Nacionalidade do petroleiro, que levava 700 mil litros de combustível, não foi divulgada. Sete integrantes da tripulação foram detidos.
France Presse
As forças navais do Irã interceptaram um "navio estrangeiro" no Golfo, informou neste domingo (4) a agência estatal IRNA. É a terceira embarcação bloqueada pelo país em menos de um mês.
O petroleiro Stena Impero, capturado pela Guarda Revolucionária do Irã, em foto não datada — Foto: Stena Bulk via AP |
As forças navais da Guarda Revolucionária, o exército ideológico do regime, capturaram o navio-tanque, mas não divulgaram sua nacionalidade. Sete membros da tripulação foram detidos na operação, que aconteceu na quarta-feira, segundo a agência de notícias Fars.
O navio transportava "700 mil litros de combustível contrabandeado nas proximidades da ilha de Farsi", norte do Golfo, e foi capturado pela Marinha da Guarda Revolucionária, afirmou a agência IRNA.
Ele foi levado para o porto de Bushehr e a "carga de combustível de contrabando entregue às autoridades" em coordenação com a justiça iraniana, ainda de acordo com a IRNA.
O petroleiro seguia com destino aos países árabes do Golfo, segundo o general Ramezan Zirahi, comandante das forças da Guarda Revolucionária que capturaram o navio.
Navios capturados
Essa foi a terceira interceptação de navios feita pelo Irã no Golfo em menos de um mês. Um terço do petróleo que transita por via marítima no mundo passa pelo Estreito de Ormuz, localizado na região.
No dia 14 de julho, o Irã capturou um petroleiro de bandeira panamenha, o "MT Riah", acusado de contrabando de combustível.
Cinco dias depois, um petroleiro sueco de bandeira britânica, "Stena Impero", foi interceptado sob suspeita de "não respeitar o código marítimo internacional". O país persa alegou que o barco havia sido capturado após colidir com um pesqueiro, mas o Reino Unido rejeitou as explicações de Teerã.
Histórico de conflito
As capturas de navios pelo Irã começaram duas semanas após o Reino Unido apreender um petroleiro iraniano "Grace 1" na costa de Gibraltar. Londres afirmou que o "Grace 1" foi interceptado por levar petróleo à Síria, país em guerra e sob sanções da União Europeia, o que Teerã nega.
O Reino Unido determinou que a Marinha escolte os navios civis com bandeira britânica que navegam pelo Estreito de Ormuz.
O governo dos Estados Unidos quer estabelecer uma coalizão internacional no Golfo para proteger os navios mercantes. A ideia é que cada país escolte militarmente suas embarcações, com o apoio do exército americano. Mas os europeus relutam ante a proposta, para evitar uma associação com a política de "máxima pressão" sobre o Irã defendida pelo presidente americano, Donald Trump.
O caso deste domingo pode aumentar ainda mais a tensão entre o Irã e os Estados Unidos, que não para de crescer desde que Washington decidiu abandonar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, em maio 2018. Foi quando os EUA voltaram a aplicar as sanções contra Teerã.
Essas sanções asfixiaram a economia do Irã, que tem a quarta maior reserva mundial de petróleo e a segunda maior de gás, e levaram o país a perder quase todos os compradores de combustível.
Já os países europeus querem preservar o acordo sobre o programa nuclear iraniano, alcançado em 2015.
Recentemente, o Irã anunciou que elevou o nível de enriquecimento de urânio para acima do permitido pelo acordo nuclear internacional e que também aumentou os estoques do material, que tem potencial para ser usado na fabricação de armas. Os EUA ameaçaram retaliar com novas sanções.
Além disso, atos de sabotagem de maio e junho contra petroleiros no Golfo, que Washington atribuiu a Teerã (e que o Irã negou ter cometido), e a destruição de um drone americano contribuíram para aumentar a crise.
Por conta das barreiras comerciais impostas pelos EUA, dois navios iranianos ficaram parados no Brasil, no porto de Paranaguá, por semanas. A Petrobras se recusou a abastecê-los por temer represálias dos americanos, mas forneceu o combustível no fim de julho após determinação da Justiça.
Apesar das recentes capturas de navios, um general iraniano afirmou neste domingo que os riscos de um conflito no Golfo diminuíram.
"À primeira vista, pode parecer que a situação no Golfo Pérsico segue para um conflito militar, mas se você observar mais de perto verá que a probabilidade de tal conflito é cada vez menos elevada", declarou o general Ahmad Reza Purdastan.
Ao mesmo tempo, ele destacou que o "Golfo Pérsico é como um barril de pólvora e a primeira explosão pode levar a um grande desastre".