Por Raoni Alves | G1 Rio
O Ministério Público Federal (MPF) abriu uma investigação para apurar denúncias de possíveis aglomerações e de descumprimento de protocolos sanitários em uma base da Marinha no Rio de Janeiro.
O Ministério Público Federal (MPF) abriu uma investigação para apurar denúncias de possíveis aglomerações e de descumprimento de protocolos sanitários em uma base da Marinha no Rio de Janeiro.
Alunos do Centro de Instrução Almirante Alexandrino (CIAA), na Zona Norte do Rio, convivem com aglomerações — Foto: Arquivo pessoal |
Militares do Centro de Instrução Almirante Alexandrino (CIAA), unidade da Marinha responsável pela formação de cabos e sargentos, ouvidos pelo G1 disseram que o quartel tem desrespeitado as medidas de proteção contra a proliferação da Covid-19.
A Marinha nega e diz que segue medidas de distanciamento social e todos os protocolos clínicos e terapêuticos divulgados pela Organização Mundial de Saúde.
Imagens feitas na unidade e enviadas por militares que frequentam o local mostram alojamentos lotados; militares sem máscara de proteção; e pouco distanciamento em atividades ao ar livre.
"As aglomerações acontecem em todos os espaços: alojamento, banheiros, refeitório, sala de aula, tanto nos cursos de sargento como de cabo. O alojamento é um corredor onde ficam 25 pessoas trocando de roupa. Banheiro também fica lotado depois das práticas de treinamento. É bizarro", disse um militar que não quis se identificar.
"Eu fico preocupado por conta das pessoas que eu tenho em casa, crianças, família", completou.
Entre as denúncias, marinheiros relataram o descaso da instituição diante da doença que já matou mais de 39 mil pessoas no Rio de Janeiro. Segundo um dos militares, não há aferição de temperatura na entrada, não é oferecido álcool em gel para os alunos e reclamações são contidas com ameaça de punição.
"Desde janeiro a Marinha não parou e continua negligenciando a saúde pública do brasileiro. Agem dessa forma, colocando em risco de vida os militares e seus familiares."
"Tem muitos casos de Covid lá dentro. Tem campanhas (colega) que perderam pais, estão com filho com Covid e mesmo assim continuam indo pro curso. Quando um praça chega lá com sintomas, eles dão a dispensa, mas quando o militar apresenta uma dispensa de um outro hospital eles dizem que quando entramos em janeiro estávamos bons de saúde. E desconsideram o atestado", relatou outro militar.
O CIAA conta atualmente com cerca de 2,7 mil alunos, todos militares em busca de progressão na carreira. O curso para cabo, por exemplo, teve início no dia 7 de janeiro e tem duração de aproximadamente um ano.
Um aluno contou que no início do curso, a Marinha dividiu os militares em grupos menores, intercalando os dias de atividade. Contudo, segundo o marinheiro, essa regra durou poucas semanas.
"Eu, por exemplo, estou em um grupo que precisa ir todos os dias. O meu grupo tem 22 pessoas e toda atividade de sala de aula é com a presença de todos em sala fechada. No rancho, todo mundo faz as refeições ao mesmo tempo, não só o meu grupo", disse.
De acordo com o militar, tem grupo com 40 alunos que precisam assistir às aulas ao mesmo tempo: "Pra eles o vírus não circula aqui dentro".
Diante do risco de infecção no interior do quartel, alguns militares tentaram alertar seus superiores sobre a falta de cuidado nas atividades. O problema é que, segundo as denúncias, quem busca ajuda para aumentar o rigor das regras de distanciamento acaba ameaçado de ser expulso do curso.
MPF investiga
A situação de militares aglomerados durante cursos do CIAA chegou ao Ministério Público Federal, que decidiu cobrar explicações do comandante da unidade da Marinha, o contra-almirante Alexander Reis Leite.
O chefe da unidade militar respondeu ao procurador da República do Rio de Janeiro Fábio de Lucca Seghese que o CIAA segue o Plano de Atividades para Acompanhamento da Evolução da Pandemia no Brasil e na Família Naval.
Segundo o comandante, o planejamento tem o propósito de orientar a progressão das atividades e a manutenção da capacidade operacional da unidade militar.
"No âmbito desta Organização Militar foram elaborados memorandos, onde contêm as informações sobre o retorno das aulas com os protocolos a serem adotados contra a Covid-19. Adicionalmente, houve a implementação de regras a serem cumpridas pelos militares do comando do corpo de alunos e pelo próprio corpo de alunos, em função de medidas de enfrentamento adotadas", disse o contra-almirante.
Em sua resposta ao MPF, o comandante ainda ressaltou que os marinheiros são obrigados a utilizar máscaras de proteção e que, entre outras regras citadas para o controle da pandemia, estariam a aferição de temperatura, disponibilização de álcool em gel, desinfecções de espaços comuns e distanciamento de um a dois metros uns dos outros a fim de evitar aglomerações.
Casos de Covid
No documento enviado ao Ministério Público Federal, o comando do CIAA diz também que, em 2021, foram realizados 4.052 testes de Covid, com 207 militares apresentando resultados positivos para a doença.
Segundo a unidade, "todos foram imediatamente afastados de suas atividades por, pelo menos, dez dias, orientados e medicados conforme a necessidade do quadro clínico".
Em todo o ano de 2020, foram contabilizados 1.548 casos suspeitos, dentre estes 274 militares testaram positivo para o coronavírus.
Diante das alegações, o MPF decidiu encaminhar um novo ofício, dessa vez ao comandante do 1º Distrito Naval. Segundo o procurador responsável pelo caso, a apuração deveria se estender a cadeia de comando superior.
No último dia 5, o MPF fez os questionamentos sobre a situação no CIAA ao vice-almirante Arthur Fernando Bettega Corrêa, maior autoridade da Marinha nos estados do Rio e Espírito Santo.
De acordo com o documento, o procurador informou que a resposta do comandante da unidade militar "despertou dúvidas quanto à persistência desses militares (que testaram positivo para a Covid) no convívio com os demais não contaminados".
O vice-almirante tem até o dia 15 de abril para enviar uma resposta ao MPF.
O que diz a Marinha
Procurada pela equipe do G1, a Marinha informou que realizou um planejamento para a condução de suas atividades de ensino.
"O plano elaborado pelo CIAA prevê orientações e determinações para o corpo discente e a tripulação, bem como uma série de medidas sanitárias e de saúde, além de procedimentos de desinfecção, higienização, triagem, aferição de temperatura, sendo observadas, ainda, medidas de distanciamento social e todos os protocolos clínicos e terapêuticos divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a fim de preservar a saúde de todos os seus integrantes", dizia um trecho da nota.
A Marinha informou também que "vem realizando o revezamento no regresso dos alunos dos cursos ministrados naquele estabelecimento de ensino".
A instituição militar disse ainda que todos os alunos realizaram teste de Covid no início do ano letivo.
"Aqueles militares com suspeita de exposição ao novo coronavírus ou com quaisquer sinais da doença realizam novos testes e, caso haja a confirmação da contaminação, são tratados conforme as orientações do Ministério da Saúde."
MPF investiga
A situação de militares aglomerados durante cursos do CIAA chegou ao Ministério Público Federal, que decidiu cobrar explicações do comandante da unidade da Marinha, o contra-almirante Alexander Reis Leite.
O chefe da unidade militar respondeu ao procurador da República do Rio de Janeiro Fábio de Lucca Seghese que o CIAA segue o Plano de Atividades para Acompanhamento da Evolução da Pandemia no Brasil e na Família Naval.
Segundo o comandante, o planejamento tem o propósito de orientar a progressão das atividades e a manutenção da capacidade operacional da unidade militar.
"No âmbito desta Organização Militar foram elaborados memorandos, onde contêm as informações sobre o retorno das aulas com os protocolos a serem adotados contra a Covid-19. Adicionalmente, houve a implementação de regras a serem cumpridas pelos militares do comando do corpo de alunos e pelo próprio corpo de alunos, em função de medidas de enfrentamento adotadas", disse o contra-almirante.
Em sua resposta ao MPF, o comandante ainda ressaltou que os marinheiros são obrigados a utilizar máscaras de proteção e que, entre outras regras citadas para o controle da pandemia, estariam a aferição de temperatura, disponibilização de álcool em gel, desinfecções de espaços comuns e distanciamento de um a dois metros uns dos outros a fim de evitar aglomerações.
Casos de Covid
No documento enviado ao Ministério Público Federal, o comando do CIAA diz também que, em 2021, foram realizados 4.052 testes de Covid, com 207 militares apresentando resultados positivos para a doença.
Segundo a unidade, "todos foram imediatamente afastados de suas atividades por, pelo menos, dez dias, orientados e medicados conforme a necessidade do quadro clínico".
Em todo o ano de 2020, foram contabilizados 1.548 casos suspeitos, dentre estes 274 militares testaram positivo para o coronavírus.
Diante das alegações, o MPF decidiu encaminhar um novo ofício, dessa vez ao comandante do 1º Distrito Naval. Segundo o procurador responsável pelo caso, a apuração deveria se estender a cadeia de comando superior.
No último dia 5, o MPF fez os questionamentos sobre a situação no CIAA ao vice-almirante Arthur Fernando Bettega Corrêa, maior autoridade da Marinha nos estados do Rio e Espírito Santo.
De acordo com o documento, o procurador informou que a resposta do comandante da unidade militar "despertou dúvidas quanto à persistência desses militares (que testaram positivo para a Covid) no convívio com os demais não contaminados".
O vice-almirante tem até o dia 15 de abril para enviar uma resposta ao MPF.
O que diz a Marinha
Procurada pela equipe do G1, a Marinha informou que realizou um planejamento para a condução de suas atividades de ensino.
"O plano elaborado pelo CIAA prevê orientações e determinações para o corpo discente e a tripulação, bem como uma série de medidas sanitárias e de saúde, além de procedimentos de desinfecção, higienização, triagem, aferição de temperatura, sendo observadas, ainda, medidas de distanciamento social e todos os protocolos clínicos e terapêuticos divulgados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo Ministério da Saúde e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a fim de preservar a saúde de todos os seus integrantes", dizia um trecho da nota.
A Marinha informou também que "vem realizando o revezamento no regresso dos alunos dos cursos ministrados naquele estabelecimento de ensino".
A instituição militar disse ainda que todos os alunos realizaram teste de Covid no início do ano letivo.
"Aqueles militares com suspeita de exposição ao novo coronavírus ou com quaisquer sinais da doença realizam novos testes e, caso haja a confirmação da contaminação, são tratados conforme as orientações do Ministério da Saúde."