Há semanas, o território palestino enfrenta protestos - não contra israelenses, mas contra o próprio movimento radical que o governa. Demandas são inicialmente sociais, mas podem se tornar também políticas.
Kersten Knipp | Deutsch Welle
O líder do movimento radical palestino Hamas, Ismail Haniya, apelou aos habitantes da Faixa de Gaza a que, no próximo domingo, 30 de março, protestem em massa contra a ocupação israelense. Pouco antes, no domingo que passou (24/03), o Exército de Israel perpetrara ataques aéreos contra duas posições do Hamas. Mais tarde, o Exército alegaria tratar-se de uma resposta aos violentos protestos palestinos na fronteira com Israel, em que teriam sido atirado explosivos contra a cerca de fronteira. Um deles teria desencadeado um alerta de bomba no sul de Israel.
Chuva de gás lacrimogêneo em protesto palestino na fronteira com Israel em julho de 2018 |
Desde que começou a nova onda de protestos, em março de 2018, já foram registradas a morte de pelo menos 258 palestinos e dois soldados israelenses. Os protestos na fronteira com Israel escondem outro conflito, que preocupa os moradores de Gaza. Há um mês, foi fundado na cidade de Gaza o movimento Bidna na'isch (Queremos Viver), inicialmente uma coalizão de ativistas de mídia independentes e que se espalhou rapidamente entre os jovens da Faixa de Gaza.
Em meados de março, os apoiadores do movimento protestaram publicamente pela primeira vez. O Hamas, que controla a Faixa de Gaza, reagiu imediatamente: os seguranças afastaram violentamente os manifestantes, como mostram vídeos que circulam nas mídias sociais, e vários foram detidos.
O movimento se ocupa de grandes preocupações sociais, disse uma manifestante ao canal de notícias Al-Jazeera. "É um movimento que vem de dentro da própria população", continuou a jovem. "As pessoas estão tomando as ruas para exigir uma solução diante de suas miseráveis condições de vida". Assim também foram formuladas as palavras de ordem do movimento: "Queremos viver, queremos trabalhar, nosso futuro está perdido".
O Queremos Viver ganhou peso através do apoio prestado por uma dezena de grupos políticos contrários ao Hamas. A posição deles foi expressada em um comunicado conjunto, segundo o qual a razão essencial para a crise na região é a ocupação e o fechamento da Faixa de Gaza por Israel, bem como a divisão da população palestina.
No entanto, alegam que também "os responsáveis" na Faixa de Gaza contribuem para essa situação, complicando a vida das pessoas, em particular, cobrando taxas e impostos excessivos. Os autores do comunicado também se queixam dos aumentos do custo de vida. Além disso, direitos e liberdades não estariam mais garantidos. Em vez disso, as pessoas enfrentam perseguição, prisão, intimidação ou demonização.
"Apelamos ao Hamas e às autoridades em Gaza que retirem suas forças de segurança das ruas e praças públicas e liberem todos os detidos ou presos ligados ao movimento", diz o texto.
As manifestações colocaram o Hamas sob pressão. A Comissão Independente de Direitos Humanos, uma organização suprapartidária fundada em 1993, também criticou a reação do Hamas aos protestos do movimento Queremos Viver. A ONG critica o "uso excessivo da força" pelos agentes de segurança. Eles teriam detido "centenas" de manifestantes – na realidade, foram mais de 1000 – e desta forma restringido enormemente as liberdades de imprensa e de opinião. Além disso, as forças de segurança também teriam como alvo defensores dos direitos humanos.
A forte repressão pelas forças de segurança foi amplamente discutida nos meios de comunicação tanto israelenses quanto árabes, mas também em parte da mídia ocidental. Para o Hamas, isso é um grande dano à imagem.
Imediatamente um porta-voz culpou pelos confrontos a concorrência interna entre o movimento secular Fatah e a por ele dominada Autoridade Palestina. Ela teria instruído os seus seguidores a semear a agitação. Se não o fizessem, teriam sido ameaçados de retenção dos salários, acusou um porta-voz do Hamas à Al Jazeera. "Nós enfatizamos que apoiamos protestos pacíficos, mas não vamos tolerar que eles sejam usados para espalhar o caos", disse o porta-voz.
Os protestos acontecem em um momento de dificuldades econômicas extremas. De acordo com o escritório central de estatísticas palestinas, o desemprego na Faixa de Gaza em 2018 foi de 52% - um aumento de sete pontos percentuais sobre o ano anterior e mais de 20 pontos percentuais desde que o Hamas assumiu o controle da região, em 2007. Os aumentos de preços de bens de consumo básicos nos últimos meses tiveram um impacto especialmente significativo sobre os habitantes da Faixa de Gaza.
Não está claro aonde as manifestações vão levar. O jornal israelense Jerusalem Post (JP), que é extremamente crítico em relação ao Hamas, não descarta a possibilidade de que os protestos possam se expandir, tanto em número de participantes quanto de reivindicações. Talvez, conclui o jornal, os manifestantes adotem demandas básicas semelhantes às formuladas pelos movimentos de protesto em vários países árabes em 2011. De acordo com o JP, isso inquieta o Hamas.
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