France Presse
Há menos de um ano, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos firmaram, com o apoio dos Estados Unidos, acordos para restabelecer as relações com Israel e já são obrigados a adotar uma postura crítica diante dos acontecimentos.
Seu discurso tem como base tentativas de expulsar palestinos do bairro Shaykh Jarrah em Jerusalém Oriental para instalar colonos judeus em seu lugar, a violenta repressão às manifestações em torno da Mesquita de Al-Aqsa de Jerusalém, o terceiro lugar sagrado do Islã, e os atentados do exército israelense na Faixa de Gaza que provocaram a morte de 139 palestinos, 39 deles crianças.
Na sexta-feira, o Ministério das Relações Exteriores dos Emirados expressou "preocupação com essa escalada de violência".
Em uma linguagem mais direta, Bahrein condenou os "ataques de Israel". Do lado israelense, o lançamento de foguetes do movimento islâmico Hamas matou 10 pessoas, incluindo uma criança.
"Essas reações são, acima de tudo, um exercício de comunicação dirigido a um público árabe nacional e regional que continua apoiando os palestinos", disse Elham Fakhro, analista do grupo de reflexão Crisis Group.
"Os acordos de Abraham (que selaram a normalização com Israel) nunca tiveram a intenção de abordar a questão da ocupação militar e expropriação de terras palestinas", disse este especialista à AFP.
No Bahrein, as manifestações em apoio aos palestinos nestes dias pediam o rompimento das relações com Israel.
Nos Emirados, onde manifestações são proibidas, muitos internautas compartilham vídeos e fotos para denunciar a ocupação e a brutalidade das forças militares israelenses.
Mas os defensores do governo também criticaram o Hamas por disparar foguetes contra Israel, já que o país é claramente hostil aos movimentos islâmicos.
- Primeiro teste -
Para Hugh Lovatt, analista do centro de estudos do Conselho Europeu de Relações Exteriores, a crise atual é "o primeiro teste real" para os Emirados.
Mas parece improvável que Abu Dhabi renuncie a essa normalização porque os Emirados "se beneficiam muito das relações com Israel", principalmente graças a acordos de tecnologia e compra de equipamentos militares.
“Dado o profundo interesse bilateral, a escalada na Palestina é simplesmente algo que vai desacelerar o processo, mas não vamos esquecer que as relações entre os Emirados e Israel vêm se desenvolvendo há anos e sobreviveram às guerras de Gaza”, lembra o pesquisador da AFP.
Após os acordos de Abraham, as atenções se voltaram para a Arábia Saudita, um peso-pesado regional, mas o reino se recusou a iniciar uma normalização das relações com Israel sem uma resolução prévia da questão palestina.
Esta semana, o rei Salman condenou veementemente as "ações de Israel em Jerusalém" e expressou seu apoio aos "direitos legítimos" do povo palestino.
Na sexta-feira, o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, Faysal bin Farhan, criticou as "práticas ilegais do ocupante israelense".
- Tomar distância -
Para outros estados árabes que se aproximaram de Israel nos últimos tempos, o mal-estar é ainda mais flagrante do que nos Emirados, já que no Marrocos ou no Sudão a sociedade defende com ardor a causa palestina.
Para o Marrocos, estabelecer relações com Israel é uma questão estratégica, pois está ligada ao reconhecimento pelos Estados Unidos de sua soberania sobre o Saara Ocidental, não reconhecida pela ONU.
Mas, diante da pressão das ruas, o reino teve que condenar as ações da polícia israelense em Jerusalém Oriental e anunciar o envio de ajuda humanitária aos palestinos.
“O Marrocos teria que ter um papel mediador nas tensões atuais e se não der certo, seria melhor se distanciar do processo de normalização sem realmente romper as relações com Israel”, avalia Tajeddin Hussaini, professor de Relações Internacionais na Universidade de Rabat.
Por fim, o Sudão, que estabeleceu relações com Israel para sair da lista negra dos Estados Unidos de países que apoiam o terrorismo, também "condenou e rejeitou as medidas tomadas por Israel" contra os palestinos e as descreveu como "provocação flagrante".