Tropas cruzaram a fronteira entre os dois países após ataque aéreo, que, segundo forças sírias, provocaram 'enorme pânico entre as pessoas'. ONG diz que 11 morreram em ofensiva a cidade de maioria curda, inclusive civis.
Por G1
A Turquia iniciou nesta quarta-feira (9) ataque contra alvos curdos no nordeste da Síria. Nesta tarde, o governo turco anunciou que militares cruzaram a fronteira entre os dois países – horas antes, houve uma ofensiva aérea na região.
Localidades atingidas pela ofensiva turca desta quarta-feira (9) — Foto: G1 Mundo |
De acordo com o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), a ofensiva deixou 11 pessoas mortas – oito delas eram civis. A organização diz que as vítimas morreram por disparos de artilharia contra a cidade de Qamishli, de maioria curda. As localidades de Ras al-Ayn e Tal Abyad também foram afetadas.
O governo turco chama a operação de "Fonte de Paz". Segundo o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, os alvos são a milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG), acusada de ter vínculo com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), e o Estado Islâmico. Forças lideradas pela YPG foram aliadas dos Estados Unidos no combate ao grupo terrorista durante a guerra na Síria.
De acordo com as Forças Democráticas Sírias (FDS), constituídas por uma aliança de combatentes curdos e árabes, aviões bombardearam áreas com civis e provocaram "enorme pânico entre as pessoas". As FDS, que estão no controle da região, informaram que dois civis morreram.
A mídia estatal síria e uma autoridade curda disseram que o ataque atingiu a cidade de Ras al-Ain, perto da fronteira com a Turquia.
O objetivo da ação, segundo Erdogan, é estabelecer uma "zona de segurança" no nordeste da Síria. Turquia pretende criar uma "zona livre" na fronteira com a Síria, onde se concentram as forças curdas. O governo de Erdogan alega que a milícia curda YPG, presente nessa região, atua de forma terrorista e está por trás de ataques em território turco ligados ao PKK.
O diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman, informou que milhares de pessoas deixaram a região. Eles se deslocaram para áreas adjacentes poupadas pelos ataques.
Na segunda-feira, a TV síria havia registrado ataques a bomba atribuídos a militares turcos contra alvos curdos. Entretanto, a Turquia não confirmou essa suposta primeira ofensiva.
Temor da volta do Estado Islâmico
A retirada das tropas americanas de posições importantes, como Ras al Ain e Tal Abyad, e o compromisso de não se envolver no confronto evidenciam uma mudança de estratégia por parte dos Estados Unidos, que abandona os curdos – os principais aliados de Washington na luta contra o grupo extremista.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinaliza com isso um desejo de se reaproximar da Turquia, país integrante da Otan e que tem o segundo maior exército da aliança. Trump também cumpre, assim, promessa de campanha de que retiraria o seu país de conflitos antigos.
No entanto, a ofensiva possibilitada pela medida tomada por Trump desagradou o presidente norte-americano, que chamou o ataque de "má ideia" (veja outras reações mais abaixo). Na segunda-feira, o republicano ameaçou "destruir totalmente a economia turca" em caso de ataque.
"Os Estados Unidos não apoiam esse ataque e deixaram claro à Turquia que essa operação é uma má ideia", afirmou Trump.
As FDS, também integradas pelos curdos, lutaram durante anos contra o Estado Islâmico e conquistaram em março seu último reduto na Síria, em Baguz.
Ancara rejeita esta hipótese, mas a ofensiva pode criar condições para o ressurgimento do grupo jihadista na região. Com os curdos enfraquecidos, sem apoio, e sob ataque turco, os terroristas remanescentes poderiam se aproveitar da situação e voltar a conquistar território.
Já a Organização das Nações Unidas (ONU) afirmou anteriormente que se prepara para o pior no norte da Síria.
A guerra da Síria, que começou com a repressão aos protestos pró-democracia em 2011, já deixou mais de 370 mil mortos e milhões de refugiados.
Reações
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, pediu à Turquia, membro da Aliança, moderação em sua operação e que não comprometa a luta contra os terroristas do Estado Islâmico. Ele disse que discutirá a ofensiva na sexta-feira com o presidente turco em Istambul.
"Conto com a Turquia para agir com moderação e garantir que o progresso que fizemos na luta contra o Estado Islâmico não seja comprometido", tuitou Stoltenberg.
A França disse que vai solicitar um encontro do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir a ação militar.
Outros países da região como Arábia Saudita, Irã e Bahrein também condenaram a ofensiva.
Curdos
Os curdos são um povo sem pátria e com um histórico de repressão e perseguições. Estima-se que cerca de 30 milhões vivam no território entre Turquia, Síria, Iraque, Irã e em uma pequena parte da Armênia. Mesmo tão populosa, a área conhecida historicamente como Curdistão não possui uma unidade territorial ou um governo único autônomo.
Os governos do Oriente Médio opõem-se à criação de um território autônomo para os curdos, pois temem que isso influencie movimentos separatistas em outros países.
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