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O corte de 9.500 militares na força permanente de 34.500 soldados, marinheiros, aviadores e fuzileiros navais do Comando Europeu dos EUA (EUCOM, na sigla em inglês), inverteria os esforços do Pentágono nos últimos anos para reforçar a sua capacidade de defesa contra um eventual ataque russo, afirma o especialista em defesa David Axe.
Militares da OTAN na Estônia © REUTERS / Ints Kalnins |
Em artigo publicado na revista Forbes, Axe refere ser convicção dos analistas que um eventual ataque russo teria como alvo o flanco oriental da OTAN, onde a presença das tropas aliadas é menos significativa, tornando os países bálticos - Estônia, Letônia e Lituânia - particularmente vulneráveis.
Cortes de Obama e Trump
Para Axe, não está claro se os cortes de Trump irão realmente em frente. Tampouco ficaram definidas quais as unidades que a EUCOM poderia retirar.
Mas Axe não tem dúvidas: as medidas anunciadas surpreenderam os altos comandos militares norte-americanos e enfraqueceriam as defesas da OTAN.
"Durante décadas, o Exército [dos EUA] manteve forças pesadas na Europa, a fim de se defender contra a União Soviética e, posteriormente, contra a Rússia. Os níveis de forças diminuíram rapidamente após o fim da Guerra Fria", escreveu Axe.
A administração Obama acelerou esses cortes, ao ponto de as tropas implantadas permanentemente na Europa terem diminuído de 40 mil em 2011 para cerca de 25 mil em 2014.
EUA aumentam presença militar em 2014
Contudo, a situação na Ucrânia em 2014 levou Obama a procurar restaurar a capacidade de combate na Europa, alocando bilhões de dólares ao programa Iniciativa Europeia de Dissuasão, criada nesses anos, de aumento da presença militar dos EUA na Europa.
Malgrado este reforço estadunidense, o think-tank californiano RAND previu nessa época que as forças dos EUA e da OTAN na Europa seriam incapazes de derrotar um eventual e súbito ataque russo aos países bálticos.
Em 2016, o RAND simulou um ataque russo no Báltico. Neste cenário, o Exército russo ultrapassaria rapidamente as forças da OTAN e alcançaria as capitais da Estônia e Letônia no máximo em 60 horas.
A Rússia mantém forte presença de tanques próximo dos países bálticos da OTAN, capacidade bem superior à dos países da aliança, com a agravante de a maioria dos meios da OTAN serem veículos blindados norte-americanos em rotação temporária, segundo Axe.
"Mas, em vez de aumentar suas forças na Europa, Trump parece estar disposto a diminuir a presença dos EUA no continente europeu. Os membros orientais da OTAN provavelmente ficarão mais vulneráveis após os cortes. Com a presença militar norte-americana diminuindo, a Rússia pode não precisar de 60 horas para ocupar o Báltico. É provável que ela possa fazê-lo muito mais rapidamente", concluiu David Axe.
Posição de Moscou
Vale recordar que a Rússia tem reiterado sistematicamente que nunca atacará nenhum país da OTAN, acrescentando que a Aliança está bem ciente disso.
Para a diplomacia russa, a suposta ameaça de Moscou é um pretexto para implantar mais equipamentos e tropas perto das fronteiras russas. A este respeito, Moscou expressou repetidamente sua preocupação com o fortalecimento da OTAN na Europa.