Autoproclamado presidente interino da Venezuela disse que o mundo viu 'a pior cara da Venezuela' neste sábado e pediu ajuda à comunidade internacional 'para assegurar a liberdade do nosso país'.
Por G1
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, insistiu que os militares venezuelanos deixem de obedecer ao regime de Nicolás Maduro. "Vocês não devem lealdade a quem queima comida na frente de famintos", afirmou o líder oposicionista em discurso em Cúcuta (Colômbia) neste sábado (23).
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, insistiu que os militares venezuelanos deixem de obedecer ao regime de Nicolás Maduro. "Vocês não devem lealdade a quem queima comida na frente de famintos", afirmou o líder oposicionista em discurso em Cúcuta (Colômbia) neste sábado (23).
Juan Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela, discursa em coletiva de imprensa após acirramento da crise nas fronteiras venezuelanas — Foto: Luisa Gonzalez/Reuters |
"[Os militares] não devem nenhum tipo de obediência a quem, com sadismo, decide que não entre ajuda humanitária para o país", afirmou Guaidó, que é presidente do Parlamento venezuelano.
O opositor de Maduro também anunciou que participará na segunda-feira (26) da reunião do Grupo de Lima, em Bogotá, "para discutir possíveis ações diplomáticas" contra Maduro. O grupo reúne 13 países, inclusive o Brasil, que não reconhecem o governo de Maduro.
O vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, representarão o país no encontro. Os outros países do Grupo de Lima são: Argentina, Canadá, Colômbia, Costa Rica, Chile, Guatemala, Guiana, Honduras, México, Panamá, Paraguai e Peru.
Mais tarde, o presidente do Parlamento escreveu no Twitter que "os eventos de hoje me forçam a tomar uma decisão: a formalmente propor à comunidade internacional que nós precisamos ter todas as opções em aberto para assegurar a liberdade do nosso país, que luta e continuará lutando".
Segundo o líder da oposição, o regime de Maduro "celebra um massacre da nossa gente, em que hospitais venezuelanos não recebem ajuda". "Celebram a morte de mais venezuelanos", acusou Guaidó.
"Perguntem para seus familiares se precisamos de comida e de remédio. Perguntem. Ele [Maduro] é o assassino", afirmou.
O autodeclarado presidente interino também pediu esforços para "conseguir liberdade para a Venezuela". "Pedimos que mantenham todas as cartas na mesa".
"Hoje o mundo viu a pior cara da Venezuela."
Reação internacional
Minutos antes, o presidente da Colômbia, Iván Duque, afirmou que o regime de Maduro teve neste sábado "a sua derrota moral".
"A ditadura venezuelana pode apelar para violência para evitar ajuda, mas teve hoje sua derrota moral, sua derrota diplomática", afirmou.
O presidente colombiano foi um dos primeiros a reconhecer Guaidó como presidente interino da Venezuela. No discurso desta noite, Duque disse pediu que "o mundo diga 'basta!' à ditadura venezuelana.
"O mundo pode ver como hoje queimaram alimentos e medicamentos, que foram incinerados e que poderiam, seguramente, ter salvado vidas na Venezuela", disse o presidente da Colômbia.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, condenou a violência do governo Maduro e prometeu "tomar medidas" para apoiar a democracia no país. "Os Estados Unidos condenam os ataques a civis na Venezuela, realizados pelos assassinos de Maduro", escreveu Pompeo no Twitter.
"Os Estados Unidos tomarão medidas contra aqueles que se opõem ao restabelecimento pacífico da democracia na Venezuela. Agora é o momento de agir para apoiar as necessidades do desesperado povo venezuelano", afirmou o chanceler americano.
O governo brasileiro condenou "os atos de violência perpetrados pelo regime ilegítimo do ditador Nicolás Maduro", chamou o governo de Maduro de "criminoso" e apelou à comunidade internacional para "somarem-se ao esforço de libertação da Venezuela".
"O uso da força contra o povo venezuelano, que anseia por receber a ajuda humanitária internacional, caracteriza, de forma definitiva, o caráter criminoso do regime Maduro", afirma nota divulgada pelo Itamaraty na madrugada deste domingo.
O governo brasileiro diz que os ataques são "um brutal atentado aos direitos humanos" e que "nenhuma nação pode calar-se". "O Brasil apela à comunidade internacional, sobretudo aos países que ainda não reconheceram o Presidente encarregado Juan Guaidó, a somarem-se ao esforço de libertação da Venezuela", afirma o governo brasileiro.
O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro, afirmou que "a comunidade internacional deve ser dura, atendendo aos direitos interamericanos e ao direito internacional".
Almagro chamou o governo de Maduro de "usurpador" e que as ações que impediram entrada de ajuda humanitária à Venezuela são "inadmissíveis".
"Matar pessoas que levavam alimentos e remédios é uma baixeza ética. É um regime que comemora a vitória por assassinar seu povo", repudiou Almagro.
Resumo dos confrontos sábado (23)
- As fronteiras da Venezuela com o Brasil e a Colômbia amanheceram fechadas, conforme prometido por Maduro
- Caminhonetes saíram de Boa Vista e foram até a fronteira com a Venezuela com ajuda humanitária, mas voltaram para o lado brasileiro no fim do dia
- Venezuelanos protestaram e atacaram uma base do exército venezuelano
- 3 pessoas morreram e ao menos 15 ficaram feridas em Santa Elena, cidade venezuelana a 15 km da fronteira com o Brasil
- Na fronteira com a Colômbia, 2 caminhões com ajuda humanitária foram incendiados
- Confrontos na fronteira com a Colômbia deixaram 285 feridos e 37 pessoas hospitalizadas, segundo o governo colombiano
- Mais de 60 militares venezuelanos abandonaram os postos e pediram asilo, ainda de acordo com o governo colombiano
- Maduro afirmou em discurso que não é mendigo e que está disposto a comprar toda comida que o Brasil quiser vender e rompeu relações diplomáticas com Colômbia
- Guaidó voltou a apelar a militares para que eles retirem o apoio a Maduro: "Vocês não devem lealdade a quem queima comida"