Vários motivos podem explicar a recente onda de ataques entre Israel e a Faixa de Gaza, mas aparentemente o governo israelense cometeu um erro decisivo, opina Peter Philipp.
Peter Philipp | Deutsch Welle
Com a ajuda do Egito, das Nações Unidas e do Catar, foi possível na manhã desta segunda-feira (06/05) pôr um fim ao menos temporário à recente escalada entre Israel e os radicais islâmicos que dominam Gaza.
Centenas de foguetes foram disparados contra Israel a partir de Gaza |
Em comparação com eventos anteriores, a luta foi menor desta vez – apenas no fim de semana – e causou menos vítimas do que o habitual. Mesmo assim, provocou mais confusão, incerteza e apreensão do que conflitos armados anteriores dentro e em torno da Faixa de Gaza: em poucas horas mais de 800 foguetes foram disparados contra Israel a partir do enclave palestino controlado pelos radicais islâmicos do Hamas.
A resposta não tardou: Israel bombardeou centenas de alvos supostamente estratégicos do Hamas e de sua facção aliada Jihad Islâmica. E também retomou a estratégia de "assassinatos seletivos" ao bombardear o carro de um integrante do Hamas, que teria sido responsável pela transferência de fundos do Irã para a Faixa de Gaza – dinheiro sem o qual não teria sido possível produzir tantos foguetes no enclave palestino.
Passado menos de um mês das eleições israelenses, o reeleito Benjamin Netanyahu parece já ter desistido da ideia que levou à crise da coalizão de governo e à renúncia do então ministro da Defesa Avigdor Lieberman, no final do ano passado: depois de repetidos ataques contra Israel a partir de Gaza, ele havia exigido duros contra-ataques israelenses.
Netanyahu, no entanto, hesitou e preferiu, após a mediação do Egito, fechar rapidamente um cessar-fogo informal com o Hamas.
"Informal" porque o Hamas, que surgiu a partir da Irmandade Muçulmana, está disposto na melhor das hipóteses a uma "hudna": um cessar-fogo temporário que pode ser estendido várias vezes, mas não seria um acordo formal com Israel, que não é reconhecido pelo Hamas.
Nem o governo israelense falou de um acordo porque a cisão entre os palestinos da Cisjordânia, controlada pelo Fatah, e os da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, combina bem com o conceito de dominação do governo israelense sobre toda a Palestina.
No entanto, Israel já havia garantido na onda anterior de ataques no início do ano que, se um cessar-fogo fosse mantido pelo Hamas, estaria disposto a abolir ou aliviar várias restrições impostas à Faixa de Gaza.
Entre outras coisas, liberar novamente a zona de 12 milhas para os pescadores do território palestino, suspender a interrupção do fornecimento de petróleo para geração de energia na Faixa de Gaza e permitir a transferência de milhões de dólares em ajuda do Catar para o enclave.
Mas quase nada disso foi implementado. Após o início do novo cessar-fogo, na manhã de segunda-feira, os analistas israelenses admitiram em todo caso que nesse ponto "provavelmente não se fez o suficiente".
No fim de semana, não ficou claro o que poderia ter levado o Hamas a aumentar a tensão na região justamente neste momento. Uma explicação, embora sem evidência concreta: o Irã enviou a Jihad Islâmica para aumentar a tensão, depois que o Hamas caiu em desgraça em Teerã devido ao seu conluio com Israel.
Uma segunda teoria: pretende-se perturbar o próximo feriado nacional de Israel. E uma terceira: o objetivo é torpedear o Eurovision Song Contest (Festival Eurovisão da Canção) a se realizar na próxima semana em Tel Aviv. Ao menos quanto ao Eurovisão, o primeiro-ministro Netanyahu mostrou-se resoluto em afirmar que os ataques de Gaza não tiveram nenhum impacto sobre o concurso anual de canções.
Netanyahu não mencionou seus problemas imediatos: ele se encontra no meio de negociações para formação de uma coalizão de governo, que não se tornarão mais fáceis nessa situação. Ou que agora se iniciam os exames finais do ensino médio, cuja realização se torna quase inadmissível dado o estresse nervoso dos estudantes diante dos constantes alarmes de sirenes e noites em abrigos antiaéreos.
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