Um relatório de um delator divulgado nesta quinta-feira afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não só abusou do cargo para tentar solicitar interferência da Ucrânia na eleição presidencial de 2020 para benefício político próprio, mas que a Casa Branca também tentou “encobrir” evidências sobre a conduta de Trump.
Por Patricia Zengerle, David Morgan e Doina Chiacu | Reuters
WASHINGTON - O Comitê de Inteligência da Câmara dos Deputados, liderado pelo Partido Democrata, divulgou uma versão não confidencial do relatório, que havia gerado uma furiosa controvérsia e feito com que a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, iniciasse na terça-feira uma investigação formal de impeachment contra Trump.
Seção de documento divulgado pela Casa Branca sobre caso de Trump com Ucrânia 25/09/2019 REUTERS/Jim Bourg |
O relatório afirmou que Trump agiu de acordo com seus próprios interesses políticos, arriscando a segurança nacional, e que autoridades da Casa Branca intervieram para transferir evidências para um sistema eletrônico separado.
“Isto é um acobertamento”, disse Pelosi. “O presidente esteve envolvido em um acobertamento o tempo todo.”
Trump nega qualquer ato irregular.
De acordo com uma transcrição de uma ligação telefônica de 25 de julho, central à queixa do delator, Trump pressionou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, a investigar o pré-candidato democrata líder nas pesquisas para 2020, o ex-vice-presidente Joe Biden.
A ação de Trump foi coordenada com o secretário de Justiça dos EUA, William Barr, e com seu advogado pessoal, Rudy Giuliani. Uma transcrição da ligação foi divulgada pelo governo Trump na quarta-feira.
O relatório do delator, citando diversas autoridades norte-americanas, afirmou que autoridades sêniores da Casa Branca intervieram para “encobrir” registros da ligação, especialmente a transcrição oficial palavra por palavra.
“Em vez disso, a transcrição foi carregada em um sistema eletrônico separado, que é usado para armazenar e gerenciar informações confidenciais de uma natureza especialmente sensível”, segundo o relatório.
“Uma autoridade da Casa Branca descreveu este ato como um abuso deste sistema eletrônico porque a ligação não possuía nada remotamente sensível dentro de uma perspectiva de segurança nacional.”
Democratas acusam Trump de pedir a um outro país para manchar a reputação de um rival político interno. A controvérsia envolvendo a Ucrânia corre depois de conclusões da inteligência norte-americana de que a Rússia interferiu na eleição norte-americana de 2016 com uma campanha de hackeamentos e propagandas para impulsionar a candidatura de Trump.
Durante audiência de três horas do Comitê de Inteligência, a autoridade mais alta da inteligência dos EUA, o diretor em exercício da Inteligência Nacional, Joseph Maguire, afirmou que o delator havia agido de boa fé e seguido a lei ao apresentar a queixa, que tinha data de 12 de agosto.
A ligação a Zelenskiy ocorreu após Trump ordenar o congelamento de quase 400 milhões de dólares em ajuda norte-americana à Ucrânia, que o governo só liberou posteriormente. Antes da ligação, o governo da Ucrânia havia recebido informação de que a interação entre Zelenskiy e Trump dependia do fato de o líder ucraniano “entrar no jogo”, segundo o delator.
A identidade do delator, uma pessoa dentro da comunidade da inteligência dos EUA, não foi divulgada publicamente. No relatório, o delator afirmou que “não era uma testemunha direta da maior parte dos eventos descritos” e se baseou em informações de colegas.