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O presidente Jair Bolsonaro demitiu o empresário Fabio Wajngarten da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência. Para seu lugar, conforme informado nesta quinta-feira (11/03) pelo governo, foi escolhido um militar: o almirante Flávio Rocha.
Wajngarten ao lado do presidente Bolsonaro em 2019 |
O almirante é atual chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e deve acumular ambas as funções. A Secom é responsável, entre outras coisas, pela comunicação social e os contratos publicitários do governo.
A saída de Wajngarten vinha sendo antecipada pela imprensa brasileira. Bolsonaro vinha demonstrando insatisfação com o empresário devido à sua política de comunicação durante a pandemia.
A secretaria de Wajngarten já havia perdido autonomia em junho passado, com a recriação do Ministério da Comunicação. Entregue ao deputado Fábio Faria (PSD-RN), genro do empresário Silvio Santos e membro do "Centrão", a pasta incorporou as funções da Secom e passou a ser responsável pelo controle e distribuição das verbas publicitárias do governo.
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, foi Faria o responsável por articular a ida do almirante para a Secom. A troca, assim, não significaria uma militarização da comunicação, apesar de Rocha ser militar da ativa.
Nos últimos dois anos, Bolsonaro dobrou a presença de militares em posições estratégicas em ministérios e cargos comissionados.
Além de escolher como vice o general Hamilton Mourão, dos 21 ministros de Bolsonaro, nove são das Forças Armadas. Além dos postos no alto escalão, do início de seu mandato até julho de 2020, o presidente tinha aumentado em 33% a presença de militares da ativa no governo, com mais de 2.500 integrantes em cargos comissionados em 18 órgãos.
Desgaste de Wajngarten
O publicitário Fabio Wajngarten era considerado um amigo dos filhos do presidente e é ligado ao que ficou conhecida como a "ala ideológica" do governo. Ele foi diagnosticado com covid-19 na comitiva presidencial que viajou aos EUA e retornou com vários infectados.
Wajngarten vinha passando nos últimos meses por processo de desgaste. Segundo a imprensa brasileira, já não desfrutava do mesmo prestígio junto à família do presidente, e seu relacionamento com o ministro Faria nunca foi bom. O estilo explosivo do secretário, além disso, não agrada a outros integrantes do governo.
Faria tem uma sala no Palácio do Planalto, ao lado da ocupada por Wajngarten, e aumentou sua influência no governo. O ministro faz a interlocução com a imprensa, o que nunca foi prioridade para Wajngarten. Publicitário, ele tem um foco maior na área de propaganda oficial.
O perfil de Rocha é considerado o oposto do de Wajngarten, que entrou em confronto com jornalistas e integrantes do Planalto. O almirante é ex-chefe da Comunicação da Marinha e viajou junto com Fábio Faria para Suécia, Finlândia, Coreia do Sul, Japão e China, para conhecer empresas de tecnologia 5G.
Foi Rocha, por exemplo, que articulou a aproximação de Bolsonaro com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, com um jantar em sua casa, oferecido ao embaixador argentino.
Um dos últimos atos de Wajngarten no cargo foi integrar a delegação brasileira que, liderada pelo chanceler Ernesto Araújo, foi a Israel conhecer o spray nasal contra a covid-19, um medicamento ainda em fase inicial de testes.