Por Gerson Camarotti | G1
Ao blog, o vice-presidente Hamilton Mourão reforçou a fala do comandante do Exército, Edson Pujol, que nesta quinta-feira (12) afirmou que os militares não querem "fazer parte da política, muito menos deixar a política entrar nos quartéis".
Ao blog, o vice-presidente Hamilton Mourão reforçou a fala do comandante do Exército, Edson Pujol, que nesta quinta-feira (12) afirmou que os militares não querem "fazer parte da política, muito menos deixar a política entrar nos quartéis".
Vice-presidente Hamilton Mourão | Divulgação |
Para Mourão, a política nos quartéis acaba com a disciplina e com a hierarquia.
"[Pujol] verbalizou o nosso modo de pensar. Não admitimos política nos quartéis, pois isso acaba com os pilares básicos da instituição, a disciplina e a hierarquia", disse Mourão.
Pujol deu a declaração durante uma transmissão ao vivo promovida pelo Instituto para a Reforma das Relações entre Estado e Empresa.
Generais da ativa e da reserva ouvidos pelo blog viram a manifestação pública do comandante do Exército como um alerta de insatisfação das Forças Armadas em relação aos movimentos para politizar e enfraquecer a imagem da instituição por parte do presidente Jair Bolsonaro.
A fala foi vista também como um limite para os próprios movimentos do Palácio do Planalto.
Questionado pelo blog se o comandante Pujol colocou um limite para a tentativa de politização dos quartéis, o general Santos Cruz, ex-ministro da Secretaria de Governo, foi direto:
“O Pujol foi preciso. Esse é o Exército Brasileiro. Política não pode contaminar a instituição. Ele falou o que é seguido no Exército por muito tempo. Seguiu a linha-mestra do Exército.”
De forma reservada, outro general resumiu da seguinte forma a manifestação de Pujol: “Era mesmo preciso limitar um Rubicão” (referência ao rio do Império Romano que delimitava até onde um general poderia avançar com suas tropas, para não ameaçar a capital).
Nos quadros da ativa, a fala do comandante foi vista da mesma forma. “Algo diferente disso é que seria de espantar”, disse um general, lembrando que no ano passado o Exército publicou uma portaria que proíbe manifestação política nas redes sociais.
“Isso não foi notado com a devida importância, mas tem sido fundamental para sinalizar que a lei e a ética valem em qualquer ambiente, particularmente no das mídias sociais. Foi mais uma 'reafirmação', porque tinha gente pensando que a internet era terra de ninguém”, completou esse general.
Integrantes do alto escalão das Forças Armadas avaliam como perigosas manifestações do presidente que possam estimular quebra de hierarquia, um dos pilares fundamentais da organização dos militares.
Manifestações constantes de Bolsonaro têm causado grande mal-estar entre militares. A mais recente foi a bravata em tom de ameaça aos Estados Unidos. Bolsonaro disse que, quando acaba a "saliva" da diplomacia, tem a "pólvora". O Brasil se transformou em motivo de piada internacional pelo episódio.
Em abril, Bolsonaro chegou a participar de ato em frente ao quartel-general do Exército em que manifestantes pediam a intervenção militar, gerando constrangimento para as Forças Armadas.
Em recente artigo publicado no jornal "Correio Braziliense", o ex-porta-voz da Presidência, general Otávio do Rêgo Barros, fez críticas que foram interpretadas nas Forças Armadas como um recado indireto ao próprio presidente Bolsonaro.
Ele escreveu que o poder “inebria, corrompe e destrói”. No texto, Barros também criticou auxiliares presidenciais que se comportam como “seguidores subservientes”.
A preocupação nas Forças Armadas, principalmente no Exército, voltou a crescer recentemente com dois episódios que causaram grande desgaste para a imagem dos militares.
Ao blog, um general da reserva alertou que na gestão Bolsonaro os militares estão sofrendo uma espécie de humilhação pública.
O primeiro episódio envolveu pessoalmente o presidente Jair Bolsonaro, que desautorizou publicamente e depois enquadrou o seu ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, um general três estrelas da ativa.
Pazuello teve que se retratar pelo acordo para comprar vacinas contra o novo coronavírus produzidas pelo Instituto Butantan com tecnologia chinesa.
Na sequência, o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, um general quatro estrelas que entrou para a reserva recentemente, foi rotulado publicamente nas redes sociais como “Maria Fofoca” pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
O próprio tratamento público de Bolsonaro ao vice-presidente Hamilton Mourão, um general quatro estrelas, tem causado contrariedade entre os militares.
Por ser “indemissível”, como bem ressaltou Bolsonaro, Mourão tem feito muitas vezes um contraponto ao próprio presidente.