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Há meses que o Líbano tem sido palco de protestos antigovernamentais de populares insatisfeitos com a classe política e a crise econômica no país.
O presidente libanês Michel Aoun, à direita, encontra-se com David Schenker, secretário assistente de Estado dos EUA para assuntos do Oriente Próximo, no palácio presidencial em Baabda, leste de Beirute, Líbano, 10 de setembro de 2019. (Dalati Nohra via AP) |
Apesar deste cenário, Israel estaria buscando um acordo de demarcação de fronteiras marítimas e terrestres com o país árabe via intermediação dos EUA.
Por sua vez, os EUA pressionam o país a ir pelo caminho de concessões e fechar o acordo, enquanto Tel Aviv e Beirute disputam a área submarina Bloco 9, onde acredita-se haver uma grande reserva de gás natural no mar Mediterrâneo.
Durante uma videoconferência do Instituto Brookings, o assessor do secretário de Estado dos EUA para Assuntos do Oriente Médio, David Schenker, disse:
"Eu espero que cheguem lá [a um acordo] nas próximas semanas, mas isso é o que veremos", publicou o jornal The Times of Israel.
Contudo, o americano se recusou a dar detalhes sobre os impedimentos à assinatura do acordo.
Cenário no Líbano
Em entrevista à Sputnik Árabe, os cientistas políticos libaneses Osama Wahby e Riyad Isa comentaram o assunto.
"Quero ressaltar que os políticos libaneses são pressionados absolutamente por todos e por qualquer razão: por questões da formação de governo, recuperação de Beirute, recebimento de dinheiro do FMI e, é claro, demarcação das fronteiras marítimas com Israel", pontuou Wahby.
Ainda segundo o cientista político, os EUA têm empregado pressão no Líbano principalmente no que concerne a seus assuntos externos.
"Enquanto, por um lado, a França pressiona na solução das questões relacionadas à política interna, nos assuntos externos são os EUA. Eles estão interessados na demarcação de fronteiras e acham isso interessante para Israel", acrescentou.
Com o intuito de atrair o Líbano para um acordo, Wahby afirma que Washington abre a possibilidade de ajuda financeira ao país árabe em crise.
"Sem dúvidas, Washington oferecerá ajuda financeira ao governo em troca de um acordo vantajoso: todos entendem que o Líbano não tem dinheiro para reconstruir Beirute depois da explosão. Existe o perigo de que Beirute de fato não receba nenhuma ajuda internacional enquanto não fizer concessões aos interesses americanos e concomitantemente aos israelenses", disse.
A pressão por parte dos EUA é exercida sobre diferentes movimentos e partidos, inclusive através de sanções.
Wahby relembra que pelo menos dois ministros do atual governo sofreram sanções americanas.
"Isso é um dos indicativos-chave do quanto os EUA esperam do Líbano determinadas ações, necessárias para eles", concluiu.
Em caso de acordo, qual seria a reação?
Expressando sua opinião sobre o assunto, Riyad Isa acredita que tais negociações estão em curso, mas que a sociedade libanesa será contra um acordo com Israel, o que impediria sua ratificação.
"É incrível como os EUA anunciam alegadas negociações entre Israel e o Líbano se Beirute está negociando sobre a demarcação de fronteiras exclusivamente com Washington. Tais detalhes vão trazer sérias consequências ao Líbano", afirmou.
Desta forma, por não confiar em seu governo e sua política, a sociedade libanesa não aceitaria um acordo tendo em vista a situação atual.
"Se eles de fato assinarem algum acordo com Israel, as pessoas vão sair às ruas, e ninguém o reconhecerá como válido", acrescentou.
Isa acredita que os EUA estão dispostos a usar qualquer fraqueza do Líbano para realizar seus objetivos e interesses na região.
Contudo, Washington não dá atenção aos interesses do Líbano, mas caso o país estivesse em melhor posição para negociar, possivelmente Beirute apresentaria maior resistência.
Além do litígio marítimo, o Líbano também possui discórdias territoriais com Israel em 13 pontos de sua fronteira terrestre, incluindo no porto de Naqoura e Adaisseh, onde os israelenses construíram um muro divisório.
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