Presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Eduardo Bolsonaro participou de reunião sobre a cooperação nuclear entre Brasil e Argentina. Encontro acontece após deputado defender desenvolvimento de armas nucleares, postura que, na visão de especialista ouvido pela Sputnik Brasil enfraquece a relação militar entre os dois países.
Sputnik
Pesquisador da Escola de Guerra Naval e professor de relações internacionais, Ricardo Cabral considerou que as declarações de Eduardo Bolsonaro tocaram em um ponto sensível da cooperação entre Argentina e Brasil. Segundo Cabral, a relação militar entre os dois países se iniciou de fato no governo Geisel e se aprofundou durante a gestão de Sarney, mas a questão nuclear sempre foi motivo de desconforto.
Deputado Federal Carlos Bolsonaro (PSC) | Lucio Bernardo Junior/ Câmara dos Deputados |
"A cooperação militar entre Brasil e Argentina é bastante extensa e profunda. A cooperação nuclear, porém, sempre foi um problema, já que ambos os governos tentaram viabilizar a construção de armas nucleares e abandonaram após a assinatura de vários protocolos sobre isso. Causa desconforto aos argentinos mesmo o projeto de construção do submarino nuclear", diz o professor em referência ao projeto SN Álvaro Alberto desenvolvido pela Marinha em parceria com a França.
O submarino nuclear brasileiro - sonho da Marinha há décadas - deve ser concluído em 2029. A embarcação é mais veloz, consegue ficar submerso por mais tempo e permite a instalação de mísseis encapsulados, aspecto mais complicado em um submarino convencional. Também funciona como efeito dissuasivo, já que um submarino nuclear é mais silencioso, é capaz de fazer ataques e fugir da caça após o início da retaliação por navios de superfície.
Ao defender o desenvolvimento de armas nucleares para conter a "ameaça Rússia- China", Eduardo Bolsonaro tocou em ponto sensível para as diplomacias do Brasil e da Argentina. Mais do que isso, avalia Braga, o deputado deu margem para que os EUA continuem pressionando os dois países a assinarem o Protocolo Adicional do Tratado de Não Proliferação Nuclear, mecanismo jurídico que permitiria inspeções mais abrangentes em instalações atômicas e poderia comprometer segredos industriais brasileiros.
Brasil e Argentina gerem desde os anos 90 a Agência Brasileiro-Argentina de Controle e Contabilidade de Materiais Nucleares (Abacc) e argumentam que o mecanismo já dispõem de ferramentas de contenção dos seus respectivos programas nucleares sem a necessidade do protocolo.
"Temos segredos industriais a se preservar, como por exemplo a forma como o reator está sendo construído. Uma declaração dessas fragiliza a posição de uso pacífico da energia nuclear", avalia Cabral. "Você vai levantar uma questão destas em um momento em que sequer se consegue dar continuidade aos programas de modernização [das Forças Armadas]? É uma perda de tempo, é pautar algo inimaginável", critica o especialista.
Cabral diz que o protocolo adicional é "vago" e abre margem para que outros países copiem aspectos da tecnologia nuclear brasileira. "É uma pressão que deve continuar, declarações como as de Eduardo Bolsonaro não ajudam", conclui.
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