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O Ministério das Relações Exteriores do Irã confirmou que a embarcação iraniana MV Saviz foi atacada no mar Vermelho.
"A explosão ocorreu na terça-feira (6) de manhã perto da costa de Djibuti e causou pequenos danos sem vítimas. A embarcação era um navio civil estacionado na região para proteger o entorno contra piratas", disse o porta-voz da chancelaria iraniana, Saeed Khatibzadeh, nesta quarta-feira (7), adicionando que o incidente "está sendo investigado".
A declaração do Ministério das Relações Exteriores do Irã vem depois de que a emissora estatal iraniana, citando fontes estrangeiras, informou hoje (7) que o navio Saviz foi, provavelmente, atacado por um míssil.
Um jornalista de defesa da agência Tasnim, citando fontes, relatou que o cargueiro, o qual autoridades dos EUA, de Israel e da Arábia Saudita, bem como os meios de comunicação social, afirmaram anteriormente que poderia ser uma base avançada secreta do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC, na sigla em inglês) ou uma embarcação de recolha de informação, foi danificado em uma explosão de minas limpet.
Fontes anônimas dos EUA citadas pelo The New York Times revelaram que o navio Saviz foi danificado abaixo da linha d'água. A ação israelense teria sido uma resposta a anteriores ataques iranianos contra embarcações de Israel, de acordo com a mídia.
O Comando Central das Forças Armadas dos EUA também emitiu um comunicado, dizendo que Washington estava ciente do incidente, mas negou a possibilidade de participação de forças americanas na ação.
"Podemos confirmar que nenhuma força dos EUA está envolvida no incidente. Não temos informações adicionais para fornecer", segundo o comunicado citado pela AP.
Os funcionários anônimos norte-americanos falando com a agência Reuters negaram qualquer papel no incidente.
Tel Aviv foi acusada da explosão em vários canais da rede social Telegram, dirigidos por membros do IRGC, enquanto ainda não há nenhum comentário oficial.
'Nave-mãe iraniana'
Teerã descreveu anteriormente o navio de carga MV Saviz como engajado em apoiar os esforços "antipirataria" no mar Vermelho e via marítima internacional através do estreito de Bab el-Mandeb.
Os dados de localização dos navios mostram que a embarcação, propriedade do Grupo de Linhas de Navegação da República Islâmica do Irã ligado ao estado iraniano, entrou no mar Vermelho no final de 2016.
Desde então, Saviz se afastou do arquipélago Dahlak e foi sugerido que recebia reposição de consumíveis e mudaria de tripulação através da passagem de navios iranianos.
A empresa de inteligência ImageSat, citada pelo The Times of Israel, afirmou que o navio mal se moveu nos últimos dois anos.
O Saviz foi chamado de "nave-mãe iraniana" na região pelo Instituo de Washington da Política do Próximo Oriente (WINEP, na sigla em inglês). O instituto insistia que o navio servia como base de recolha de informações e arsenal para o IRGC, sem fundamentar suas alegações.
Um material informativo militar da Arábia Saudita citado pela AP revelou que homens vestidos com camuflagem e uniformes em estilo militar foram vistos na embarcação iraniana.
Os analistas militares sauditas consideraram "incomuns" as antenas eletrônicas de vigilância para um cargueiro supostamente vistas nas imagens citadas. Os barcos pequenos foram vistos perto do cargueiro, capazes de transportar carga para a costa iemenita.
Embarcação sob sanções
Antes do acordo nuclear de 2015, conhecido como Plano de Ação Conjunto Global (JCPOA, na sigla em inglês) o navio de carga MV Saviz estava sob sanções internacionais. O JCPOA assinado pelo Irã e P5+1 (China, França, Alemanha, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos) em 14 de julho de 2015 requer de Teerã a redução de seu programa nuclear e a diminuição severa de suas reservas de urânio em troca do alívio de sanções, incluindo o cancelamento do embargo de armas cinco anos após a adoção do acordo.
No entanto, o então presidente norte-americano, Donald Trump, retirou o país do acordo e retomou a política de sanções contra Teerã. Como a parte de sua decisão unilateral de sair do acordo, a administração Trump renovou as sanções norte-americanas contra o Saviz.
Tensões marítimas
O incidente com o navio Saviz ocorre em meio às tensões marítimas entre Irã e Israel. Ambos os países se acusam mutuamente de atacarem os navios um do outro.
No final de março, a mídia israelense informou que um navio seu foi atingido por um míssil iraniano no mar Arábico. O incidente anterior em fevereiro envolveu a embarcação sob comando israelense MV Helios Ray.
Uma explosão atingiu um cargueiro com bandeira das Bahamas no golfo de Omã. O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, acusou o Irã do ataque. Por sua vez, Teerã rapidamente negou a acusação, classificando-a como uma "operação de bandeira falsa".
Enquanto isso, o Irã acusou Israel por uma série de ataques, inclusive uma explosão no verão passado que destruiu uma fábrica de montagem de centrífugas em sua instalação nuclear de Natanz.
O assassinato de Mohsen Fakhrizadeh, um cientista iraniano que fundou o programa nuclear militar da República Islâmica do Irã há duas décadas, também foi atribuído a Israel pelas autoridades iranianas.
O desenrolar atual da situação surge no contexto das negociações em curso em Viena sobre o JCPOA, o qual Israel é contra.
"Não pode haver retorno ao acordo nuclear anterior. Temos de seguir uma política intransigente para garantir que o Irã não desenvolva armas nucleares", segundo o discurso do primeiro-ministro israelense no ano passado.
O Irã espera usar as negociações em Viena para reiterar as condições de Teerã e regressar ao pleno cumprimento do acordo nuclear, assim que os Estados Unidos suspendam suas sanções.