Apesar de ocupar o décimo lugar no ranking mundial, o poderio militar brasileiro ainda não é suficiente para enfrentar os desafios da defesa nacional, acredita um especialista da Escola de Guerra Naval ouvido pela Sputnik.
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Recentemente, o portal de análise militar Global Firepower divulgou um ranking no qual o Brasil aparece na décima posição entre as Forças Armadas mais poderosas do mundo, levando em conta critérios como pessoal, logística e poder bélico, entre outros.
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A pedido da Sputnik Brasil, o professor de Relações Internacionais Ricardo Cabral, especialista em assuntos militares e pesquisador da Escola de Guerra Naval, analisou o atual desenvolvimento das forças brasileiras e a sua colocação no ranking mundial.
Em entrevista à agência, o acadêmico faz algumas considerações em relação à avaliação feita pelo site, destacando que, entre outras coisas, ela não leva em conta apenas a parte militar em si e não faz algumas distinções importantes, como a antiguidade dos equipamentos a disposição das forças, o que poderia levar a algumas distorções.
"Por exemplo, em relação a recursos naturais, eles só levam em consideração a produção de petróleo, quanto você produz, quanto você consome e quanto você tem de reserva. Isso distorce, porque você tem outros minerais que são importantíssimos para a produção bélica".
Além das distorções, o especialista também aponta alguns fatores que, para ele, indicariam falhas. Uma dessas diz respeito a comparação entre o poder naval do Egito e do Brasil. No primeiro, de acordo com o analista, é levada em consideração a posse de porta-aviões e porta-helicópteros, enquanto, no Brasil, não.
"Provavelmente, quando fizeram a apuração dos dados, foi anterior à compra do HMS Ocean, o atual Atlântico da Marinha brasileira, e não levaram em consideração. Então, esses números estão sempre distorcidos."
No que diz respeito aos gastos em defesa, Cabral explica que, no caso do Brasil, as despesas se concentram, em grande parte, em salários e aposentadorias de militares, sobrando muito pouco para investimentos. Na Rússia, por outro lado, uma parte considerável dos gastos são para atualizar as forças navais, armas nucleares, poder aéreo e outros aspectos efetivos de defesa, explica.
"Isso não é levado em consideração. No meu ponto de vista, o site apresenta essas falhas."
Embora relativamente bem situado nessa lista, o professor acredita que o poder militar do Brasil ainda não é suficiente para dar conta dos desafios enfrentados pela defesa nacional. Um desses desafios citados por ele é a proteção da chamada Amazônia Azul, zona econômica exclusiva, de 3,6 milhões de quilômetros quadrados ao longo da costa brasileira.
"Eu acredito que o programa que está sendo levado à frente, atualmente, vai melhorar a situação em um futuro próximo. Mas ele deve ser acompanhado por outros programas. Porque o nosso investimento é muito baixo. Historicamente, nós investimos em torno de 1,8% do PIB. Nos últimos 30 anos, esse número tem caído. Ele caiu até 1,3%, no ano passado, e deve aumentar. A gente acredita que, neste ano, ele vai aumentar para 1,4%."
O especialista afirma que os programas das Forças Armadas do Brasil se encontram muito atrasados. Entre outras coisas, ele diz ser necessário aumentar o número de caças, comprar mais navios e outros equipamentos, até porque boa parte dos que estão sendo utilizados, segundo ele, são muito antigos. Entretanto, a expectativa é a de que a situação melhore em breve.
"Acreditamos que, com a melhora da situação econômica do país, em que pesem todos esses problemas em que estão passando no mundo e a certa instabilidade interna, nós precisamos avançar nesses programas e o Brasil subir, ir aí para um nível de 2% [de investimento em defesa]."
Para Ricardo Cabral, um investimento correspondente a 2% do Produto Interno Bruto, que é o mesmo que os Estados Unidos cobram de seus parceiros na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), seria o percentual mais indicado para um país como o Brasil, "para recuperar o terreno perdido".
"Nós tínhamos a décima indústria bélica do mundo nos anos 1980. Perdemos esse status. Hoje, estamos lá embaixo", lamenta o analista. "É uma coisa que nós podemos recuperar a médio prazo, em cinco, seis, dez anos. Mas precisa de estatura, estatura dos nossos dirigentes, dos nossos políticos... Dizer que a defesa é importante, a defesa contribui para o desenvolvimento nacional."
De acordo com o pesquisador da Escola de Guerra Naval, investir na indústria de defesa hoje é essencial, como parte de um grande programa para transformar o Brasil em um país "mais rico, mais seguro e mais desenvolvido tecnologicamente".
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