Último reduto do grupo foi eliminado por forças árabes e curdas. Mesmo sem território sob seu domínio, o grupo extremista ainda tem milhares de militantes no Oriente Médio.
Por G1
O autoproclamado "califado" do grupo Estado Islâmico foi totalmente eliminado após a conquista do último reduto no leste da Síria, anunciaram neste sábado (23) as Forças Democráticas Sírias (FDS), uma aliança curdo-árabe apoiada pelos Estados Unidos. O combate na região durou quatro anos.
Membros das Forças Democráticas da Síria erguem sua bandeira no último reduto do Estado Islâmico em Baghuz, na Síria, neste sábado (23). — Foto: AFP |
"As Forças Democráticas Sírias (FDS) declaram a eliminação total do suposto califado e uma derrota territorial de 100% do Estado Islâmico", afirmou um porta-voz das FDS, Mustefa Bali, em um comunicado.
Mesmo sem território sob seu domínio, o grupo extremista ainda tem milhares de combatentes na região.
As Forças Democráticas Sírias levaram vários meses para conquistar todas as áreas jihadistas em Baghuz, uma localidade do leste da Síria, próxima da fronteira com o Iraque.
Pela primeira vez o comandante das FDS, Mazloum Kobani, confirmou quantas mortes ocorreram no combate ao EI: 11 mil militares. Além disso, 21 mil combatentes foram feridos, segundo a agência EFE. "Foi extremamente caro. Temos que lembrar os heróis e fazer um tributo aos mártires", disse o comandante no Campo de Al-Omar.
Os confrontos foram muito violentos contra os últimos e irredutíveis militantes do EI, que usavam civis como escudos humanos e se escondiam em túneis subterrânes. Mas a bandeira das FDS pôde ser hasteada em Baghuz neste sábado, afirmou o porta-voz da FDS.
Mazloum Kobani informou que foram recuperados, desde o início do combate, 52 mil quilômetros quadrados.
O anúncio das FSD aconteceu horas depois que a Casa Branca proclamasse a vitória contra o EI, embora ainda continuassem os combates em Baghuz.
Auge do domínio jihadista
Em seu momento de maior influência, em 2014, o Estado Islâmico chegou a controlar no Iraque e na Síria uma território equivalente ao do Reino Unido. O regime foi imposto a 12 milhões de pessoas e era financiado pela comercialização de petróleo ilegal.
A organização é liderada pelo iraquiano Abu Bakr Al Bagdadi, que proclamou o califado em julho de 2014 na mesquita Al Nuri de Mossul, uma grande cidade do norte do Iraque, recuperada pelo exército iraquiano em julho de 2017.
O grupo extremista, o mais brutal da história contemporânea, espalhou o terror com decapitações, execuções em massa, sequestros e estupros. Também raptou estrangeiros e reivindicou atentados na Síria, assim como em outros países árabes ou asiáticos e inclusive no Ocidente, além de ter destruído tesouros arqueológicos.
Saída de civis e terroristas
De acordo com a RFI, desde janeiro, mais de 67 mil pessoas deixaram a região de Baghuz, entre elas 5 mil terroristas, que se renderam.
Os civis, sobretudo parentes de extremistas, foram levados para acampamentos, principalmente em Al-Hol (nordeste), onde vivem em condições difíceis. A repatriação de jihadistas e de suas famílias é motivo de debate em países ocidentais.
Militantes
Embora o EI já não controle territórios, os Estados Unidos calculam que o grupo extremista ainda tenha até 20 mil combatentes na Síria e no Iraque.
"Cremos que existem entre 15 mil e 20 mil seguidores do EI, apoiadores armados ativos, embora muitos integrem células adormecidas na Síria e no Iraque", indicou na semana passada o enviado especial dos Estados Unidos para a Síria, James Jeffrey.
As FDS dizem que vão continuar combatendo o que resta do grupo extremista até que ele seja completamente erradicado.
Especialistas avaliam que, mesmo após a eliminação de territórios sob seu controle, a influência do grupo jihadista pela internet ainda deve perdurar e pode estimular ataques contra o Ocidente. Ao longo dos últimos anos, o grupo se especializou em promover na internet a propaganda do terror, com vídeos de execuções e atentados.
Horas antes do anúncio da derrota na Síria, o EI divulgou um vídeo para convocar seus partidários a resistir e a atacar os "inimigos" no Ocidente.
A queda do "califado" do EI representa o início de uma nova etapa operacional, que terá como objetivo acabar com as células adormecidas dos jihadistas, afirmou o comandante da FDS Mazlum Kobane.
O enviado especial adjunto dos Estados Unidos para a coalizão internacional, William Roebuck, afirmou neste sábado, em discurso ao lado do comandante da FDS, Mazlum Kobane, que a cruzada contra o grupo jihadista ainda não foi concluída.
"O Estado Islâmico continua sendo uma ameaça significativa", disse o representante americano.
Repercussão
O presidente francês Emmanuel Macron afirmou neste sábado (23) que o fim do domínio do EI na Síria elimina um "grande perigo" para a França.
"Um grande perigo para o nosso país foi eliminado. Mas a ameaça continua, e a luta contra os grupos terroristas tem que continuar", disse Macron no Twitter.
A França contribuiu com 1,2 mil militares para as operações da coalizão internacional contra o EI.
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