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Ao menos cinco pessoas morreram em Cali na noite de sexta-feira (28/05). São as vítimas mais recentes em um mês de protestos que ceifaram dezenas de vidas.
A cidade de Cali se tornou o epicentro dos protestos | Reuters |
As manifestações começaram em abril em resposta a uma proposta de aumento de impostos.
O projeto de lei da reforma tributária foi retirado, mas os protestos cresceram e passaram a ter como alvo a violência policial, a pobreza e a crise de saúde na Colômbia.
Duas semanas de negociações entre o governo e os manifestantes não levaram a nenhum acordo.
Cali, que se tornou o epicentro do movimento de protesto, ficou sob toque de recolher até a manhã de sábado.
Em uma entrevista coletiva em Cali, o presidente Iván Duque disse que estava enviando "o máximo de assistência militar" à polícia.
"Essa operação quase triplicará nossa capacidade em menos de 24 horas em todo o Estado, garantindo assistência também em pontos críticos, onde vimos atos de vandalismo, violência e terrorismo urbano de baixa intensidade", disse.
Um dos mortos na sexta-feira era um oficial de folga do gabinete do procurador-geral. O homem abriu fogo contra os manifestantes antes de ser morto, disse o procurador-geral Francisco Barbosa em um comunicado.
No sábado, um oficial de segurança de Cali disse que ao menos cinco pessoas morreram na sexta-feira nos protestos. Ele também informou que outras cinco pessoas foram mortas na cidade naquele dia, mas não está claro se essas mortes estão relacionadas às manifestações.
Como os protestos começaram?
As manifestações começaram em 28 de abril e inicialmente se opunham a uma proposta de reforma tributária que pretendia reduzir o limite mínimo a partir do qual os salários são tributados.
O governo argumentava que a reforma seria fundamental para mitigar as dificuldades econômicas, mas muitos colombianos de classe média temiam que, como resultado, pudessem cair na pobreza.
Após quatro dias de protestos em todo o país, o presidente Duque disse que retiraria o projeto de lei.
No entanto, grupos de direitos humanos acusaram a polícia de usar gás lacrimogêneo e, em alguns casos, munição real para dispersar os protestos.
Dezenas de pessoas morreram desde então.
Na sexta-feira, os colombianos realizaram passeatas em todo o país para marcar a passagem de um mês desde o início da onda de protestos.
Coquetel explosivo
Análise de Daniel Pardo Vegalara, da BBC Mundo
Cali fica em um ponto estratégico no sudoeste da Colômbia - conectando o centro urbano ao Oceano Pacífico e ao maior porto do país, Buenaventura.
Durante a pandemia, o número de pessoas vivendo na pobreza em Cali aumentou três vezes mais do que no resto do país.
Grande parte de sua economia é informal e a população é bastante diversa. Também tem um número elevado de assassinatos. Esse coquetel, em uma cidade muito desigual e segregada, foi o combustível dos protestos.
Mas então veio a forte resposta das autoridades, que trataram muitos manifestantes como criminosos e criaram bloqueios nas estradas que estão afetando seriamente a atividade econômica da região.
A raiva de ambos os lados é enorme. E com o fracasso das tentativas de diálogo, a situação parece que não vai se acalmar em nenhum momento próximo.