Deputados americanos aprovaram texto prevendo sanções contra autoridades chinesas acusadas de violações de direitos humanos contra minoria étnica. Cerca de um milhão de muçulmanos viveriam em campos de reeducação.
Deutsch Welle
A China condenou nesta quarta-feira (04/12) a aprovação pelo Congresso americano de um projeto de lei visando punir violações de direitos humanos na região chinesa de Xinjiang. Pequim alertou que os Estados Unidos "pagarão o preço" pela medida.
Instalação de segurança em campo de reeducação na região chinesa de Xinjiang |
"Vocês pensam que vamos ficar sem fazer nada enquanto os americanos prejudicam os interesses chineses? Creio que por seus horrores, de palavra ou ações, eles devem pagar o preço", disse Hua Chunying, porta-voz do Ministério do Exterior chinês.
O projeto de lei americano prevê sanções contra as autoridades chinesas envolvidas em abusos contra a minoria étnica de origem muçulmana uigur, na região de Xinjiang, no extremo noroeste da China. O texto foi aprovado na terça-feira na Câmara dos Representantes, por ampla maioria, e ainda depende do aval do Senado e da ratificação do presidente Donald Trump.
As sanções previstas no projeto podem ser aplicadas a membros do governo chinês em Xinjiang, incluindo o chefe do Partido Comunista Chinês na região, Chen Quanguo, e funcionários do partido tidos como responsáveis ou cúmplices, além de empresas e órgãos ligados aos abusos.
O texto também obriga o Departamento de Estado americano a apresentar ao Congresso, no prazo de um ano, um relatório sobre a situação dos uigures na China.
Organizações de defesa dos direitos humanos, a ONU e o governo dos EUA acusam a China de manter presos em campos de doutrinação política em Xinjiang – região afetada por anos por atentados sangrentos – cerca de um milhão de muçulmanos, principalmente da etnia uigur.
O governo chinês rejeita as cifras e fala em "centros de formação profissional", destinados a ajudar a população local a encontrar emprego e afastá-la da "tentação do islamismo e do terrorismo".
"Esta lei [dos EUA] deliberadamente difama a situação dos direitos humanos em Xinjiang e os esforços da China para combater o terrorismo", disse Hua Chunying. A porta-voz afirmou que "as questões de Xinjiang não estão ligadas aos direitos humanos nem a questões étnicas ou religiosas, mas à luta contra o terrorismo e atividades secessionistas".
"Xinjiang sofreu terrorismo extremo e violento. O governo daquela região tomou medidas fortes de acordo com a lei", frisou.
Em outubro, o governo dos Estados Unidos incluiu 28 entidades chinesas em uma "lista negra" de exportações por causa das violações de direitos humanos contra a minoria uigur e outros grupos muçulmanos na região de Xinjiang.
Documentos internos do Partido Comunista Chinês revelados na semana passada por um grupo de jornalistas investigativos mostram as práticas de Pequim contra minorias étnicas chinesas de origem muçulmana em campos de reeducação de Xinjiang.
Antigos detidos afirmam que foram forçados a criticar o islã e sua própria cultura e a jurar lealdade ao Partido Comunista.
As informações foram obtidas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), uma rede global com sede em Washington. Os dados foram verificados por especialistas independentes e incluem ainda detalhes sobre o uso de inteligência artificial pelo governo chinês nas práticas de policiamento, com algoritmos utilizados para estipular quem deve ser detido.
Além de usar tecnologias de reconhecimento facial ou linguagem corporal, o governo chinês começou recentemente a implementar sistemas de "reconhecimento de emoções", que usam imagens de vídeo para analisar o que as autoridades locais descrevem como o "estado mental" das pessoas.
O governo chinês, que inicialmente negou a existência desses campos, afirmou depois que se tratavam de centros de formação vocacional, que visam integrar os uigures à sociedade e erradicar o "extremismo" da região, alegando que a permanência nos campos é voluntária.
Se aprovada no Senado e ratificada pelo presidente, a lei pode aumentar ainda mais a tensão entre Pequim e Washington, depois de, na semana passada, Trump ter sancionado a Lei de Democracia e dos Direitos Humanos de Hong Kong, que visa também punir autoridades que violem as liberdades naquela região semiautônoma chinesa.