disco; monitor de outro tamanho e qualidade; e processador mais fraco. “Existem muitas incompatibilidades do que foi solicitado com o que realmente foi ofertado”, disse o documento, que identificou erros da superintendência e concluiu: “Seria perda de tempo. Estão completamente fora de especificação”. Em 18 de março, os computadores foram devolvidos à Win Distribuidora. Procurada, a Superintendência do Ministério da Saúde do Rio de Janeiro declarou que identificou, após avaliação técnica da pasta, “divergências“ em relação às máquinas compradas. “A empresa foi acionada e realizou o recolhimento dos equipamentos”, afirmou.
Com duas trocas em um mês, a representação do Ministério da Saúde no Rio de Janeiro — segundo estado com mais mortes por Covid no país, com 53,7 mil vidas perdidas — voltou a ser comandada por um militar. Na última terça-feira (15/06), o Palácio do Planalto escolheu o coronel da reserva Pedro Geraldo Pinheiro dos Santos.