Em entrevista à GloboNews, presidente autoproclamado falou sobre importância da comunidade internacional para a operação dos oposicionistas de derrubar Maduro.
Por Marcelo Lins | GloboNews
O presidente autoproclamado da Venezuela, Juan Guaidó, negou, em entrevista exclusiva à GloboNews, que a oposição a Nicolás Maduro esteja dividida e reforçou que os militares estão descontentes com a situação no país.
Guaidó nega que a oposição a Maduro esteja dividida | Reprodução |
"A Venezuela tem sofrido durante anos. Maduro segue usurpando das suas funções", afirmou Guaidó. "Estamos absolutamente unidos. Unidos na causa para o país ir adiante, há uma união absoluta pela causa da justiça da Venezuela."
Na terça-feira (30) da semana passada, Guaidó convocou a população às ruas e disse que havia conseguido o apoio de integrantes das Forças Armadas para pôr fim ao que chamou de "usurpação" na Venezuela. Segundo ele, era o início da fase final da chamada Operação Liberdade.
Entretanto, os militares de alta patente mantiveram o respaldo a Maduro, que acusou a oposição liderada, por Guaidó, de querer iniciar uma guerra civil no país. Em discurso, o chavista ainda insinuou que os Estados Unidos poderiam ordenar invasão militar caso a tensão interna escalasse para um conflito armado.
Houve confrontos violentos em Caracas, principalmente na terça e na quarta-feira (dia 1º). Ao menos cinco pessoas morreram e mais de 239 ficaram feridas, de acordo com levantamento da Organização das Nações Unidas (ONU).
À GloboNews, Guaidó disse que mantém a decisão de convocar novas eleições caso Maduro caia: "Seremos um governo de transição para ter uma eleição livre".
Também avaliou por que está livre. "Porque está tá na nossa constituição. Porque sou presidente da Assembleia, tenho o respaldo da população e [da comunidade] internacional. Apesar que eu creio que vivemos numa ditadura", afirmou.
'Militares descontentes'
Há uma disputa em curso na Venezuela pela adesão dos militares. De um lado, Maduro fez um pronunciamento ao vivo na semana passada ao lado da cúpula das Forças Armadas e apareceu ao lado de fileiras de militares.
Já Guaidó tenta angariar o apoio. Ele chegou a admitir, ainda na quarta da semana passada, que os militares que estiveram com ele no levante "não foram suficientes". "Faltam peças importantes, as Forças Armadas, e temos de continuar falando com eles. Ficou claro que nos ouvem."
Questionado na entrevista à GloboNews se acredita ter havido mudança da parte dos militares com relação aos generais leais ao regime de Maduro, o presidente autoproclamado respondeu:
"Sem dúvida. Alguns ganhavam US$ 10 por mês. Passado 30 de abril, não somente militares, mas também o povo da Venezuela, 91% da população apoia a mudança, os militares estão descontentes".
Sobre o atual estágio da Operação Liberdade, declarou: "Um evento ímpar que começou em abril. Temos demonstrado, de forma clara, que as Forças armadas estão do lado do povo, para sair dessa tragédia, para alcançar a mudança".
Guaidó afirmou que, nessa "transição para a democracia, temos conversado com militares". De acordo com ele, integrantes das Forças Armadas estão "comprometidos com esse processo". Militares teriam se comprometido a "ajudar" a mudança.
'Apoio internacional'
O líder oposicionista citou que o país sofre com "falta de liberdade, democracia" e enfrenta problemas como "falta de medicamentos". Para ele, o regime de Maduro "segue assassinando venezuelanos, prendendo a oposição".
Sobre um eventual apoio militar dos Estados Unidos para tirar Maduro do poder, Guaidó afirmou:
"Não vamos confundir os fins com os meios. Os meios para se alcançar são os protestos, a população, os meios políticos e apoio internacional. Mas a ditadura de Maduro proíbe isso".
"Primeiro, que isso não é um tema de Washington. Isso não é um tema dos Estados Unidos. É também do Brasil, da Europa, de Israel. É da constituição. Não se pode dar um golpe quando se tem respaldo. Hoje, os militares que se colocam ao lado da constituição são patriotas – as enfermeiras, os cidadãos que buscam paz e tranquilidade."
Guaidó diz buscar "cooperação internacional". "Agradecemos o apoio e o respaldo dos países." Brasil e Estados Unidos estão entre os países que declararam apoio ao oposicionista. Cuba, Bolívia e Rússia criticaram a ação da semana passada.
Ele afirmou ainda acreditar que "algum momento, a relação de Venezuela e do Brasil só comercial se deteriorou".
"Essa nova relação com o presidente Bolsonaro – e, insisto, a luta pela democracia, pela liberdade, são determinantes para o nosso povo."
Crise na Venezuela
A tentativa de derrubar o regime de Nicolás Maduro é o mais recente capítulo na profunda crise política da Venezuela. Há mais de 15 anos, o país enfrenta uma crescente crise política, econômica e social.
A Venezuela vive um colapso econômico e humanitário, com inflação acima de 1.000.000% e milhares de venezuelanos fugindo para outras partes da América Latina e do mundo.
Em abril, diversas interrupções no fornecimento de energia e água ameaçaram uma catástrofe sanitária.
A ONG norte-americana Human Rights Watch disse que a saúde do país está sob "emergência humanitária complexa".
Guaidó avalia como seria cenário pós-Maduro e fala da 'Venezuela dos sonhos'
Para Guaidó, Maduro faz um "sequestro de direitos" no país. "A Venezuela é um país que tem reserva de petróleo grande, com venezuelanos vivendo com US$ 6 ao mês", falou.
Citou que a população venezuelana faz manifestações desde 2014. Ele acredita que os protestos devem continuar acontecendo pelo tempo "que seja necessário para atingir a nossa liberdade".
"E quanto tempo [a população] aguenta com Maduro usurpando direitos? Muito pouco. Quem ficou em casa, tem filhos que foram para outros países e enviam ajuda, remédios e coisas que são impossíveis de comprar na Venezuela. Quanto tempo aguentamos? O tempo necessário para mudar. Isso hoje é um problema que queremos resolver. Vivemos uma ditadura que está perseguindo e encarcerando."
Ele espera que, se o regime cair, ocorra uma mudança de governo, econômica, recuperação dos negócios de petróleo na Venezuela, do emprego e uma solução para a crise humanitária.
Perguntado sobre como seria a "Venezuela dos sonhos de Guaidó", o líder da oposição disse: "Que o exército funcione. É ter água, ter energia elétrica, ter prosperidade. Que a normalidade faça parte da liberdade. Onde as crianças possam sonhar. Possamos ter liberdade e sermos como seres humanos".
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