O relato feito pelo presidente americano Donald Trump foi detalhado e repleto de adjetivos: "o líder do Estado Islâmico morreu como um cachorro, como um covarde" após entrar em um túnel sem saída na província de Idlib, "choramingando, chorando e gritando por todo o caminho", enquanto era perseguido por cães americanos.
BBC Brasil
Agora as Forças Armadas dos Estados Unidos divulgaram as primeiras filmagens do ataque no norte da Síria que resultou na morte de Abu Bakr al-Baghdadi. Mas o que trazem as imagens?
Agora as Forças Armadas dos Estados Unidos divulgaram as primeiras filmagens do ataque no norte da Síria que resultou na morte de Abu Bakr al-Baghdadi. Mas o que trazem as imagens?
Baghdadi announced the creation of a "caliphate" from Mosul in 2014 | AFP |
O vídeo granulado mostra soldados atirando contra militantes enquanto seguiam em direção ao complexo onde Abu Bakr al-Baghdadi estava escondido antes de se esconder no subsolo.
Baghdadi fugiu para um túnel e se matou detonando um colete com explosivos.
Após o ataque, o complexo foi destruído por bombas lançadas por aviões americanos.
O chefe do Comando Central dos EUA, general Kenneth McKenzie, disse que o ataque destruidor deixou os prédios parecendo "um estacionamento cheio de grandes buracos".
McKenzie afirmou que duas crianças morreram com Baghdadi no túnel — e não três, como o presidente Donald Trump havia relatado anteriormente.
O general não confirmou a descrição gráfica feita por Trump, de que Baghdadi choramingou antes de morrer.
"Ele se arrastou para um buraco levando com ele duas crianças pequenas e detonou os explosivos que carregava enquanto seu povo permanecia do lado de fora. Daí você pode deduzir que tipo de pessoa ele era", disse o general em entrevista a jornalistas no Pentágono.
"Essa seria minha observação empírica do que ele fez. Não sou capaz de confirmar mais nada sobre seus últimos segundos."
Segundo McKenzie, também foram mortos no complexo quatro mulheres — que usavam coletes com explosivos — e um homem. Há também um número incerto de pessoas que morreram depois de abrirem fogo contra helicópteros americanos.
"Quero deixar claro que, apesar da alta pressão e do alto perfil (do alvo) desse ataque, foram feitos todos os esforços para evitar baixas civis e proteger as crianças que suspeitávamos que estivessem no complexo", afirmou o general.
O líder do Estado Islâmico foi identificado por meio de seu DNA, a partir de amostras arquivadas desde a detenção dele em uma prisão iraquiana em 2004.
McKenzie relatou que os restos mortais de Baghdadi foram levados a uma base para identificação e depois jogados no mar 24 horas após sua morte "de acordo com as leis do conflito armado".
O general disse que as Forças Armadas dos EUA esperam que o EI faça algum tipo de ataque de vingança pela morte de seu líder.
Quem era Abu Bakr al-Baghdadi?
Baghdadi ganhou destaque em 2014, quando anunciou a criação de um "califado" em áreas do Iraque e da Síria.
O EI realizou várias ataques que resultaram em milhares de mortes.
O grupo jihadista impôs uma regra brutal a quase oito milhões de pessoas nas áreas sob seu controle e esteve por trás de vários ataques em cidades ao redor do mundo. Os EUA declararam o "califado" derrotado no início deste ano.
O nome verdadeiro de al-Baghdadi é Ibrahim Awwad Ibrahim al-Badri. Ele nasceu em 1971 na cidade de Samarra, no Iraque, em uma família sunita de classe média baixa. Quando jovem, Baghdadi adorava recitar trechos do Alcorão, e observava as regras do islamismo de forma rigorosa.
Baghdadi teve uma vida acadêmica voltada para os estudos religiosos. Em 1996, concluiu uma graduação em Estudos Islâmicos pela Universidade de Bagdá. Pouco depois, em 1999, concluiu o mestrado em estudos do Alcorão na Universidade Saddam de Estudos Islâmicos do Iraque. E, em 2007, tornou-se doutor no assunto pela mesma instituição.
Até 2004, ele morou em um bairro de Bagdá, Tobchi, com suas duas mulheres e seis filhos. Ele costumava ensinar as crianças do bairro a recitarem o Alcorão em uma mesquita local, e também jogava no time de futebol da mesquita.
Enquanto cursava a graduação, seu tio o convenceu a juntar-se à Irmandade Muçulmana - um grupo político-religioso.
No fim dos anos 2000, al-Baghdadi adotou a doutrina jihadista salafista — e se envolveu com a Al-Qaeda no Iraque (AQI), que mais tarde daria origem ao Estado Islâmico.
Meses depois da invasão do Iraque pelos Estados Unidos, em 2003, al-Baghdadi ajudou a fundar um grupo insurgente chamado Jaysh Ahl al-Sunah wa al-Jamaah (Exército Popular da Sunnah e Solidariedade Comunal).
Em fevereiro de 2004, o Exército dos EUA prendeu Baghdadi na cidade de Falluja e o enviou para a detenção em Camp Bucca, onde ele permaneceu por 10 meses.
Segundo um ex-colega de prisão, Baghdadi era uma pessoa taciturna. Mesmo assim, tinha o dom de se mover entre as facções rivais de Camp Bucca, onde ex-defensores de Saddam Hussein (1937-2006) conviviam com jihadistas islâmicos.
Baghdadi se aproximou de vários deles e manteve contato depois de liberto, o que aconteceu em dezembro de 2004.
Fora da prisão, ele se juntou ao Estado Islâmico no Iraque (ISI) e acabou subindo na hierarquia do grupo.
Em meio a divergências internas, Baghdadi queria estabelecer seu próprio Estado por meio da força bruta, antes de se confrontar com o presidente sírio Bashar al-Assad.
Ele se desentendeu com a Al-Qaeda e consolidou posições no leste da Síria, onde Baghdadi impôs severas leis religiosas.
Em junho de 2014, o Estado Islâmico capturou a segunda maior cidade do Iraque, Mossul. Logo depois, o porta-voz do grupo proclamou o retorno do califado.
No auge de seu poder, o Estado Islâmico chegou a controlar quase 88 mil quilômetros quadrados, ao longo da fronteira entre o Iraque e a Síria.
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