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Na terça-feira (15), o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, disse que o projeto para a construção de um míssil brasileiro capaz de percorrer 300 quilômetros de distância estava em "fase final de desenvolvimento", segundo a agência EBC.
Poder de dissuasão: construído pela Avibrás como parte do projeto Astros, o AV-TM 300 é um míssil de cruzeiro com alcance de 300 quilômetros © FOTO / DIVULGAÇÃO / AVIBRÁS |
O editor do portal InfoDefensa, o jornalista especializado em defesa Roberto Caiafa, explica que "mísseis de cruzeiro são armamentos inteligentes de grande alcance, capazes de atacar e destruir alvos de grande valor para o inimigo". O especialista diz ainda quais são os alvos preferenciais desse tipo de armamento.
"Normalmente destruir o sistema antiaéreo de um inimigo que você vai enfrentar, destruir toda a infraestrutura de geração de energia ou de abastecimento de um país e destruir refinarias de petróleo e toda infraestrutura de processamento de combustível", elencou.
O desenvolvimento do AV-TM 300 faz parte do Projeto Estratégico Astros 2000, lançado em 2011 durante o governo Dilma Rousseff, com orçamento de R$ 45.000.000, para aquisição de um sistema de alta mobilidade capaz de lançar mísseis e foguetes a longa distância.
De acordo com o ministro da Defesa, o principal objetivo do armamento é aumentar o "poder dissuasório" do Brasil e desencorajar ataques inimigos.
'Inimigo sabe que resposta será ampla'
Caiafa diz que a tecnologia e capacidade do míssil de cruzeiro brasileiro realmente tem o poder de intimidar possíveis ações militares.
"[Mísseis de cruzeiro] São armas sofisticadas e capazes de causar um prejuízo militar, econômico e político grande aos adversários. Aí reside o seu maior poder, ter a capacidade de dissuadir qualquer provável adversário de iniciar uma ação militar. Porque o inimigo sabe que sua resposta será ampla, desproporcional e vai causar tamanha destruição nas capacidades do inimigo, que ele chega a conclusão de que é melhor sentar e negociar do que iniciar um conflito", disse.
Míssil teria alcance ainda maior do que 300 km
De acordo com o jornalista, que cita fontes militares, o alcance do AV-TM 300, construído pela companhia nacional Avibrás, pode ser até maior do que os 300 quilômetros que sua terminologia sugere. A sua precisão é de 30 metros.
"O AV-TM 300 empregado pelo Exército brasileiro não tem nenhum tipo de limitação de tratado internacional. Para defesa do Brasil esse míssil pode ter o alcance que nossa ciência e nossas forças entenderem que é o ideal. Portanto, o nosso míssil tem um alcance maior do que 300 quilômetros. O jogo é exatamente esse, deixar qualquer possível adversário fazendo contas de qual seria o alcance do míssil de cruzeiro", afirmou Caiafa.
A expectativa do governo é de que o armamento fique pronto entre 2021 e 2022. Segundo a agência EBC, o míssil vai se somar à família de foguetes Astros, que compreende quatro modelos de menor alcance, que variam entre 30, 40, 60 e 80 quilômetros.
"Os outros armamentos da família Astros são os tradicionais foguetes, sem guiamento, armas de trajetória tensa que vão até o fim de seu combustível e depois caem na área do alvo", disse o editor do portal InfoDefensa.
Foguete Guiado SS-40
A exceção é o em desenvolvimento Foguete Guiado SS-40, que, assim como AV-TM 300, terá um sistema de guiamento, "justamente o que diferencia" o míssil "dos foguetes que o sistema Astro" atualmente "é capaz de disparar", afirmou Caiafa.
Além disso, "tem obviamente o custo, pois o foguete, que já não é uma munição barata, é muito menos dispendioso para comprar, armazenar e manter do que os mísseis de cruzeiro", ponderou o jornalista.
'Senhor da guerra'
Do ponto de vista militar, os mísseis de cruzeiro transformam o seu dono em um "senhor da guerra", afirma o especialista.
"Tanto em um cenário defensivo quanto ofensivo, é uma arma espetacular. Ela vai permitir causar danos e destruição ao inimigo em pontos críticos do sistema e, fatalmente, ele vai ser obrigado a diminuir a intensidade das ações ou negociar. Quem possui o míssil tático de cruzeiro determina o engajamento, quando ele começa e termina, e sempre vai ter a iniciativa estratégica e táticas das ações", avaliou Roberto Caiafa.