Paulo Beraldo | O Estado de S.Paulo
Um dia depois de o presidente Jair Bolsonaro dizer que "quando acaba a saliva, tem que ter pólvora" em referência ao presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, o Estadão fez um comparativo do poderio militar que poderia ser usado imediatamente pelos dois países.
O presidente brasileiro é um dos líderes mundiais que ainda não reconheceu a vitória de Biden - ao seu lado estão nomes como o russo Vladimir Putin, o mexicano López-Obrador e o norte-coreano Kim Jong-Un.
"Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado dizer que se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que nós podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, né, Ernesto (Araújo, chanceler). Porque quando acabar a saliva, tem que ter pólvora, se não, não funciona. Precisa nem usar a pólvora, mas precisa saber que tem", afirmou Bolsonaro em evento na terça à tarde.
Horas depois da declaração do presidente, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, publicou em seu Twitter um vídeo exaltando o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA.
Questionada, a assessoria de imprensa da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília afirmou nesta quarta que o vídeo não tem relação com o presidente Jair Bolsonaro. "O vídeo do Corpo de Fuzileiros Navais de ontem, em produção há mais de uma semana, foi publicado para comemorar o aniversário do Corpo de Fuzileiros Navais, não para qualquer outro propósito".
De acordo com o ranking realizado pelo site Global Firepower, os EUA investem US$ 750 bilhões em Defesa. No Brasil, o investimento estimado é de US$ 27,8 bilhões, em uma diferença que se traduz em números, estrutura, força e capacidade de poder.
Os EUA detêm cerca de 5.800 armas nucleares - o Brasil não tem nenhuma. Os americanos têm cerca de 715 caças de combate, enquanto o Brasil tem 78. As Forças Armadas dos EUA têm ainda 5.768 helicópteros e 6.289 tanques - por aqui, são 242 e 437, respectivamente.
Ainda por terra, os EUA têm 39.253 veículos blindados de combate e 1.366 lançadores de foguete - no Brasil, são 1.820 e 84. No mar, os EUA têm 20 porta-aviões, 91 destroyers e 66 submarinos. O Brasil não tem nenhum destroyer e tem seis submarinos. O País até tem um porta-aviões, o NAe A-12 São Paulo, mas ele foi desativado em 2017.
"As duas únicas forças armadas no mundo que conseguiriam se contrapor um pouco às Forças Armadas dos EUA seriam a China e Rússia", explica Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM e especialista na área de segurança e defesa (veja mais no vídeo abaixo). "A capacidade e a organização das Forças Armadas dos EUA estão num patamar tão, mas tão elevado, que nenhuma outra no mundo consegue chegar perto".
De acordo com o jornalista Roberto Godoy, especialista do Estadão em Defesa e armamentos, as relações militares entre Brasil e EUA começaram em 1947 e ganharam intensidade com o passar dos anos, com dezenas de acordos entre as duas nações. Para ele, não há sustentação de ordem prática em imaginar qualquer conflito com os Estados Unidos.
"Quando o presidente fala em pólvora, não é a sério. Como militar, ele sabe disso. Está sendo político. Com essa declaração, todo mundo para a fim de avaliar a dimensão do que está dizendo e consegue transferir o foco. No mínimo, consegue dividir a atenção".