Em reação à ofensiva turca, ministro alemão do Exterior diz que governo decidiu interromper a venda de qualquer equipamento militar que possa ser usado por Ancara na Síria. Turquia é a maior compradora de armas alemãs.
Deutsch Welle
O ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, declarou neste sábado (12/10) que o governo federal decidiu suspender a exportação de armas para a Turquia, em reação à ofensiva militar de Ancara no nordeste da Síria, criticada por várias instâncias internacionais.
Comboio militar turco chega a um lugarejo na fronteira com a Síria |
"Dado o contexto da ofensiva militar turca no nordeste da Síria, o governo federal não emitirá novas licenças para nenhum equipamento militar que possa ser usado na Síria pela Turquia", disse o ministro ao jornal Bild am Sonntag. Um porta-voz do Ministério do Exterior alemão confirmou a medida à emissora pública ZDF.
Maas frisou que Berlim tem seguido um curso bastante restritivo para a exportação de armas para Ancara desde 2016, especialmente após a ofensiva militar turca contra a região de Afrin, no norte da Síria. A Turquia é até então o maior comprador de armas alemãs.
Em 2018, a Alemanha exportou armas no valor de 234 milhões de euros para o país, o que representa quase um terço de todas as exportações de armas alemãs, segundo o Bild am Sonntag. Nos quatro primeiros meses de 2019, a Turquia comprou 184,1 milhões de euros em armas alemãs. Segundo o Ministério da Economia alemão, tratou-se exclusivamente de "bens para o setor marítimo".
Ainda não está claro como esse veto funcionará, nem quais bens afetará. Líderes políticos de partidos como A Esquerda e o Partido Verde exigem que o país deixe de exportar qualquer tipo de armas ao país governado por Recep Tayyip Erdogan. O ministro turco do Exterior, Mevlüt Cavusoglu, dissera em entrevista à DW que, se a Alemanha decidisse impor um embargo à venda de armas, isso apenas fortaleceria a Turquia.
"Deixe-me explicar desta maneira: esta é uma questão vital para nós e uma questão de segurança nacional, uma questão de sobrevivência", afirmou Cavusoglu. "Não importa o que qualquer um fizer, não importa se for um embargo de armas ou qualquer outra coisa, isso apenas nos fortalece." E reiterou: "Quinze anos atrás, produzíamos apenas 20% dos bens de que precisávamos, agora produzimos mais de 70% – tudo isso só nos fortalece."
Membro da Otan, a Turquia tem sido duramente criticada por sua ofensiva militar contra combatentes curdos no nordeste da Síria, iniciada nesta semana, poucos dias depois de os Estados Unidos terem anunciado a retirada de tropas americanas da região.
Forças turcas visam atingir posições da milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG), considerada organização terrorista por Ancara, e que controla uma grande área no lado sírio da fronteira.
A ofensiva foi alvo de pesadas críticas por parte da comunidade internacional, não só por abrir uma nova frente de combate num país assolado há oito anos por uma guerra civil, mas também porque os curdos são considerados aliados importantes na luta contra o "Estado Islâmico" (EI).
Nesta sexta-feira, a ONU alertou em comunicado que, em apenas três dias, a ofensiva da Turquia levou cerca de 100 mil a abandonarem suas casas, e que "o impacto humanitário já está sendo sentido".
O êxodo é o mais recente na guerra da Síria que já forçou cerca de 11 milhões – a metade da população nacional – a se deslocarem. A Turquia criticou o alerta de crise humanitária iminente, que teria sido "fabricado para desacreditar os esforços antiterroristas do país".