Horas após início da trégua proposta por Rússia e Turquia, governo apoiado pela ONU e forças rivais trocam acusações de quebra de acordo. Nações Unidas e potências europeias tentam organizar cúpula de paz.
Deutsch Welle
As forças em conflito na Líbia se acusaram mutuamente neste domingo (12/01) de violação do cessar-fogo, poucas horas depois de uma trégua ter sido acordada pelo Governo do Acordo Nacional (GNA), apoiado pela ONU, e seus principais rivais, liderados pelo marechal Khalifa Haftar.
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O GNA acusou o Exército Nacional da Líbia (LNA) de Haftar de violar o cessar-fogo minutos depois de este começar.
O governo de Trípoli alertou que "responderia violentamente e com severidade" se as forças de Haftar violassem o acordo novamente.
Nas primeiras horas do domingo, em meio à crescente pressão internacional, as forças de Haftar declararam um cessar-fogo "condicional" durante sua ofensiva para tomar Trípoli de seus rivais do GNA.
A trégua – proposta pela Rússia e pela Turquia – entrou em vigor neste domingo, segundo um porta-voz do LNA.
O LNA, sediado no leste da Líbia, havia dito que manteria a trégua internacionalmente intermediada nas partes ocidentais do país "desde que a outra parte cumpra o cessar-fogo". O porta-voz do LNA, Ahmed Mismari, também alertou que "qualquer violação será recebida com uma resposta dura".
O GNA prometeu cumprir o cessar-fogo. Mas o chefe do GNA, Fayez al-Sarraj, disse em comunicado que suas forças têm o "direito legítimo" de "responder a qualquer ataque ou agressão que possa vir do outro campo".
Sarraj anteriormente havia pedido que o LNA se retirasse da periferia da capital, como condição para aceitar a trégua.
Haftar lançou o ataque a Trípoli em abril de 2019, mas suas forças até então não conseguiram assumir o controle da capital. Haftar é aliado a uma administração sediada no leste do país e acredita-se que tenha o apoio de França, Egito e Emirados Árabes Unidos. Seus rivais também afirmam que as forças de Haftar estão sendo impulsionadas por mercenários russos.
No entanto, o governo da GNA tem aliados próprios na região, com a Turquia recentemente decidindo enviar tropas para a Líbia, para reforçar o governo apoiado pela ONU.
Na Líbia, país imerso num caos político há vários anos, duas autoridades disputam o poder: um governo de união nacional líbio comandado pelo presidente Fayez al-Serraj – estabelecido em 2015 em Trípoli, ele é reconhecido pela comunidade internacional e tem o apoio de milícias – e uma autoridade paralela que exerce o poder no leste do país, com o apoio de Haftar, um militar dissidente do regime de Muammar Kadhafi, que caiu em 2011.
No início desta semana, a Rússia e a Turquia pediram uma trégua entre o GNA e o governo do leste. O LNA de Haftar inicialmente rejeitou a proposta, mas seu último anúncio sinalizou uma aparente mudança de atitude.
O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, e outros líderes da UE aderiram à pressão por um cessar-fogo na Líbia, já que o conflito ameaça atrair potências regionais. O premiê italiano pediu o fim da "interferência estrangeira" no país do norte da África, antes uma colônia italiana.
Separadamente, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, se reuniu no sábado com o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, para negociações sobre a Líbia, enquanto a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, discutiu o assunto durante sua visita a Moscou no mesmo dia.
A guerra da Líbia provocou a fuga de centenas de milhares de pessoas e deixou mais de um milhão dependendo de ajuda humanitária para sobreviver, segundo a ONU.
A ONU e potências europeias, juntamente com os aliados da Líbia na região, tentam organizar a realização de uma cúpula de paz, que ocorreria em Berlim no início deste ano, reunindo os líderes dos governos rivais.