Adil Abdul-Mahdi informa que pedirá sua saída do cargo ao Parlamento após principal líder xiita do país defender troca de governo. Quase 400 pessoas morreram em dois meses de manifestações violentas.
Deutsch Welle
O primeiro-ministro do Iraque, Adil Abdul-Mahdi, informou nesta sexta-feira (29/11) que apresentará sua renúncia ao Parlamento.
Primeiro-ministro do Iraque, Adil Abdul-Mahdi |
O anúncio, transmitido na televisão estatal, ocorreu momentos depois que a mais alta autoridade religiosa xiita do Iraque, aiatolá Ali al-Sistani, divulgou um sermão afirmando que o Parlamento que levou Abdul-Mahdi ao poder deve "reconsiderar suas opções".
O discurso de Al-Sistani foi uma reação ao acirramento da violência nos protestos contra o governo no dia anterior, quando mais de 40 manifestantes foram mortos na capital e em localidades no sul do país.
Al-Sistani exortou os deputados a agir "no interesse do Iraque para poupar o sangue de seus filhos e impedir que o país mergulhe em violência, caos e destruição", no sermão, lido por seu vice, Ahmed al-Safi na cidade de peregrinação de Kerbela. O religioso condenou a violenta repressão das forças de segurança contra manifestantes, que já havia sido criticada em um relatório do governo como excessiva.
O Iraque é abalado há dois meses por uma série de protestos violentos contra o governo, que já mataram quase 400 pessoas e feriram mais de 15 mil.
As manifestações, que vêm ocorrendo desde o início de outubro, são dirigidas contra a elite política dominada pelos xiitas, acusada pelos manifestantes de má gestão, corrupção e pela alta taxa de desemprego.
Segundo o Banco Mundial, a taxa de desemprego entre jovens no Iraque é de cerca de 25%. O país é classificado como a 12ª nação mais corrupta do mundo pela ONG Transparência Internacional.
Esta é a maior onda de protestos desde a queda do ditador Saddam Hussein, em 2003. Os manifestantes exigem a troca de governo e um novo sistema político.
O premiê Abdul-Mahdi reconheceu que decidiu renunciar após ouvir o discurso do aiatolá Ali al-Sistani. "Em resposta a esta chamada, e para facilitá-la o mais rápido possível, apresentarei ao Parlamento uma solicitação da minha renúncia da liderança do atual governo", disse o comunicado.
O primeiro-ministro também se referiu no texto ao discurso à nação feito no último dia 31 de outubro pelo presidente iraquiano, Barham Salih, em que ele assegurou que o premiê apresentaria sua renúncia se as forças políticas chegassem a um acordo e propusessem uma substituição.
No entanto, Abdul-Mahdi afirmou em várias ocasiões que ainda estava disposto a apresentar sua renúncia, mas alertou que essa opção causaria muitos problemas para o país.