Por incrível que pareça, imagem não é da verdadeira bandeira nem daqueles que a hastearam em Berlim. Apenas foi tirada mais tarde como propaganda.
Gueórgui Manáev | Russia Beyond
A Segunda Guerra Mundial claramente chegava ao fim em abril de 1945, quando o Exército Vermelho se aproximou de Berlim. A 3ª Divisão da Tropa de Choque da Primeira Frente Bielorrussa foi a primeira a chegar ao edifício do Reichstag, onde as últimas forças nazistas estavam cercadas e defendiam ferozmente o posto.
Fotos retocada (esq.) de original (dir.) | Evguêni Khaldei/Sputnik |
“Sugeri fazer 9 estandartes vermelhos [para hastear sobre o edifício do Reichstag], um para cada uma das divisões de tiro do nosso Exército. O conselho militar aprovou a decisão. Decidimos abandonar o luxo: transformá-los em uma simples tela escarlate, aderindo estritamente à forma e ao tamanho da bandeira do Estado Soviético. As mulheres pegaram tesouras, linhas e agulhas, costuraram e cortaram. Elas não escondiam as lágrimas. Naquele exato momento, muitos de nós entendiam o quão perto estava o fim dessa guerra desumana...”, lembrou o chefe do departamento político da 3ª Divisão da Tropa de Choque, Fiódor Lisitsin. Foi entào decidido que a primeira divisão a alcançar o Reichstag ergueria a bandeira sobre ele.
Vários estandartes
Em 30 de abril, o Exército soviético iniciou seu ataque ao Reichstag. Com o edifício defendido por cerca de 5.000 soldados e oficiais nazistas, e diversas baterias de artilharia pesada, a missão parecia mais difícil do que o esperado.
À medida que partes das 150ª e 171ª divisões de tiro avançavam dentro do edifício, elas deixavam bandeiras vermelhas – grandes e pequenas, para demarcar seu controle sobre as áreas do Reichstag.
Foi somente à noite, após um terceiro ataque, que a maior parte do edifício do Reichstag ficou sob controle soviético. Às 22h40, um grupo de soldados soviéticos, despercebido pelos alemães que ainda controlavam os andares superiores, esgueirou-se pelo teto do pórtico e colocou uma faixa vermelha dentro da coroa da Estátua da Vitória. Este não se tornou o Estandarte da Vitória, porém, porque não estava sobre o edifício, mas sobre o pórtico. Havia pelo menos mais três estandartes hasteados sobre o Reichstag naquela noite, mas todos eles destruídos pela artilharia de fogo alemã.
Dançando sobre o Reichstag
Apenas um estandarte sobreviveu – um instalado nas primeiras horas de 1º de maio pelo tenente Aleksêi Berest, pelo sargento Mikhail Iegorov e pelo sargento mais novo Meliton Kantaria na parte oriental do telhado. Na manhã de 2 de maio, enquanto o prédio ainda era parcialmente controlado pelos alemães, Iegorov, Kantaria e o coronel Fiódor Zintchenko subiram novamente para hastear a bandeira ainda mais alto.
O chefe do 1º batalhão da 150ª divisão, capitão Stepan Neustroev, era o superior de Berest, Kantaria e Iegorov, e encarregado do hasteamento.
“Mais de uma hora se passou. Nós pensamos: é isso aí, ninguém vai voltar vivo. E de repente, vimos: através da cúpula de vidro do Reichstag, os três estavam ‘dançando’ e, obviamente, não de alegria. Só porque as chances de ser atingido por uma bala se estiver se movendo são menores”, lembrou, mais tarde, Neustroev em suas memórias.
Dias depois, o estandarte foi retirado para ser transportado para Moscou. Enquanto estava no quartel-general do Exército, oficiais pintaram nele: “9º Batalhão de Tiro da 150ª Divisão da 3ª Tropa de Choque da 1ª Frente Bielorrussa” para se imortalizarem.
No entanto, o verdadeiro estandarte não foi exibido no Desfile do Vitória em 24 de junho de 1945. Neustroev, que levava a bandeira, tinha cinco feridas dos tempos de guerra e mal conseguia andar, e seus soldados não conseguiam marchar adequadamente – durante a guerra, não tiveram tempo para exercícios.
O Estandarte da Vitória foi exibido pela primeira vez no 20º aniversário da vitória, em 9 de maio de 1965. Foi carregado por Iegorov, Kantaria e pelo coronel Konstantin Samsonov.
A verdadeira bandeira é agora mantida em condições especiais no porão do Museu Central das Forças Armadas, em Moscou. Há também uma cópia exata do estandarte em exibição dentro de uma caixa de vidro.
Por que a foto não é autêntica?
Não havia fotos ou noticiários sobre o hasteamento d Estandarte da Vitória. Depois que Berlim foi tomada, o correspondente fotográfico militar soviético Evguêni Khaldei pediu a Aleksêi Kovalev, Abdulkhakim Ismailov e Leonid Goritchov, soldados do 8º Exército da Guarda (que não participaram do cerco real do Reichstag nem ergueram bandeiras) posassem para uma foto.
Foto tirada no mesmo dia da encenaçãoEvguêni Khaldei/TASS |
Como se vê claramente, o estandarte que eles estão hasteando não é o da Vitória (esta bandeira na foto foi trazida por Evguêni Khaldei) e não está sendo colocada sobre a cúpula do Reichstag. No entanto, esta mesma foto veio a retratar o momento histórico.
A foto foi retocada antes da publicação nos jornais soviéticos. A bandeira foi avermelhada ainda mais, e nuvens de tempestade foram acrescentadas ao fundo. Além disso, Abdulkhakim Ismailov (que é visto segurando Aleksêi Kovalev, que ergue o estandarte) tinha relógios nas duas mãos – os jornalistas soviéticos entenderam que isso poderia levar a suspeitas de saques por soldados soviéticos. Portanto, o segundo relógio foi removido antes da publicação.
A foto original não retocada veio a público apenas em 2013 e hoje está no Museu Judaico e Centro de Tolerância, em Moscou.
A foto foi retocada antes da publicação nos jornais soviéticos. A bandeira foi avermelhada ainda mais, e nuvens de tempestade foram acrescentadas ao fundo. Além disso, Abdulkhakim Ismailov (que é visto segurando Aleksêi Kovalev, que ergue o estandarte) tinha relógios nas duas mãos – os jornalistas soviéticos entenderam que isso poderia levar a suspeitas de saques por soldados soviéticos. Portanto, o segundo relógio foi removido antes da publicação.
A foto original não retocada veio a público apenas em 2013 e hoje está no Museu Judaico e Centro de Tolerância, em Moscou.
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