Adriana Moysés | rfi
A iniciativa do texto partiu do capitão Jean-Pierre Fabre Bernadac, de 70 anos, que abandonou o uniforme em 1987 e depois se converteu em agente de segurança de um grupo de luxo, observa o jornal liberal L'Opinion. A publicação destacou em sua manchete: "Exército e extrema direita: militares da reserva sonham com uma insurreição".
Marine Le Pen © AP - Michel Spingler |
O documento foi publicado no dia em que o "Golpe dos generais" de 21 de abril de 1961, também chamado de "Golpe de Argel", completou 60 anos. Na época, um grupo de militares, liderados por quatro generais, tentou dar um golpe de Estado contra o então presidente Charles de Gaulle por ele ter decidido abrir mão da colonização da Argélia.
A carta, que recebeu o apoio da presidenciável Marine Le Pen, diz textualmente: “Estamos prontos para apoiar políticas que levem em consideração a salvaguarda da nação. Por outro lado, se nada for feito, a frouxidão continuará a se espalhar inexoravelmente na sociedade, acabando por causar uma explosão e a intervenção de nossos companheiros ativos em uma missão perigosa para proteger nossos valores civilizacionais.”
Em suma, as Forças Armadas se engajariam contra a "desintegração" do país para a "erradicação dos perigos" que o ameaçam, como o "islamismo, as hordas dos subúrbios, um certo antirracismo”, prossegue o texto. A carta também defende “os franceses de coletes amarelos que expressam seu desespero”.
Ministra das Forças Armadas defende punição aos assinantes da carta
A ministra das Forças Armadas, Florence Parly, defende sanções contra os militares que desrespeitaram o dever de reserva, incluindo os vinte generais signatários do documento. Ela se refere à iniciativa como "irresponsável" e defende também a punição dos soldados ativos que aderiram ao manifesto. "Pedi ao chefe do Estado-Maior que aplicasse as regras que estão previstas no estatuto dos militares, ou seja, as sanções", disse a ministra em entrevista à rádio France Info.
Entre os generais signatários do texto figura Christian Piquemal, já punido em 2019 por participar de uma manifestação em Calais (norte) contra a "islamização da Europa". Mas nenhum general cinco estrelas do Exército endossou a ameaça.
Em seu editorial, a rádio France Inter nota que o texto propaga o mesmo estilo de ideias defendido pelo jornalista Éric Zemmour. "A França declina sob a ameaça de perigos mortais (...) e de uma guerra racial que está por vir no contexto da teoria da grande substituição", que faz sucesso entre nacionalistas de extrema direita. A "grande substituição" é uma teoria da conspiração da extrema direita sobre o desaparecimento dos "povos europeus", "substituídos", segundo os defensores desta teoria, por populações não europeias imigrantes.
Marine Le Pen diz compartilhar a "aflição" manifestada pelos militares franceses, que devem "se levantar para salvar o país". A um ano da eleição presidencial, a candidata convida "os patriotas" a se unir a ela nesta "batalha pacífica".
Em seu editorial político matinal desta terça-feira, a rádio France Inter diz que Marine Le Pen defende "o separatismo institucional". "Ela pretende dirigir a República, mas enquanto simples candidata já elimina as fronteiras entre o civil e o militar, entre um eleito e um soldado", escreve o jornalista Yael Goosz. "Falta de lucidez, amadorismo, busca de votos na direita dura?", indaga o jornalista. Sem dúvida, um pouco de tudo isso.