Motivada pela política interna, reação alemã à ofensiva turca nos territórios curdos do norte da Síria é vergonhosamente tímida. E seria tão fácil forçar o presidente Erdogan a pensar duas vezes, opina Udo Bauer.
Udo Bauer | Deutsch Welle
Logo após o início da "Operação Fonte da Paz" – que na realidade nada mais é do que uma apropriação territorial pela Turquia na vizinha Síria – o ministro do Exterior alemão, Heiko Maas, emitiu palavras críticas. Ele condenou "com todo rigor" a ofensiva, instando a Turquia a suspender os ataques, diante da ameaça de mais uma catástrofe humanitária e nova onda de refugiados.
Tanques turcos penetram no norte da Síria |
A catástrofe já se esboça agora para os habitantes da região: várias dezenas de milhares de civis, principalmente curdos, já fogem do exército turco que avança e de seus ataques terrestres e aéreos. E nada indica que o presidente Recep Tayyip Erdogan vá permitir que se detenha seu plano de ocupar uma zona de 30 quilômetros de largura e 480 quilômetros de extensão, para lá realocar os refugiados sírios atualmente na Turquia. Erdogan faz, por assim dizer, o que quer, por motivos puramente de política interna.
Atualmente a presença constante de 3,6 milhões de refugiados de guerra sírios irrita enormemente a população turca, que os vê como concorrentes por postos de trabalho. Agora o presidente cede à pressão, e ao mesmo tempo pode expulsar da proximidade da fronteira os curdos, arqui-inimigos de todos os nacionalistas turcos. Em outras palavras: uma "limpeza étnica" se anuncia na assim chamada zona de segurança. E o governo alemão condena isso "com todo rigor". Tenho que dizer: é algo que me envergonha!
Estamos assim nos tornando cúmplices da traição aos curdos, que foram – e na verdade ainda são – nossos aliados. Os corajosos guerrilheiros e guerrilheiras foram os únicos que, ao longo de anos, combateram de modo eficaz o "Estado Islâmico" (EI), e por fim o venceram – com ajuda, aliás, de armas e treinadores das Forças Armadas alemãs.
Com o sistema de míssil anticarro Milan dos arsenais alemães, os curdos finalmente tiveram em mãos um meio para se defender dos temidos caminhões suicidas carregados de explosivos do EI. Na época, tratou-se de uma decisão corajosa da Alemanha, infringindo até mesmo o preceito de não fornecer armas a regiões de guerra. Mas agora, da mesma forma que os Estados Unidos, entregamos os curdos deploravelmente à própria sorte.
No momento, a Turquia trava uma guerra ofensiva com ajuda de armas alemãs, já que em 2018 o país lhe forneceu equipamento bélico no valor de 240 milhões de euros, o que corresponde a quase um terço das exportações armamentistas alemãs.
Nesse ponto seria possível intervir agora, sem qualquer problema: por que Berlim não decreta uma proibição das exportações – imediatamente? Isso seria um sinal potente, que seguramente forçaria Ancara a refletir.
Mas, ao que tudo indica, o governo federal alemão recua diante de sinais potentes – por motivos de política interna. Ele quer, por todos os meios, evitar que os turcos abram suas fronteiras para refugiados sírios, os quais, então, chegariam à Alemanha através da Grécia, como em 2015. Isso é um fantasma sobretudo para União Democrata Cristã (CDU), que nos últimos anos já perdeu grande parte de seu eleitorado devido à política migratória de sua líder, a chanceler federal Angel Merkel.
De fato, seria problemático se, de uma hora para outra, centenas de milhares novamente se pusessem a caminho da Europa Central. Mas quem garante que Erdogan não abrirá simplesmente as portas? Espontaneamente, porque lhe convém no momento? Assim como está, nos deixamos chantagear pela Turquia e cedemos, covardemente. Mas está na hora de a Alemanha finalmente demonstrar grandeza.