France Presse
"Segundo nossos cálculos preliminares, quase 50% da população foi deslocada: 90% dos afetados são mulheres e menores de idade. Falamos de entre 70.000 e 75.000 pessoas", declarou à AFP Artak Belgarian, secretário de defesa dos direitos dos civis em tempos de guerra na autoproclamada República de Nagorno Karabakh.
Policial em meio aos escombros de uma casa em Stepanakert, em meio ao confronto da região de Nagorno-Karabakh, 7 de outubro de 2020 © ARIS MESSINIS |
De acordo com Belgarian, os deslocados encontraram refúgio dentro do território de Karabakh e "em outros locais mais seguros" fora do território, o que os transformou em refugiados.
Nagorno Karabakh tem 140.000 habitantes, 99% deles armênios. As autoridades locais e da Armênia acusam o Azerbaijão, desde o início dos combates em 27 de setembro, de tomar como os civis como alvo, sobretudo em Stepanakert, a cidade mais importante do território, onde vivem quase 50.000 pessoas.
A localidade é alvo de foguetes e projéteis que forçam a população a buscar abrigo nos subsolos, ou fugir de suas casas. Desde sexta-feira, as sirenes ressoam com frequência na cidade, que fica praticamente sem energia elétrica durante a noite.
Na madrugada desta quarta-feira (7), Stepanakert voltou a ser atingida por bombardeios. Durante a manhã, foram registrados ataques com drones. Um morador entrevistado pela AFP afirmou que a noite passada teve os bombardeios mais intensos desde o fim de semana.
Um grupo de casas da parte alta da cidade, perto do Parlamento, foi completamente destruído. Moradores da região afirmaram que a área estava desabitada, e os ataques não deixaram vítimas.
Os moradores acreditam que os impactos foram provocados por foguetes Smerch, grandes projéteis de fabricação soviética e com um alcance de dezenas de quilômetros.
- Acabar com a "tragédia" -
As autoridades do Azerbaijão também afirmam que sua população civil é alvo de ataques armênios, mas não divulgaram dados sobre deslocados.
Os dois lados afirmam que provocaram importantes baixas no inimigo, mas nenhuma força militar conseguiu uma vantagem clara.
O balanço de 287 mortes desde o início das hostilidades parece parcial e é difícil de confirmar. Os azerbaijanos negam terem sofrido baixas entre seus soldados e citam a morte de 28 civis em seu território. Karabakh confirma a perda de 240 militares e 19 civis.
Na terça-feira, (6), o primeiro-ministro da Armênia, Nikol Pashinyan, acusou a Turquia, aliada do Azerbaijão, de ter provocado a guerra por seu "compromisso ativo" no conflito.
Nagorno Karabakh se proclamou independente do Azerbaijão em 1991, o que provocou uma guerra que deixou 30.000 mortos. Desde o cessar-fogo de 1994, há confrontos esporádicos.
As autoridades de Baku se sentem solidamente apoiadas por Ancara, o que levou o presidente azerbaijano, Ilham Aliyev, a rejeitar qualquer proposta de trégua que não inclua a retirada armênia de Karabakh.
O presidente russo, Vladimir Putin, pediu à Armênia e ao Azerbaijão que acabem com o conflito, em sua primeira declaração pública sobre o assunto.
"É uma enorme tragédia. Pessoas estão morrendo, há grandes perdas de ambos os lados. Esperamos que este conflito termine o mais rápido possível", disse Putin em entrevista à televisão pública Rossiya, transmitida pelo Kremlin por ocasião de seu aniversário.
"Se este conflito (que já dura 30 anos) não pode ser resolvido definitivamente, já que estamos longe disso, pelo menos pedimos - insisto - um cessar-fogo. E deve ser concluído o mais rápido possível", disse Putin, que hoje completa 68 anos.
A Rússia mantém boas relações com os dois países beligerantes, aos quais fornece armas. É, porém, mais próxima da Armênia, que integra uma aliança militar controlada por Moscou.
A continuidade do conflito pode ter consequências imprevisíveis pelos muitos interesses e potências presentes no Cáucaso: Rússia, Turquia, Irã e os países ocidentais.