Em entrevista à DW, Annegret Kramp-Karrenbauer pleiteia que Alemanha, França e Reino Unido coordenem esforços para solucionar impasse no norte sírio e pede inclusão da Rússia nas negociações.
Maximiliane Koschyk e Austin Davis | Deutsch Welle
A ministra da Defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, defendeu nesta segunda-feira (21/10) a criação de uma zona de segurança internacional na Síria, coordenada em parceira com a Turquia e a Rússia.
Em entrevista, Annegret Kramp-Karrenbauer falou sobre ofensiva turca na Síria |
"Essa zona de segurança visaria retomar a luta contra o terrorismo e o 'Estado Islâmico', que está atualmente paralisada. Isso também garantiria a estabilização da região para a reconstrução da vida civil e para que aqueles que fugiram possam retornar voluntariamente", afirmou Kramp-Karrenbauer em entrevista à DW.
Líder do partido governista União Democrata-Cristã (CDU), a ministra afirmou que a proposta desta zona de segurança deveria ficar nas mãos da Alemanha, Reino Unido e França, levando em conta a Rússia e as sugestões da Turquia. "Essa seria uma resposta política e diplomática forte dos europeus na Otan", destacou. Kramp-Karrenbauer não citou a inclusão dos Estados Unidos neste processo.
A ministra afirmou que a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, já foi informada sobre essa recomendação, que seria apoiada por especialistas em defesa e política externa. A proposta precisa, porém, ser aprovada pelo Partido Social-Democrata (SPD), que governa a Alemanha ao lado da CDU.
"Não podemos apenas falar sobre isso. A Europa não pode ser simplesmente espectadora. Temos que apresentar nossas próprias recomendações e iniciar discussões", acrescentou a ministra.
A ministra não descartou a hipótese do envio de soldados alemães para essa região, mas ressaltou que a questão deve ser decidida pelo Parlamento alemão (Bundestag). Kramp-Karrenbauer garantiu, porém, que a proposta tem o apoio de seu partido.
Há mais de uma semana, tropas turcas e os combatentes sírios apoiados por Ancara lançaram uma ofensiva contra as forças curdas no norte da Síria. O movimento ocorreu apenas dois dias após o presidente americano, Donald Trump, ter anunciado a retirada das tropas americanas da região, deixando os curdos fragilizados.
Forças turcas visam atingir posições da milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG), considerada organização terrorista por Ancara, e que controla uma grande área no lado sírio da fronteira.
A ofensiva foi alvo de pesadas críticas por parte da comunidade internacional, não só por abrir uma nova frente de combate num país assolado há oito anos por uma guerra civil, mas também porque os curdos são considerados aliados importantes na luta contra o EI. A manobra poderia fortalecer o ressurgente grupo terrorista "Estado Islâmico" (EI).
O governo alemão também condenou a ofensiva turca. Na entrevista, Kramp-Karrenbauer disse que a situação no norte da Síria "afeta diretamente os interesses de segurança da Europa e da Alemanha".
Na semana passada, Merkel propôs uma cúpula entre França, Reino Unido e Turquia para debater a escalada de violência no norte da Síria, que já deixou 160 mil deslocados em menos de duas semanas. Kramp-Karrenbauer defendeu a inclusão da Rússia nestas discussões.
"A Rússia é um ator importante na Síria. Podem gostar ou não, mas é um fato e temos que lidar com ele", afirmou Kramp-Karrenbauer. A ministra contou que pretende usar o atual assento da Alemanha no Conselho de Segurança da ONU para as negociações e conversas bilaterais com ambas as partes. "A alternativa seria agora como europeu e como Otan simplesmente observar como continuam as possíveis conversas entre Turquia e Rússia", acrescentou.
A Turquia já promoveu outras ofensivas no norte da Síria contra as milícias curdas, consideradas terroristas pelo governo de Recep Tayyip Erdogan, e agora quer expulsá-las de uma área na fronteira. O objetivo é levar ao local os 3,5 milhões de refugiados sírios que fugiram para o território turco devido ao conflito na região.
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