Após anos de diálogos secretos, Israel e China podem estar próximos de estreitar relações comerciais. Analistas acreditam que o relacionamento com Pequim pode prejudicar as relações especiais de Israel com os EUA.
Sputnik
Pouco após EUA e China assinarem a "fase um" de seu acordo comercial, vieram a público informações de que Pequim e Tel Aviv devem assinar acordo bilateral de livre comércio ainda em 2020.
Primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, é recebido pelo presidente da China, Xi Jinping, em Pequim (foto de arquivo) © AP PHOTO / ETIENNE OLIVEAU |
O acordo atende aos anseios de Pequim de se aproximar do setor de alta tecnologia israelense. Patentes criadas no Sillicon Wadi, como é chamado o maior parque tecnológico israelense, poderão não só fornecer tecnologia às indústrias chinesas, mas também auxiliar na expansão das atividades de vigilância de Pequim.
Apesar das legítimas aspirações econômicas do acordo, ele é considerado, sobretudo, uma vitória geoestratégica de Pequim. O acordo poderia aumentar a dependência econômica israelense da China, que atualmente é o segundo principal parceiro comercial de Tel Aviv.
Além disso, o estreitamento da cooperação na área de infraestrutura deve gerar oposição de Washington, a exemplo do acordo de 2015, que concedeu direitos de operação do porto de Haifa à Shanghai International Port Group.
Israel considerou que os ganhos obtidos com o acesso ao mercado chinês serão mais contundentes do que eventuais danos às relações especiais que mantém com Washington. Apreensivo com uma eventual retirada de tropas dos EUA do Oriente Médio, Israel pode estar à procura de novos parceiros.
Em artigo publicado no jornal israelense Hayom, o embaixador da China em Israel, Zhan Yongxin, defendeu que as relações bilaterais estão baseadas em "sólida fundação" e se lembrou dos esforços da China para receber judeus ameaçados pelo Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial.
A aproximação, no entanto, pode deteriorar as relações entre Israel e EUA, acredita o diplomata dos EUA, Elliott Abrams. O comentarista Jake Novak, por sua vez, acredita que Washington pode forçar Tel Aviv a "escolher" entre as superpotências, reportou a Foreign Policy.
O diplomata norte-americano, David Schenker, está em visita a Israel para tratar do eventual acordo comercial entre Tel Aviv e Pequim. Para ele, existem vários pontos que "preocupam" os EUA.
"Nós consideramos que alguns setores, como desenvolvimento tecnológico ou desenvolvimento de sistemas de telecomunicações, e países que estão considerando lançar redes de 5G precisam levar em consideração a segurança nacional e segurança informacional", declarou Schenker ao jornal local Globes.
Os protestos dos EUA não devem impedir Israel de prosseguir com a assinatura do acordo, considerou a Foreign Policy. De acordo com pesquisas, cerca de 66% dos israelenses têm uma visão positiva da China, o que pode ser explicado pelo fato do antissemitismo na China ser próximo de zero.
Por outro lado, relações com Pequim dificilmente substituiriam àquelas com os Estados Unidos, considerou a Foreign Policy. Os EUA são os maiores e mais ricos fornecedores de equipamentos de defesa do mundo e garantem veto a qualquer resolução que vá contra os interesses de Israel no Conselho de Segurança da ONU, garantias que Pequim não seria capaz de oferecer.
As relações entre Israel e os EUA atingiram novo ponto alto no fim de janeiro de 2020, quando a Casa Branca lançou plano de partilha da Palestina que atende, em larga medida, antigas demandas israelenses.