Diálogo ficou inviabilizado com possibilidade de inclusão do Hizbullah em lista de grupos terroristas
Ricardo Della Coletta | Folha de S.Paulo
O Brasil deve abandonar sua participação na Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano), encerrando sua presença no comando da força-tarefa marítima da missão de paz da ONU.
Hasan Nasrallah, líder do Hezbollah | Mahmoud Zayyat (AFP) |
A informação foi confirmada à Folha por interlocutores no governo que acompanham o tema. Eles não disseram quando a retirada deve ocorrer, mas afirmaram que a decisão já está tomada.
O Brasil comanda a força-tarefa marítima da Unifil desde 2011. A missão de paz da ONU no Líbano foi criada em 1978, na esteira da invasão israelense no sul do país árabe.
Pesou para a decisão de abandonar a Unifil, segundo membros do governo ouvidos pela Folha sob condição de anonimato, o cenário de cortes orçamentários na Defesa.
Além disso, interlocutores que acompanham o tema avaliam que a presença brasileira no comando na missão ficaria prejudicada com a decisão do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de declarar o Hizbullah uma organização terrorista.
Embora tenha um braço que atue como milícia, o Hizbullah é um importante partido político e organização social no Líbano, sendo parte da coalizão de governo do país árabe.
Segundo uma pessoa que acompanha o caso, o Brasil era visto como um mediador de confiança pelo governo libanês, justamente por não tomar lado no histórico conflito árabe-israelense.
Com a nova postura do governo Bolsonaro de aproximação com Israel e com a decisão de Bolsonaro de listar o Hizbullah como um grupo terrorista, a situação mudou.
O Ministério da Defesa disse que o navio brasileiro no Líbano “continua operando normalmente, como capitânia da força-tarefa marítima da Unifil”.
Referindo-se a uma reportagem publicada pelo site especializado Defesanet, que afirma que a retirada do Brasil da força de paz do Líbano responde a uma solicitação de Israel, o Ministério da Defesa disse que não houve pedido de Tel-Aviv.
Segundo informações da pasta, o Brasil mantém um navio e uma aeronave na costa libanesa, com o objetivo “de impedir a entrada de armas ilegais e contrabandos naquele país, além de contribuir para o treinamento da marinha” do país árabe. A força naval comandada pelo Brasil inclui embarcações de diferentes nacionalidades.