Documentos revelam discussões no governo do Reino Unido sobre proposta para incluir a Rússia na OTAN, em 1995, durante reunião de gabinete.
Sputnik
Documentos desclassificados revelam que havia vontade política para mudar as relações com a Rússia após o fim da Guerra Fria, e alguns consideravam que a OTAN seria o melhor meio de fazer isso.
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Memorando da Secretaria da Defesa, então liderada por Malcolm Rifkind, revelava que a integração da Rússia nas nações europeias era um tema sensível para o gabinete britânico:
"Integrar a Rússia na Europa e na família de nações ocidental de forma realista e consciente é o problema mais difícil que enfrentamos", versa o documento.
O documento argumentava que integrar a Rússia, então liderada por Boris Yeltsin, como membro da OTAN seria "sempre impossível", uma vez que não seria viável garantir a segurança de Moscou, conforme o artigo 5 da Carta da Aliança.
O artigo 5 dispõe que um ataque a um membro da OTAN seria considerado como um ataque a todos os membros. O documento desclassificado aponta que os britânicos consideravam difícil que a aliança pudesse defender as extensas fronteiras russas.
O memorando sugere então que o Reino Unido proponha a "criação de uma nova categoria de Membro Aliado da OTAN", o que permitiria à Rússia obter um status formal e comparecer às reuniões da aliança militar sem, no entanto, gozar das garantias de segurança do artigo 5.
Por outro lado, o documento revela que o então chanceler britânico, Ken Clarke, acreditava que a inclusão da Rússia não deveria sequer ser discutida.
"Isso é uma farsa e não deveria nem estar na nossa agenda", teria dito o chanceler.
No entanto, Rifkind concordou que era necessário incluir a Rússia na "família ocidental", por acreditar que, caso contrário, Moscou poderia voltar ao "autoritarismo".
Sancho Pança
O documento ainda revela traços da autoimagem britânica na década de 90. O então primeiro-ministro, John Major, teria usado uma metáfora literária para descrever a posição do Reino Unido nas relações internacionais.
"Nós não perseguimos nossos próprios interesses com a determinação dos EUA ou da França. Nós tendemos a fazer de Sancho Pança para o Dom Quixote dos EUA", teria dito.
A frase é uma referência ao livro clássico de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, no qual Sancho Pança desempenha o papel de aliado menor e desprovido de autoridade.
Desde a década de 90, a OTAN passou por um processo de expansão significativo, incluindo países que fazem fronteira com a Rússia, como a Lituânia, Letônia e Estônia, e alguns ex-membros do Pacto de Varsóvia, como a Hungria, Polônia e Romênia.