Trump anuncia que "sanções adicionais" a Teerã e reitera que a opção militar continua sobre a mesa
Ángeles Espinosa e Pablo Guimón | El País
O Irã advertiu neste sábado que responderá com firmeza a um eventual ataque dos Estados Unidos ou de seus aliados. Um porta-voz militar falou de “consequências devastadoras” para os interesses de Washington na região, um dia depois de o presidente norte-americano, Donald Trump, confirmar que tinha mandado bombardear alvos iranianos após o abate de um drone dos EUA, mas mudou de ideia 10 minutos antes para evitar vítimas.
Supostos restos do avião não tripulado norte-americano mostrados em Teerã nesta sexta-feira | TASNIM NEWS AGENCY (REUTERS) |
Trump, por sua vez, anunciou neste sábado que imporá “sanções adicionais” ao Irã a fim de impedir que o regime de Teerã obtenha armas nucleares. “Em alguns casos vamos devagar, mas em outros estamos avançando com rapidez”, acrescentou, sem entrar em detalhes sobre as novas sanções.
Em declarações a jornalistas nos jardins da Casa Branca, Trump advertiu que a opção militar continua sobre a mesa, apenas 24 horas depois de admitir que recuou de um ataque no último momento, por razões humanitárias.
“Confio em que o Irã esteja preparado e se preocupe com seu povo”, disse o presidente republicano, que anunciou que se dirigia a sua residência de descanso em Camp David (Maryland), nos arredores de Washington, para “falar sobre o Irã”. “É importante reiniciar com o Irã, tornar o Irã grande de novo”, disse, numa alusão ao seu popular slogan eleitoral.
A agência de notícias iraniana IRIB informou também que Teerã executou nos últimos dias um ex-funcionário do Ministério de Defesa condenado por espionar para a CIA. Jalal Hajizavar, que tinha deixado seu cargo há nove anos e foi condenado por um tribunal militar depois de uma investigação que descobriu documentos e equipamentos de espionagem na sua casa, foi executado na prisão de Rajai Shahr, na cidade de Karaj, sem que mais detalhes tenham sido divulgados.
“Independentemente das decisões que sejam tomadas [pelos EUA], não permitiremos que se viole o território da República Islâmica. Estamos preparados para fazer frente a qualquer ameaça contra a integridade territorial”, reiterou neste sábado o porta-voz da chancelaria, Abbas Mousavi, numa entrevista à agência iraniana Tasnim.
Suas palavras foram reforçadas pouco depois por declarações do porta-voz do Estado-Maior das Forças Armadas do Irã, general Abolfazl Sherkarchi, alertando que “qualquer erro dos Estados Unidos ou de seus aliados seria como disparar contra um barril de pólvora” que arrasaria a região. “Disparar uma bala contra o Irã terá consequências devastadoras para os interesses dos Estados Unidos e seus aliados na região”, ameaçou.
Suas palavras, também noticiadas pela Tasnim, dão a entender que, caso for atacado, o Irã recorrerá aos grupos armados que apadrinha no Oriente Médio. Essa possibilidade, que os analistas já cogitam, pode ter pesado também na decisão de Trump de abortar a operação de represália que tinha ordenado.
As Forças Armadas iranianas talvez não sejam um inimigo à altura do maquinário militar norte-americano. Mas, além de sua entrega patriótica, contam com a cartada de protegidos regionais que lhes dariam vantagem em um contexto de guerra assimétrica. Do Hezbollah libanês aos rebeldes huthis do Iêmen, passando por milícias iraquianas e pelo regime sírio, a Guarda Revolucionária (um exército paralelo mais bem dotado que as forças convencionais) cultivou diferentes níveis de relação com todos esses grupos afiliados à “resistência contra os EUA” e, em caso de necessidade, esperaria sua ajuda.
O Iraque teme mais do que ninguém essa possibilidade, já que em seu território estão mobilizados milhares de soldados norte-americanos que, como ocorreu durante a ocupação subsequente à queda de Saddam Hussein, poderiam se transformar em alvo das milícias treinadas e armadas pelo Irã. De fato, a aviação norte-americana se viu obrigada a desmentir que esteja retirando funcionários terceirizados e parte do seu pessoal da base aérea de Balad, ao norte de Bagdá, depois de circularem informações nesse sentido.
Enquanto isso, a Arábia Saudita interpreta que essa assistência já está em andamento através da intensificação dos ataques huthis contra seu território nas últimas semanas. Embora a guerra dos sauditas contra os rebeldes iemenitas tenha outra origem, o atual recrudescimento coincidiu com as sabotagens em petroleiros no mar de Omã, que tanto Washington quanto Riad atribuíram ao Irã. Teerã rejeitou essas alegações e disse que se trata de uma operação para desprestigiar a República Islâmica.
Novamente na manhã deste sábado, a coalizão militar dirigida por Riad informou que sua força aérea tinha interceptado e destruído dois drones lançados pelos rebeldes da província de Sana, “dentro do espaço aéreo iemenita”. Há um mês, dois desses aparelhos não tripulados causaram danos em instalações petrolíferas no centro da Arábia Saudita. Na semana passada um míssil huthi deixou 26 feridos ao atingir o terminal do aeroporto internacional da Abha.
Em outro sinal das implicações regionais da atual crise, o Ministério de Relações Exteriores do Irã convocou neste sábado o encarregado de negócios dos Emirados Árabes Unidos em Teerã para discutir a questão do drone norte-americano. Segundo dados revelados pelos militares iranianos, “o aparelho saiu de uma base dos EUA nos Emirados”, país que é um importante aliado não só de Washington, mas também de Riad, junto a cujo Exército intervém no Iêmen para restaurar o presidente que os huthi depuseram.
O chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif, publicou por sua vez neste sábado no Twitter o traçado por satélite da rota seguida pelo drone norte-americano abatido, no qual se observa que o avião espião RQ-4 Global Hawk esteve dentro do espaço aéreo iraniano durante grande parte do trajeto. Zarif, inclusive, mostra os pontos onde o Exército iraniano tentou manter contato com o aparelho e seus operadores para desativar a situação. O mapa exibe com um marcador vermelho o local exato onde o drone foi derrubado: a 15 quilômetros da costa sul de Kouh e Mobarak, na província de Hormozgan, e dentro de suas águas territoriais.
O ministério britânico de Relações Exteriores anunciou que o secretário de Estado para o Oriente Médio, Andrew Murrison, visitará o Irã no domingo para abordar com altos funcionários a situação no Golfo. Murrison pedirá uma "desescalada urgente" da crise e transmitirá a preocupação de Londres quanto ao papel de Teerã na região e sua ameaça de deixar de respeitar o acordo nuclear “com o qual o Reino Unido continua totalmente comprometido", segundo nota da chancelaria.
MERKEL ALERTA AOS EUA SOBRE OS RISCOS DE UMA POLÍTICA EXTERNA UNILATERAL
DPA / EP
A chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, alertou neste sábado contra o exercício de uma política externa unilateral, numa referência velada aos Estados Unidos e sua escalada de tensão com o Irã.
"A desconfiança já se tornou quase uma política de governo em alguns lugares", disse Merkel durante o Congresso da Igreja Evangélica Alemã na cidade de Dortmund. Ela defendeu a ação conjunta e o diálogo, porque “sem a base da confiança a política internacional não pode ser bem-sucedida”.
As declarações de Merkel foram recebidas com intensos aplausos pelo público do congresso. Quando Merkel se aproximou da tribuna, o público que enchia o local a ovacionou de pé.
"É preciso haver uma solução política, e é nisso que estamos trabalhando", indicou. Além disso, a mandatária alemã afirmou que o conflito entre o Irã e os Estados Unidos será discutido, ao menos de forma bilateral, durante a cúpula do G-20 programada para os dias 28 e 29 de junho em Osaka, no Japão.
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