Mais de 14 mil pessoas morreram em seis anos de guerra nessa região europeia em disputa
Humberto Trezzi | Zero Hora | DefesaNet
O Brasil pode ter um importante papel como mediador no conflito na Ucrânia, que opõe militares daquele país e guerrilhas simpatizantes da Rússia. Caso o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprove uma missão de paz, é forte a tendência de que sejam brasileiros os "capacetes azuis" a liderar o esforço de pacificação daquela região no Leste europeu. A guerra, que alterna períodos de intensos combates com outros de cessar-fogo, já deixou 14 mil mortos em seis anos _ dos quais 10 mil são civis _ e dois milhões de desalojados.
Os "Little Green Men", equipados com equipamento russo e usando uniforme similar ao russo, porém não são russos segundo Moscou. |
A Ucrânia perdeu para a Rússia, em 2014, o território da Crimeia. Outros territórios ucranianos, das regiões de Donetsk e Luhansk, foram ocupados parcialmente por forças paramilitares pró-russas, mas essas regiões os ucranianos decidiram não ceder e aí está a razão principal da guerra. É a maior crise entre Ocidente e Rússia desde o fim da União Soviética.
A depender da vontade ucraniana, o Brasil é um dos favoritos para atuar nessa região, chamada Donbass. É visto como um país sem ambições imperialistas, com tradição de não intervenção. Mantém também boas relações com a Rússia, apesar do recente alinhamento do governo Bolsonaro com o grande adversário russo, os EUA.
Ao colunista, a economista ucraniana Nataliia Shvets Konrad, que vive há sete anos entre Brasil e Ucrânia, enfatiza o que considera vantagens de possível missão de paz liderada por brasileiros. Ela diz que o profissionalismo dos militares brasileiros é reconhecido internacionalmente, eles possuem boas relações com russos e ucranianos e, também, o Brasil tem a segunda maior colônia ucraniana no Exterior, só perdendo para o Canadá. Inclusive, o terreno ucraniano, composto por estepes, é muito parecido com os campos do sul do Brasil, ressalta ela.
— Hoje vivemos num conflito congelado e esquecido. Todas as semanas morrem soldados ucranianos. Precisamos da ajuda da comunidade internacional. Ter o soldado brasileiro trabalhando para a construção da paz no coração da Europa seria muito importante, não somente para a Ucrânia, mas para o Brasil, que almeja um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas — resume Natalia.
Conversamos também com três generais brasileiros que atuaram na Europa. Um deles, inclusive, foi adido militar do Brasil na Rússia. Eles acreditam que a participação brasileira numa nova Missão de Paz da ONU seria fundamental para o país manter-se como player na geopolítica internacional.
O general da reserva Sergio Etchegoyen, que foi ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e chefiou a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), esteve recentemente na Rússia. Ele acredita que qualquer missão de paz é uma grande vitrine para a diplomacia, além de excelente oportunidade de adestramento para os militares brasileiros.
Outro general, que foi adido na Rússia, também acredita que seria uma boa iniciativa, mas teme que a Rússia vete.
— Os russos têm cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU e nenhum interesse nisso — resume.
O assunto é visto com simpatia nos bastidores do Ministério da Defesa do Brasil. Agora é ver se os russos apoiam.
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