A OTAN hoje em dia existe apenas para vender armas e contratar burocratas para Bruxelas, disse um senador norte-americano, que também diz que a Rússia não é um inimigo.
Sputnik
"Hoje, a OTAN existe estritamente para vender armas e empregar burocratas abastados em Bruxelas. E, infelizmente, não pode existir sem um inimigo. E essa é a única razão da nossa hostilidade para com a Rússia", afirmou Richard Black, senador do estado da Virgínia dos EUA e antigo oficial da OTAN.
Secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, conversa com o presidente dos EUA, Donald Trump, durante o encontro dos líderes dos países da OTAN na cidade de Watford, Reino Unido © AP PHOTO / FRANCISCO SECO |
Na recente cúpula da OTAN, acrescentou Black em suas declarações na segunda-feira (9), o presidente francês Emmanuel Macron perguntou ao presidente norte-americano, Donald Trump: "Quem é o nosso inimigo agora?"
"E essa era a pergunta chave. Nós não temos um inimigo. A Rússia não é um inimigo. A França reconhece que a Rússia não é um inimigo", respondeu Black.
Macron disse em dezembro que nem todos os membros da OTAN veem a Rússia como um inimigo, já que a situação mudou nos últimos 30 anos.
"O presidente Trump vê a OTAN principalmente como um mercado lucrativo para os negociantes de armas", afirmou Black. "Ele deixou claro durante sua campanha que achava que a OTAN era uma perda de tempo. Mas o presidente Trump gosta de vender armas, não há dúvida sobre isso."
"É por isso que ele está tentando fazer com que a Europa aumente seus gastos em defesa para que eles comprem armas dos EUA. Mas, como disse Macron, a OTAN está em morte cerebral, não tem nenhum propósito. É interessante que Macron também tenha dito sentir que a Rússia iria avançar para um projeto de parceria com a Europa", comenta o antigo militar.
Rússia como parceira
Em junho, Macron disse que queria virar uma nova página sobre a relação da Europa com a Rússia.
"Concordo com isso", opina o senador da Virgínia. "A Rússia é um país europeu, e é um país que tem muito a oferecer e não representa nenhuma ameaça, a menos que, é a única ressalva, nós os continuarmos empurrando e algo correr terrivelmente mal em uma dessas provocações, e nós desencadearmos sem querer uma guerra nuclear. Por que a Rússia é muito forte em poder nuclear."
"Infelizmente, temos pessoas que estão realizando atos muito imprudentes em relação à Rússia para provocá-los, para que eles possam continuar com este mito de que a OTAN tem um propósito. Mas não tem", avalia Richard Black.
Black também disse que a França não é a única que não vê a Rússia como uma ameaça.
"Se você olhar para ela, em toda a Europa, a Alemanha é a joia da coroa industrial da Europa. Este é o motor industrial de todo o continente... Nenhum país tem maior interesse em saber sobre ameaças militares da Rússia do que a Alemanha. No entanto, a Alemanha tem apenas 200 tanques para defender toda a sua fronteira. Por isso, é claro que a Alemanha vê que a Rússia não a está ameaçando de jeito nenhum, e nem sequer está disposta a financiar mais de duzentos tanques para toda a sua fronteira", diz.
A chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou em novembro que o aumento das despesas militares para 2% da produção industrial até 2031 era ambicioso, mas realista. A Alemanha planeja atingir a meta de 1,5% até 2024.
Gastos da OTAN
"Por amor de Deus, na batalha síria por Aleppo os terroristas usaram mais de duzentos tanques. No entanto, isso é o que a Alemanha tem para toda a defesa contra a Rússia e qualquer outro que possa ser uma ameaça. Por isso, o fato é que a Rússia não é uma ameaça. A Rússia está mesmo trabalhando em estreita colaboração com a Alemanha para construir o gasoduto Nord Stream 2. São muito interdependentes. A razão pela qual os alemães não estão gastando tanto dinheiro quanto o presidente Trump gostaria em defesa, é porque não veem uma ameaça, e eles não vão desperdiçar dinheiro."
Em uma série de reuniões bilaterais durante a cúpula da OTAN em Londres, Trump continuou pressionando seus homólogos sobre a necessidade de aumentar os gastos militares de seus países até 2% do PIB.
"Não creio que devam ser reforçados. Servi como oficial na OTAN. Fui tenente-coronel na Europa de 1981 a 1984. A aliança da OTAN nessa altura era necessária e eficaz. Nessa altura acreditávamos que o Pacto de Varsóvia era uma ameaça para a Europa Ocidental. Contudo, se passarmos desse ponto nos anos 80 até 1991, no final da Guerra Fria, quando o Pacto de Varsóvia se dissolveu, a NATO deveria ter sido dissolvida. Não tinha qualquer propósito."
Expansão da OTAN
Black também lembrou que, no final da Guerra Fria, os Estados Unidos prometeram à União Soviética que não fariam avançar a OTAN um centímetro para leste, desde que eles aceitassem a reunificação alemã.
"A União Soviética disse: muito bem, não vamos bloquear a reunificação da Alemanha, por isso eles cumpriram sua parte do acordo, mas nós não", disse ele. "E não passou muito tempo até violarmos o acordo e avançarmos constantemente até estarmos literalmente à porta da Rússia. Isto é muito perigoso, porque no final da Guerra Fria tínhamos uma grande distância entre a OTAN e a Rússia, e isso era muito positivo porque lhes dava mais tempo para resolver mal-entendidos, etc."
Nos últimos anos, a Aliança triplicou a dimensão da Força de Reação da OTAN para cerca de 40.000 militares, com uma nova Força de Vanguarda de 5.000 homens no seu núcleo.
A OTAN também destacou quatro agrupamentos tácticos multinacionais para os Estados Bálticos e para a Polônia, aumentou sua presença na região do mar Negro e estabeleceu uma série de pequenos quartéis-generais para ligar as forças nacionais e as da OTAN, diz a declaração da organização.
Moscou tem advertido repetidamente que o reforço militar da OTAN perto das fronteiras da Rússia pode desencadear um conflito, desestabilizar a região e conduzir a uma corrida global aos armamentos.