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Os mísseis balísticos intercontinentais Minuteman III, que por meio século foram uma das principais armas de dissuasão nuclear dos EUA, não podem mais ser atualizados e requerem substituições caras, afirmou na terça-feira (5) o almirante Charles Richard, chefe do Comando Estratégico (STRATCOM, na sigla em inglês) norte-americano.
Míssil balístico intercontitental Minuteman III é visto na base aérea de Minot, nos EUA © AP PHOTO / CHARLIE RIEDEL |
"Deixe-me ser muito claro: você não pode estender a vida do Minuteman III [por mais tempo] […]. Não podemos fazer nada. […]. Aquilo é tão antigo que, em alguns casos, os desenhos não existem mais [para orientar as atualizações]", reconheceu Richard sobre os 400 mísseis balísticos intercontinentais (ICBM, na sigla em inglês) que ficam em silos subterrâneos no país durante uma conferência, citada pelo portal Military.
Richard continuou explicando que onde os desenhos existem, "eles estão seis gerações atrás do padrão da indústria [hoje]", acrescentando que também não há técnicos que compreendam totalmente as orientações. "Eles não estão mais vivos."
O almirante ressalta que com os novos mísseis balísticos intercontinentais estratégicos de dissuasão terrestre (GBSD, na sigla em inglês), "substituiremos um sistema de comutação de circuito basicamente de 60 anos por um sistema de comando e controle moderno e cibernético de acordo com os padrões atuais".
Todavia, o jornal The Wall Street Journal afirma que entre os programas que o presidente eleito Joe Biden deverá rever estão o do GBSD, que visa substituir o Minuteman III.
Rússia, China e a postura nuclear dos EUA
Ao avaliar a eficácia da dissuasão nuclear dos EUA, Richard alertou sobre as capacidades crescentes da Rússia e da China e os desafios futuros para os EUA.
"O que é diferente no mundo hoje do que era, digamos, na Guerra Fria [é o fato de que] esta nação nunca teve de enfrentar a perspectiva de dois adversários quase iguais e com capacidade nuclear que precisam ser dissuadidos de maneiras diferentes. […]. As ações feitas para dissuadir um têm impacto sobre o outro. Isso é muito mais complicado do que costumava ser", afirmou o chefe do STRATCOM.
Os EUA também devem lidar com as visões de mundo divergentes do presidente russo Vladimir Putin e do presidente chinês Xi Jinping, disse Richard: "Putin toma decisões de maneira diferente de Xi".
Em 2018, os EUA pediram um aumento de verba para capacitar a tríade nuclear. A tríade nuclear é a capacidade operacional de um arsenal nuclear estratégico, que possui três componentes: mísseis balísticos intercontinentais terrestres, bombardeiros estratégicos e mísseis balísticos lançados por submarinos.
A revisão da postura nuclear foi conduzida pelo então secretário de Defesa Jim Mattis, por ordem do presidente Donald Trump, e pediu uma modernização de US$ 1,2 trilhão (aproximadamente R$ 6,4 trilhões) da tríade nuclear, com uma estimativa de US$ 85 bilhões (R$ 454 bilhões) indo para o novo sistema de mísseis GBSD.
Uma das recomendações controversas da revisão foi um apelo para o desenvolvimento de armas nucleares de pequeno porte a serem colocadas em submarinos balísticos para conter o estoque de armas de pequeno porte da Rússia.
Richard afirmou que espera uma conversa com o governo Biden sobre armas de pequeno porte como parte de uma nova revisão da missão de dissuasão nuclear.
"Dou boas-vindas a um exame da estratégia da nação até aqui. […]. Eu recomendo isso, com base na ameaça. A ameaça está se movendo tão rápido que, mesmo considerando o [curto] tempo desde a última revisão da postura nuclear, merece uma outra análise para ter certeza de que ainda endossamos nossa estratégia e temos capacidade suficiente para executar essa estratégia", disse o almirante, que concluiu garantindo que o STRATCOM está "preparado para executar qualquer coisa que a liderança política desta nação queira fazer".