Por Sandra Cohen | G1
Sempre carregado de tensão, o Dia de Jerusalém, aniversário de sua conquista por Israel na Guerra de 1967, soma este ano uma combinação explosiva de ingredientes que contribuem para acirrar a violência em torno da cidade sagrada para judeus, muçulmanos e cristãos. A data celebrada como feriado nacional em Israel coincide também com o fim do primeiro Ramadã após a pandemia do novo coronavírus.
Mulher palestina corre em Jerusalém, em 10 de maio de 2021 — Foto: Ronen Zvulun/Reuters |
São 500 feridos em apenas três dias em Jerusalém Oriental e o prenúncio de uma nova Intifada palestina. Para marcar a data, judeus de extrema-direita tentam chegar ao Muro das Lamentações, marchando pela Esplanada das Mesquitas e pelo Bairro Muçulmano, em ato de provocação, mas sob um forte esquema de segurança.
Vamos aos principais fatores que induzem à confluência do caos:
Fortalecimento dos ultranacionalistas
Nas últimas semanas, os confrontos subiram de tom após as restrições à entrada dos palestinos à Cidade Velha durante o Ramadã e um protesto de judeus ultranacionalistas, no fim do mês passado, gritando “morte aos árabes e “morte aos terroristas”, pelas ruas da cidade.
O grupo de extrema direita, formado por colonos em sua maioria, foi fortalecido pelo ingresso do partido Otzma Yehudit no Parlamento israelense, encorajado pelo premiê Benjamin Netanyahu, em mais uma manobra para garantir a sobrevivência política.
Disputa de propriedades
O pano de fundo para os confrontos é o bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, onde mais de 70 residentes palestinos estão ameaçados de despejo por nacionalistas judeus de direita, em uma longa batalha travada nos tribunais. Uma lei israelense, sem equivalência para os palestinos, permite que judeus recuperem propriedades em Jerusalém Oriental antes de 1948.
A decisão final, prevista para esta segunda-feira, foi adiada na última hora pela Suprema Corte, a pedido do procurador-geral, em função do agravamento dos confrontos. Apenas jogou para frente o problema, sem resolvê-lo.
Indecisão política em Israel
O governo israelense ainda permanece transitório e indefinido após a quarta eleição em dois anos. O premiê Benjamin Netanyahu não conseguiu compor uma coalizão para assegurar a maioria no Parlamento, que agora é negociada pelo centrista Yair Lapid, líder do Yesh Atid.
Para isso, ele necessita do apoio do ultranacionalista Naftali Bennett, cujo partido, Yamina, tem sete deputados. Os dois arquitetam um Gabinete com alternância no posto de primeiro-ministro. Mas a sua sobrevivência, por si só, já nasce ameaçada.
Disputa palestina
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, adiou as primeiras eleições em 15 anos, no próximo dia 22, sob o pretexto de que a participação de eleitores em Jerusalém Oriental não estava assegurada por Israel.
A decisão, contudo, foi rejeitada como um golpe, elevando a tensão entre as duas facções políticas que dividem geograficamente os palestinos: o Fatah, na Cisjordânia, e o Hamas, em Gaza. A liderança de Abbas é vista como fraca e ultrapassada e é alvo de disputas internas dentro do partido.