Sputnik
Na entrevista à Sputnik, Lavrov ressaltou a necessidade de mudança de postura dos EUA no plano internacional, afirmando que quaisquer tentativas de Washington de estabelecer diálogo com Moscou seriam infrutíferas caso a Casa Branca não desista de suas ambições hegemônicas.
"Vou dizer de novo, a menos que os Estados Unidos deixem de lado suas ambições hegemônicas, como disse o presidente [russso Vladimir Putin] em seu discurso à Assembleia Federal, a menos que percebam a futilidade de todas as tentativas de reviver um mundo unipolar, criar algum tipo de estrutura onde todos estarão subordinados aos países ocidentais [...] e a menos que eles conduzam um diálogo conosco, como com qualquer país, de uma forma mutuamente respeitosa com base em um equilíbrio de interesses que deve ser encontrado, não teremos sucesso", disse Lavrov.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia ressaltou que Moscou está pronta para agir caso suas chamadas "linhas vermelhas" sejam cruzadas.
"Claro, vamos reagir duramente a qualquer tentativa de cruzar nossas 'linhas vermelhas', que, como você sabe, nós mesmos estabelecemos", observou Lavrov.
Na semana passada, em seu discurso anual diante da Assembleia Federal, o parlamento russo, Putin expressou esperança de que ninguém ouse cruzar as "linhas vermelhas" nas relações com a Rússia, observando que onde essas "linhas vermelhas" se encontrarão será algo determinado por Moscou, em cada caso específico. Putin também advertiu que quem realizar provocações contra o país se arrependerá amargamente.
"A Rússia terá paciência e profissionalismo relativamente a quaisquer medidas de resposta", disse Putin durante o discurso.
Possível encontro com Blinken
Lavrov também afirmou à Sputnik que participará da próxima reunião ministerial do Conselho do Ártico, em maio deste ano, acrescentando que está pronto para manter diálogo no evento com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, caso o diplomata manifeste interesse.
"Em três semanas, a Rússia assumirá a presidência do Conselho do Ártico na Islândia. Uma reunião ministerial está planejada em Reiquiavique [...]. Se a delegação dos EUA for chefiada pelo secretário de Estado, certamente estarei pronto para falar com ele, se ele estiver interessado. Dado que estamos assumindo a presidência do Conselho do Ártico por dois anos, já disse aos nossos colegas islandeses que participarei desta reunião ministerial", disse o chanceler russo.
Lavrov acrescentou que a Rússia ainda não recebeu nenhum sinal de que Washington está pronta para cooperar com Moscou de maneira construtiva em uma série de eventos multilaterais.
"As empresas norte-americanas e russas estão interessadas em expandir a cooperação, como nos disse recentemente a Câmara de Comércio e Indústria Russo-Americana. Acabamos dizendo que haveria algum tipo de evento multilateral à margem de outros. No entanto, até agora, nenhum sinal foi recebido dos Estados Unidos", disse Lavrov.
Lavrov cita 'esquizofrenia' dos EUA e risco de retorno da 'Guerra Fria'
Em abril, a secretária de imprensa da Casa Branca, Jen Psaki, disse que o objetivo de Washington com as sanções contra a Rússia não é de aumentar as tensões bilaterais, mas impor custos a Moscou por suas atividades. Comentando o contexto da situação, o chanceler russo classificou as declarações de representantes da Casa Branca sobre as sanções contra a Rússia como "esquizofrenia".
"Em algum lugar há até notas esquizofrênicas nas declarações de algumas figuras em Washington. Recentemente, uma porta-voz da Casa Branca disse que as sanções continuarão contra a Rússia, que as sanções terão aproximadamente o efeito que Washington esperava, e que o propósito das sanções é reduzir as tensões nas relações entre os Estados Unidos e a Rússia", apontou o chanceler Lavrov em entrevista à Sputnik.
O chefe da diplomacia russa também afirmou que "tais declarações não honram aqueles que defendem" a redução das tensões na Casa Branca. Além disso, Lavrov citou o risco de que as relações bilaterais Moscou-Washington possam retornar a uma era de "Guerra Fria", caso os EUA rejeitem o diálogo.
"Isso significa que viveremos em condições, como você disse, de 'Guerra Fria' ou em condições ainda piores", disse Lavrov.
Moscou pede clareza sobre encontro Biden-Putin
No início de abril, Putin e o presidente norte-americano, Joe Biden, mantiveram uma conversa por telefone para discutir as relações bilaterais durante as quais o presidente dos EUA propôs ao líder russo realizar um encontro presencial em um país terceiro, em um futuro próximo.
Segundo Lavrov, Moscou ainda espera saber mais sobre a proposta dos EUA de realizar o encontro, ressaltando que a ideia foi recebida de forma positiva em Moscou.
"Você sabe que o presidente Putin reagiu à proposta do presidente dos EUA de realizar uma reunião. Aceitamos isso positivamente. Queremos entender todos os aspectos por trás dessa iniciativa e estamos estudando ela agora", disse Lavrov.
A proposta veio dos EUA após um imbróglio criado por declarações de Biden sobre Putin e a Rússia. Em março, Biden disse em uma entrevista à ABC News que Putin "pagaria um preço" pela suposta interferência nas eleições presidenciais de 2020 nos EUA. Além disso, Biden respondeu afirmativamente quando questionado se considerava Putin um "assassino".
Para Lavrov, tais declarações de Biden foram "excessos" e os EUA devem levar em consideração a estabilidade mundial.
"Se falarmos sobre a visão estratégica de nossas relações, então espero muito que Washington, como nós, perceba a responsabilidade pela estabilidade estratégica no mundo. Não apenas os problemas da Rússia e dos Estados Unidos, não apenas os problemas que complicam significativamente a vida dos nossos cidadãos, os seus contatos, a comunicação, os projetos empresariais e humanitários, mas também os problemas que colocam graves riscos à segurança internacional no sentido mais aberto da palavra. Por isso, sabem como reagimos aos excessos que vieram na entrevista já bem conhecida de Joe Biden para a ABC", disse Lavrov à Sputnik.
Rússia pronta para retornar às relações 'normais' com os EUA
Lavrov também comentou sobre o estado das relações bilaterais entre a Rússia e os EUA, e salientou que provavelmente elas já teriam sido normalizadas se isso dependesse apenas de Moscou.
"Se tudo dependesse de nós, provavelmente teríamos voltado às relações normais", disse o chanceler russo.
O chefe da diplomacia russa afirmou ainda que o primeiro passo para a normalização das relações bilaterais seria o levantamento mútuo das restrições aos diplomatas de Moscou e Washington, acrescentando que a Rússia fez essa oferta ao governo Biden assim que o novo presidente dos EUA assumiu o cargo.
"Como um primeiro e, na minha opinião, óbvio passo, nós anularíamos todas as medidas restritivas postas sobre os diplomatas russos nos EUA. Em resposta, nós restringimos o trabalho dos diplomatas na Rússia. Nós fizemos essa oferta à administração Biden assim que ele assumiu o poder", observou Lavrov.