O general iraniano Qassem Soleimani, principal comandante da força de elite Quds da Guarda Revolucionária, ajudou o Irã a travar guerras por procuração em todo o Oriente Médio, inspirando milícias no campo de batalha e negociando com lideranças políticas.
Por Babak Dehghanpisheh | Reuters
Sua morte, provocada por um ataque aéreo dos Estados Unidos contra seu comboio em um aeroporto de Bagdá nesta sexta-feira, marca o fim de um homem considerado uma celebridade em casa e monitorado atentamente por EUA, Israel e Arábia Saudita, rival regional de Teerã.
Homem ora próximo a imagem do comandante Qassem Soleimani, morto em ataque dos EUA a Bagdá 03/01/2020 REUTERS/Ali Hashisho |
O Pentágono informou que o ataque visou impedir planos de ataques futuros do Irã.
Soleimani foi responsável por operações clandestinas no exterior e era visto com frequência nos campos de batalha guiando grupos xiitas iraquianos na guerra contra o Estado Islâmico.
Ele foi morto juntamente com o importante comandante miliciano iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis. Os dois homens eram vistos como heróis na luta iraniana contra seus inimigos, e a televisão estatal os cobriu de elogios pouco depois de suas mortes serem anunciadas.
A TV mostrou imagens de Soleimani com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, e em zonas de guerra com traje militar, inclusive como aluno do segundo grau comandando uma unidade na guerra Irã-Iraque dos anos 1980.
Depois disso ele ascendeu rapidamente nas fileiras da Guarda Revolucionária e se tornou chefe da Força Quds, cargo no qual ajudou seu país a formar alianças no Oriente Médio à medida que o país passou a ser pressionado por sanções norte-americanas que estão devastando a economia da República Islâmica.
Os EUA designaram a Guarda Revolucionária como uma organização terrorista estrangeira em 2019, parte de uma campanha de pressão máxima para forçar o Irã a negociar seu programa de mísseis balísticos e sua política nuclear.
A isso Soleimani reagiu com contundência: qualquer negociação com os EUA seria uma “rendição completa”.
Sua Força Quds amparou o presidente Bashar al-Assad quando ele parecia perto de uma derrota na guerra civil síria, que transcorre desde 2011, e também ajudou milicianos a vencerem o Estado Islâmico no Iraque.
Seu sucessos o tornaram fundamentais para a disseminação constante da influência do Irã no Oriente Médio, que EUA, Israel e Arábia Saudita vêm tentando conter.
Em 1998, Khamenei escolheu Soleimani como chefe da Força Quds, uma posição na qual este se manteve discreto durante anos enquanto fortalecia os laços iranianos com o Hezbollah no Líbano, com o governo sírio e com milícias xiitas iraquianas.
Nos últimos anos ele adquiriu maior destaque público – combatentes e comandantes no Iraque e na Síria publicaram imagens dele no campo de batalha, sempre com a barba e o cabelo impecavelmente aparados, nas redes sociais.
“ESTAMOS PERTO DE VOCÊ”
A autoridade crescente de Soleimani dentro do establishment militar do Irã ficou evidente em 2019, quando Khamenei lhe concedeu a medalha Ordem de Zolfiqar, a maior honraria militar da nação. Foi a primeira vez que um comandante recebeu a medalha desde que a República Islâmica foi estabelecida em 1979.
Em um comunicado emitido após a morte de Soleimani, Khamenei disse que uma vingança dura aguarda os “criminosos” que o assassinaram. Sua morte, embora amarga, vai dobrar a motivação da resistência do Irã contra os EUA e Israel, disse o líder iraniano.
“Soleimani não é... um homem trabalhando em um escritório. Ele vai para o fronte para inspecionar as tropas e ver o combate”, disse uma ex-autoridade iraquiana de alto escalão, que pediu para não ser identificada, em uma entrevista concedida em 2014.
“Sua cadeia de comando é somente o líder supremo. Ele precisa de dinheiro, recebe dinheiro. Precisa de munições, recebe munições. Precisa de material, recebe material”, detalhou.
Soleimani também estava encarregado da coleta de inteligência e de operações militares sigilosas realizadas pela Força Quds, e em 2018 desafiou o presidente norte-americano, Donald Trump, publicamente.
“Estou dizendo a você, senhor Trump, o apostador, estou dizendo a você, saiba que estamos perto de você naquele lugar em que não pensa que estamos”, disse Soleimani, de dedo em riste, em um vídeo distribuído na internet. “Você iniciará a guerra, mas nós a encerraremos.”
Em comentário de outra autoridade iraniana, “Soleimani é um grande ouvinte”. “Ele não se impõe. Mas sempre consegue o que quer”, disse, acrescentando que ele era intimidante às vezes.
De fala mansa, Soleimani era de origem humilde, nascido em uma família de agricultores na cidade de Rabor, no sudeste do Irã, em 11 de março de 1957.
Aos 13 anos, viajou para a cidade de Kerman e conseguiu um trabalho no setor de construção para ajudar seu pai a pagar empréstimos, de acordo com uma conta em primeira pessoa de Soleimani publicada pela Defa Press, um site focado na história da guerra de oito anos do Irã com o Iraque.
Quando a revolução para derrubar o xá começou em 1978, Soleimani estava trabalhando para o departamento municipal de água de Kerman e organizou manifestações contra o monarca.
Ele se voluntariou para a Guarda Revolucionária e, depois que a guerra contra o Iraque estourou em 1980, rapidamente subiu na hierarquia e passou a combater traficantes de drogas na fronteira com o Afeganistão.
Soleimani desempenhou um papel tão crucial na segurança do Iraque, por meio de várias milícias, que o general David Petraeus, o diretor-geral das forças dos EUA no Iraque no auge da guerra civil entre sunitas e xiitas em 2007, enviou mensagens a ele por meio de autoridades iraquianas, de acordo com mensagens diplomáticas publicados pelo Wikileaks.
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