Vladimir Gujanicic | Russia Beyond
A Guerra Sul-Africana na fronteira, também conhecida como Guerra da Independência da Namíbia, foi uma série de confrontos assimétricos nos territórios da Namíbia, Zâmbia e Angola entre 1966 e 1990. Os combates se deram entre o Exército da África do Sul (sob o regime do apartheid), o Exército Popular de Libertação da Namíbia (PLAN), a ala militar da Organização do Povo do Sudoeste Africano (SWAPO). Durante o conflito, foram travadas algumas das maiores batalhas vistas no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.
MiG-23 |
Depois de sofrer uma série de derrotas nas mãos de um exército sul-africano muito mais bem treinado, a liderança angolana contou com a ajuda de Cuba. Os cubanos ficaram conhecidos desde os conflitos anteriores da Guerra Fria como um recurso poderoso dos comunistas em momentos de crise em que a URSS colidiu com os Estados Unidos e seus satélites. O líder cubano Fidel Castro prometeu ajuda aos angolanos e, em pouco tempo, os MiGs cubanos já sobrevoavam o céu do país africano. A missão dos pilotos era impedir a penetração do exército sul-africano atacando alvos terrestres e estabelecendo o domínio aéreo.
Seguindo um procedimento rápido, um esquadrão de pilotos sob o comando do coronel Armando González chegou de Havana a Angola a bordo de um avião de transporte Il-62M. Se até então os sul-africanos Mirage (caças de origem francesa) tinham conseguido prevalecer sobre os MiG-21 angolanos, tudo mudou com a chegada dos cubanos. O MiG-23 assumiu o controle dos céus da Namíbia em questão de meses. Setembro de 1988 foi especialmente difícil para as forças sul-africanas. Depois de uma série de confrontos na Namíbia, os cubanos conseguiram derrubar diversas aeronaves sul-africanas Mirage F1A3, passando a superioridade aérea completamente para suas mãos. Nem um único MiG cubano foi abatido nos confrontos, e os pilotos sul-africanos foram instruídos a evitar confrontos com eles.
Ao mesmo tempo que assumiram o controle do espaço aéreo, começaram a realizar ataques contra as forças terrestres sul-africanas. Entre os primeiros alvos estavam as colunas de transporte. “Os MiGs nos bombardeiam todos os dias, eles lançam dezenas de bombas e não temos nada com o que nos defender. Durante os ataques, saímos das posições e nos escondemos em abrigos temporários, onde ficamos até que os MiGs retornem aos seus aeródromos”, escreveu um dos soldados sul-africanos na época.
No dia 13 de janeiro, as forças terrestres sul-africanas lançaram uma ofensiva decisiva contra as posições do Exército angolano. O ataque foi conduzido em tempo chuvoso, na esperança de impedir os cubanos de voar; também bombardearam continuamente a base aérea de Menongue, de onde os adversários estavam decolando. Mas os cálculos que haviam feito frustraram os sul-africanos. O coronel Trujillo começou a bombardear posições inimigas. Durante a missão aérea, seu esquadrão realizou 23 voos e lançou 44 toneladas de bombas e mísseis contra os sul-africanos. Os ataques resultaram na destruição de 20 veículos de combate inimigos, incluindo sete tanques pesados Olifant. Mas este foi apenas o começo.
Três dias depois, durante um voo de reconhecimento, o coronel Trujillo avistou um Olifant solitário a sudeste de Cuito Cuanavale (no sul de Angola). Ao seguir sua rota, ele descobriu um grande número de equipamentos de combate mascarados. Seis horas depois, um grupo de MiGs cubanos levou a cabo um poderoso bombardeio que pegou o oponente completamente desprevenido. Após os primeiros ataques aéreos, uma nuvem de fumaça de 300 metros de altura se formou no ar, que podia ser avistada a vários quilômetros de distância.
Em 14 de fevereiro, ocorreu um momento crucial no conflito, quando as forças sul-africanas fizeram um avanço em solo. Somente a intervenção dos cubanos conseguiu estabilizar a situação na frente. Os pilotos cubanos realizaram 35 surtidas de combate e bombardearam o exército invasor. O ataque noturno dos sul-africanos também foi repelido graças à ajuda deles.
As armas mais perigosas dos sul-africanos eram os obuseiros G-5 e G-6, que podiam disparar contra alvos a 60 quilômetros de distância. Em 26 de fevereiro, o coronel Trujillo avistou uma dessas baterias perto do rio Chambinga, que foi seguida por um enorme bombardeiro na área. Depois desse acontecimento, como lembraram os artilheiros sul-africanos, o bombardeio com obuses passou a ser limitado e só ocorria quando não houvesse caças cubanos no céu.
Durante os intensos combates de janeiro a março de 1988, os MiGs cubanos realizaram mais de 1.200 voos de combate, lançaram 358 toneladas de bombas e dispararam 4.000 mísseis. Setecentos soldados sul-africanos foram mortos nos ataques, e 70 equipamentos militares, destruídos. Durante toda a intervenção, a Força Aérea cubana perdeu um total de 9 MiG-23s, dos quais nenhum foi abatido em confronto aéreo. A Guerra Sul-Africana na fronteira ficou marcada na história como o capítulo de maior sucesso no uso dessas aeronaves em combate.