Deutsch Welle
A Alemanha acompanhará os Estados Unidos na retirada de tropas do Afeganistão, comunicou a ministra da Defesa alemã, Annegret Kramp-Karrenbauer, em uma entrevista nesta quarta-feira (14/04). E o Reino Unido deve seguir os planos dos aliados americanos e alemães, segundo relatos da imprensa britânica.
O que era para ser apenas uma curta intervenção para estabilizar um país dilacerado se transformou em 20 anos de estadia |
"Sempre dissemos que entramos juntos e saímos juntos", disse a ministra da Defesa em entrevista à emissora pública alemã ARD. "Defendo uma retirada ordenada e espero que decidamos isso hoje na Otan." Kramp-Karrenbauer afirmou à ARD que uma decisão da Otan nesse sentido virá após uma sessão especial da chamada reunião de Diálogo de Segurança Quadrilateral (Quad), um fórum estratégico informal entre EUA, Japão, Austrália e Índia.
O anúncio de Kramp-Karrenbauer foi feito após relatos de que o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciará ainda nesta quarta-feira a retirada completa de tropas americanas do território afegão em 11 de setembro. Agências de notícias divulgaram trechos do discurso de Biden, no qual ele afirma que chegou a hora de acabar com a guerra mais longa da história dos EUA.
"Não podemos continuar o ciclo de estender e expandir nossa presença militar no Afeganistão na esperança de criarmos as condições ideias para nossa retiradas, esperando um resultado diferente", diz trecho do discurso de Biden. "Eu sou agora o quarto presidente americano a presidir a presença de tropas americanas no Afeganistão. Dois republicanos. Dois democratas. Não vou passar essa responsabilidade para um quinto."
Reino Unido segue passos e EUA perdem prazo
O Reino Unido deve seguir os passos dos EUA e da Alemanha e retirar seus cerca de 750 soldados do Afeganistão, segundo relato do diário britânico The Times. O jornal citou fontes que alegaram que "eles [os britânicos] teriam dificuldades sem o apoio americano por causa da dependência das bases e da infraestrutura dos EUA".
A retirada das tropas americanas em setembro fará com que os EUA não respeitem o prazo de maio para a saída acertada pelo governo do ex-presidente Donald Trump com o Talibã. Em fevereiro de 2020, os EUA e o Talibã assinaram um "acordo para a paz", no qual os americanos concordaram em retirar todas suas tropas em 14 meses se os militantes talibãs mantiverem o acordo.
O Talibã não cumpriu sua parte do compromisso e ainda ameaçou retomar as hostilidades contra tropas estrangeiras que ainda estiverem no Afeganistão a partir do 1º de maio.
Um funcionário do governo americano relatou a repórteres que se o Talibã atacar tropas dos EUA durante uma ação de retirada "eles terão uma resposta enérgica". Biden havia decidido que uma retirada acelerada e precipitada colocaria os cerca de 2.500 soldados em risco e que esta não seria uma opção viável, acrescentou o funcionário.
A longa missão da Alemanha no Afeganistão
Soldados da Bundeswehr – as Forças Armadas da Alemanha – foram informados em 2001 de que sua missão não era de combate, mas de uma curta intervenção destinada apenas a estabilizar um país isolado e dilacerado pela guerra, e no qual Osama bin Laden, fundador da organização terrorista Al Qaeda e idealizador dos ataques de 11 setembro, estavam se escondendo na época.
Vinte anos depois, cerca de 1.300 soldados alemães ainda estão destacados no Afeganistão. A Alemanha participa de uma missão liderada pela Otan para treinar as forças afegãs de defesa nacional. A retirada militar em setembro encerraria esta missão. Ao todo, 59 militares alemães morreram no Afeganistão em 20 anos de intervenção.
Na terça-feira, o Talibã anunciou que não participará de uma cúpula sobre o futuro do Afeganistão, agendada para ser realizada na Turquia no final deste mês, até que todas as forças estrangeiras tenham deixado o país.
"Até que todas as forças estrangeiras tenham se retirado completamente de nossa pátria, não participaremos de nenhuma conferência que tome decisões sobre o Afeganistão", divulgou Mohammad Naeem, porta-voz do escritório do Talibã no Catar, em uma mensagem no Twitter.