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Entre os dias 23 de agosto e 5 de setembro, Moscou sedia o Fórum Internacional Técnico-Militar ARMY 2020 e os Jogos Militares Internacionais ARMY 2020, em um evento de grandes proporções que reúne feira comercial, congresso de especialistas e verdadeiro show de demonstrações de equipamentos militares de ponta.
Delegação brasileira no Fórum EXÉRCITO 2020. Da esquerda para direita: secretário Tiago Carneiro, embaixador Tovar da Silva Nunes, secretário Marcos Degaut e general Diniz Brito © SPUTNIK / ANA LIVIA ESTEVES |
O Brasil não ficou de fora desse evento e enviou uma delegação de alto nível para promover produtos da base industrial de defesa brasileira em território russo.
"Os produtos de defesa não só criam empregos e desenvolvem tecnologia, mas também precisam de um envolvimento forte [...] para poder se desenvolver", disse o embaixador do Brasil em Moscou, Tovar da Silva Nunes, à Sputnik Brasil.
"Estamos inaugurando aqui na Rússia nesta feira [...] uma nova fase [...] mais assertiva na estratégia de promoção comercial", afirmou o secretário de Produtos de Defesa do Ministério da Defesa do Brasil, Marcos Degaut, à Sputnik Brasil. "Cruzamos meio mundo e estamos muito felizes."
O Brasil tem muito a oferecer à Rússia, uma vez que detém base industrial de defesa "complexa, robusta e diversificada", garantiu Degaut.
"Nós somos muito eficientes na produção de armas de curto calibre, de sistemas de controle de monitoramento de fronteiras, artilharia e aviação", ressaltou o secretário, adicionando que "produzimos do alfinete ao foguete".
O que a Rússia pode oferecer ao Brasil?
O Brasil tem particular interesse em produtos russos das áreas de artilharia a de sistemas de monitoramento de fronteiras e apoio à construção naval, revelou Degaut.
"Nós temos equipamentos russos em uso nas Forças Armadas brasileiras já há alguns anos, e estamos discretamente muito satisfeitos", pontuou o general Diniz Brito, diretor do Departamento de Promoção Comercial do Exército (DEPCOM), à Sputnik Brasil.
Para Brito, Brasília e Moscou podem cooperar na área de construção naval e no desenvolvimento de projetos para a Antártica.
"[Os russos] são muito especializados em áreas geladas, e nós temos os estaleiros. Então há uma possibilidade de parceira de longo prazo", acredita o general.
No entanto, o Brasil tem interesse não em realizar simples transações comerciais com os russos, mas em selar acordos que envolvam parceria tecnológica e troca de conhecimentos.
"Comprar é fácil [...], mas não é isso que se quer. Se quer um trabalho conjunto de desenvolvimento levando tecnologia russa, mas incrementando também o parque industrial brasileiro", disse Brito.
Para ele, o ideal é fechar acordos nos quais "todos cresçam: a indústria russa tenha acesso a novos mercados, mas nós também acesso a conhecimento para determinadas áreas que serão permanentes", como a exploração da Antártica.
Sistema de artilharia antiaérea Pantsir
Há alguns anos, o Brasil debate com a Rússia a possibilidade de adquirir o sistema de artilharia antiaérea móvel Pantsir-S1, um dos mais avançados do mundo.
Para Brito, o negócio depende da sincronização entre o Pantsir e as tecnologias instaladas no Brasil, como sistemas de rádio, software e radares.
"Tudo depende de como a tecnologia se encaixa nas outras. O sistema [Pantsir] tem que ter conectividade e compatibilidade. Se não houver, não adianta ser um sistema excelente, que não se encaixe no sistema [brasileiro]", explicou Brito.
Armado com mísseis terra-ar, o Pantsir opera sobretudo em baixas e médias alturas.
"O interesse do Brasil é de tecnologias de média altura que possam ser compartilhadas e desenvolvidas em conjunto com o nosso país", disse o general.
O chefe do Departamento de Produtos de Defesa do Ministério das Relações Exteriores (DIPROD), Tiago Carneiro, concorda:
"Ambos os países já estão em um nível de sofisticação na área de produtos de defesa que nos permite pensar em realizar projetos conjuntos", afirmou Carneiro à Sputnik Brasil.
Durante o ARMY 2020, a delegação brasileira realizará contatos com empresas-chave do complexo industrial militar russo, a fim de selar "uma parceria estratégica no sentido mais profundo do termo", asseverou Degaut.
De fato, "a presença de uma delegação deste nível aqui demonstra o prestígio que a Rússia tem perante o Brasil", concluiu o embaixador Nunes.
A exposição ARMY 2020, realizada no Parque Patriot (Patriota), nos subúrbios de Moscou, apresentará 730 armamentos e equipamentos militares russos, além de contar com stand de 28 mil empresas do ramo e representantes de mais de 70 países.