Depois de décadas de desinvestimento na área militar, que atingiu menos de 1% do PIB, o país vai aumentar os gastos na defesa.
Sputnik
A Suécia não-alinhada está renovando suas forças armadas com bilhões de dólares, em um aumento não visto desde a era da Guerra Fria.
HMS Visby © AFP 2019 / Fredrik Sandberg / Agência de notícias TT |
Os políticos suecos se comprometeram a gastar anualmente mais 5 bilhões de coroas suecas (510 milhões de dólares) para além do orçamento militar anual, de 2021 a 2025. Globalmente, a Suécia planeja gastar 60 bilhões de coroas (R$ 25,9 bilhões) anualmente na defesa a partir de 2025, e é esperado que este montante aumente ainda mais até 2030.
O ministro da Defesa social-democrata, Peter Hultqvist, sublinhou que a grande aposta é "poder defender-se", e deixou bem claro de quem.
"Vimos o que a Rússia fez na Geórgia, na Crimeia, e agora na Ucrânia. Isso mostrou que a situação geral de segurança mudou. A Rússia aumentou o investimento nas suas forças armadas e sua presença no mar Báltico, mas não constitui uma ameaça direta à Suécia. No entanto, vimos do que a Rússia é capaz", disse Hultqvist ao jornal dinamarquês Berlingske.
"Decidimos que a Suécia deve expandir sua capacidade de defender o país territorialmente. Portanto, foi decidido aumentar os fundos significativamente até 2021, e investir mais até 2025", acrescentou Hultqvist.
Declínio recente
Após décadas de cortes maciços, em que a defesa sueca diminuiu drasticamente em termos de orçamento, navios de guerra, aviões de combate e pessoal, os especialistas militares concluíram que a Suécia está praticamente indefesa se for atacada.
Segundo o Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (SIPRI, sigla em inglês), em 1990 a Suécia gastou 2,4% do seu PIB com a defesa. Em 2018, o valor correspondente era de cerca de 1%. Além disso, desde 1990, o número de navios de guerra e aviões de combate foi reduzido em 70%, enquanto o número de unidades de guerra reais no exército foi reduzido em 90% nos últimos 30 anos.
"Há vinte anos, a Suécia gastava cerca de 2,5% do seu PIB na defesa. Nos últimos anos, gastamos menos de um por cento. Foi uma revelação quando o comandante supremo sueco, há alguns anos, declarou publicamente que a Suécia já não era capaz de se defender durante mais de uma semana. Isso provocou muito debate entre a população e os políticos", explicou Joakim Berndtsson, professor associado do Instituto de Estudos Globais da Universidade de Gotemburgo.
Distribuição do investimento militar
A enorme subida nos gastos incluirá outras medidas, como a reintrodução do serviço militar obrigatório e a re-militarização da ilha de Gotlândia no mar Báltico, ambas reiniciadas após quase uma década, incluindo o restabelecimento de unidades militares que foram desativadas.
Também estão previstas aquisições militares maciças. A Suécia encomendou 60 unidades do caça Gripen E, que é um modelo novo, maior e mais avançado do caça Gripen atualmente em uso.
Na cidade de Karlskrona, no mar Báltico, está em curso a construção de dois novos submarinos, que são protótipos de toda uma nova classe de submarinos para a Marinha Sueca.
A Suécia também encomendou dois tipos de sistemas de defesa antiaérea Patriot dos EUA, destinados a abater aviões de caça e mísseis balísticos. O negócio foi estimado em cerca de US$ 4,5 bilhões (R$ 18,3 bilhões) se a manutenção e as atualizações de vida útil forem incluídas.
Para além da expansão militar e da aquisição de equipamento, as forças armadas suecas estão trabalhando intensamente no desenvolvimento da cooperação com vários parceiros. Assim, a Suécia participou e acolheu uma série de exercícios, inclusive com tropas norte-americanas. Hultqvist descreveu isto como "um desenvolvimento natural".
"Estamos aumentando nossa cooperação com os países nórdicos, incluindo a Dinamarca, e vamos trabalhar no duro com muitos países em redor do mar Báltico, bem como com vários membros do Pacto Atlântico", disse Hultqvist, identificando a zona do Estreito de Oresund como uma "área potencialmente crítica".
Também estão sendo realizadas campanhas de informação. Numa versão atualizada de uma brochura da era da Guerra Fria, os cidadãos suecos foram informados das medidas em caso de guerra, e lhes foi lembrado de terem um armazém com alimentos básicos para, pelo menos, uma semana para poderem subsistir.
Obstáculos
No entanto, o plano ambicioso tem alguns obstáculos pela frente. Segundo um relatório recentemente apresentado pelo comandante supremo Micael Bydén, a defesa sueca ainda terá um défice de cerca de 40 bilhões de coroas suecas (R$ 17,3 bilhões) durante a próxima década se quiser estar à altura dos desejos dos seus políticos.
Embora o ministro da Defesa Hultqvist tenha assegurado que o dinheiro seria alocado através de um imposto bancário e investimentos extra, o professor Berndtsson duvida que as pessoas venham a apoiar as medidas se os fundos forem retirados de escolas, fundos de desenvolvimento ou programas ambientais.
As Forças Armadas suecas têm uma força ativa de mais de 20.000 homens.
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