O caça Saab Gripen E/F, encomendado pela Suécia e pelo Brasil, conta com vários recursos novos em relação à versão C/D: tem um alcance maior, graças a um trem de pouso principal reposicionado nas asas criando espaço para mais combustível interno e uma maior carga de armas.
Por Alexandre Galante | Poder Aéreo
Além disso, um motor GE F414 mais forte fornece mais potência e melhor eficiência de combustível em alta velocidade.
Saab JAS 39E Gripen |
Essas são as diferenças visíveis, mas sob a “pele” há novos aviônicos, dando ao Gripen E um dos sistemas de combate em rede mais avançados do mundo.
No campo de batalha moderno, os caças têm que atuar em ambientes de alta ameaça, como o espaço aéreo disputado, e lidar com sistemas de defesa aérea integrados (caças e sistemas de mísseis antiaéreos inimigos).
O Gripen E/F carrega uma variedade de medidas ativas e passivas para interromper os esforços inimigos e proteger a si mesmo e outras unidades amigas. Seu avançado sistema de guerra eletrônica, semelhante a um escudo eletrônico, permite interromper a capacidade do inimigo de funcionar de forma eficaz.
Isso pode ser usado para ajudar na destruição de alvos inimigos ou simplesmente para reduzir o entendimento e a capacidade de reação do inimigo. Tudo isso garantindo o sucesso da missão, usando as mais recentes armas e contramedidas.
Essa liberdade de ação permite que os pilotos do Gripen E/F derrotem qualquer ameaça – em qualquer lugar e retornem para casa em segurança.
A suíte de guerra eletrônica Arexis
O Gripen E/F reduz sua probabilidade de ser detectado confiando em seus sensores passivos ou através de interferência ativa.
O novo sistema central PPLI (Participant Precise Location and Identification) conecta todos os sensores internos e externos (Radar AESA Raven, IRST, EW e pod ATFLIR) e oferece as melhores respostas às ameaças.
Seu sistema de Guerra Eletrônica (EW) aprimorado, conhecido como MFS-EW (Multi Functional System), é baseado na família de produtos EW chamada Arexis. A Arexis emprega tecnologia digital de banda larga desenvolvida especificamente para robustez no complexo ambiente de sinais da atualidade.
As principais tecnologias da Arexis são receptores digitais de banda ultralarga e dispositivos de memória de frequência de rádio digital (DRFM – Digital Radio Frequency Memory), transmissores de jammer de varredura eletrônica ativa (AESA) de estado sólido de nitreto de gálio (GaN) e sistemas de detecção de direção interferométrica.
A DRFM funciona capturando digitalmente a assinatura da ameaça guiada por radar e, em seguida, emitindo um sinal de interferência para confundir o míssil atacante, geralmente dando-lhe um “alvo falso”.
A proteção eletrônica é fornecida na faixa de frequência que varia de 0,5 GHz até 40 GHz.
O MFS-EW é feito para lidar com o ambiente de sinais de hoje e no futuro usando receptores digitais de banda ultralarga, processamento de sinal avançado e capacidade de processamento extensiva que pode distinguir os sinais de ameaças reais de outras.
O sistema DRFM do Arexis do Gripen E/F gera alvos falsos nos radares do inimigo |
O MFS EW é totalmente integrado a outros sistemas táticos de missão a bordo da aeronave, e também há fusão de sensores em várias camadas da aeronave, combinando todos os sensores táticos no Gripen E, como o radar AESA, sensores eletro ópticos, IRST e também link de dados.
Essas fontes e sensores são integrados em um sistema de alto nível de fusão de sensores e consciência situacional para que o piloto realize a missão com eficácia.
O Gripen E/F é o único caça que rapidamente se adapta aos desdobramentos e permanece relevante ao longo do tempo. Equipado com uma arquitetura aviônica inteligente, os algoritmos antigos podem ser substituídos por novos sem reduzir a alta disponibilidade da aeronave.
A arquitetura também é a base para fazer atualizações rápidas de hardware e armas, com um alto grau de alteração para cada nação cliente.
Chamariz ativo descartável BriteCloud
A Saab também oferece o sistema de guerra eletrônica BriteCloud da Leonardo como opcional para seu caça Gripen E/F (e também para as versões anteriores).
Ilustração do BriteCloud sendo lançado do caça Gripen |
O BriteCloud representa novos conceitos de projetos e de tecnologias aplicadas para despistar mísseis guiados por radio-frequência (RF) e radares de controle de fogo. O equipamento tem o mesmo tamanho e forma de um “flare” (isca para mísseis guiados por infravermelho) e é lançado de um cartucho padrão de flare de 55mm. Sua alimentação é por baterias, e possibilita desviar ameaças para longe de sua plataforma lançadora, gerando grandes distâncias de erro.
O BriteCloud é o sucessor tecnológico de gerações anteriores de despistadores RF do tipo repetidores ou rebocados (Towed Radar Decoys – TRD). Quando um BriteCloud é lançado pelo piloto, o “decoy” procura ameaças e as organiza em prioridades, utilizando tecnologia avançada de DRFM.
Pulsos de radar vindos da ameaça são recebidos e o computador embarcado copia esses pulsos e os usa para simular um falso alvo, de maneira tão convincente a ponto do sistema da ameaça não detectar que está ocorrendo um despistamento. A Leonardo diz que o equipamento pode seduzir até as mais modernas ameaças para longe da plataforma lançadora.
Radar AESA Raven e IRST
O radar Raven ES 05 da Selex, com sistema de varredura eletrônica ativa, é um dos novos recursos do Gripen E/F. É um radar feito de muitos elementos diminutos de antena, montados de maneira a formar uma grande antena. Cada um destes elementos pode ser controlado individualmente, viabilizando as diversas novas funções.
Radar AESA Raven ES 05 do demonstrador Gripen NG com base giratória “swashplate” |
Anteriormente, o radar do Gripen tinha uma antena mecanicamente controlada, com capacidade para iluminar uma só área por vez. Um radar AESA pode rapidamente efetuar a varredura de grandes áreas, monitorar um maior número de alvos simultaneamente, além de conferir ao piloto maior flexibilidade operacional.
O novo radar do Gripen feito pela Selex também conta com uma base giratória ou reposicionadora do tipo “swashplate”, que aumenta a área de cobertura lateral do radar para além dos 90º.
O sistema de busca e rastreio por infravermelho (IRST) Skyward-G baseia-se na experiência com o Pirate IRST do Eurofighter Typhoon e com os IRST terrestres e navais desenvolvidos pela Selex. O Gripen E/F também tem um novo sistema de identificação de amigo-inimigo (IFF) com três matrizes de antena direcionáveis eletronicamente, que correspondem ao alcance do radar e ao campo de visão.
Os três principais sensores (Radar AESA, IRST e IFF) se comunicam automaticamente para exibir aos pilotos uma imagem fundida do espaço aéreo ao redor do caça; a imagem também é fundida com a informação do sistema de guerra eletrônica Arexis. Finalmente, os dados dos sensores podem ser compartilhados com outros Gripens em um voo via link de dados.
Segundo o fabricante, o IRST é capaz de detectar alvos de baixo RCS a distâncias compatíveis com o lançamento de mísseis além do alcance visual (BVR).
Skyward-G |
Em testes, o IRST foi capaz de discriminar diferenças muito pequenas de temperatura diferenças de temperatura entre o alvo e o fundo. O Skyward-G não depende que um um alvo esteja voando supersônico para ser detectado, pois o aquecimento da fuselagem a 300-400 nós é significativo – e o sensor detecta calor irradiando do motor através da fuselagem da aeronave, bem como a fricção nas superfícies e o escape do motor.
O IRST usa um sensor de matriz de plano focal de onda longa (um sistema de banda dupla, adicionando capacidade de onda média, é uma atualização potencial) com três campos de visão. Em seu modo de busca de longo alcance, o sistema é um telescópio IR com um espelho de varredura em movimento rápido (localizado em uma cúpula transparente na frente do pára-brisa da aeronave) e “varreduras de passo” através de seu setor de busca.
Ele também possui um modo de rastreio de alvo único e, no modo de campo amplo, ele fornece uma imagem de visão noturna no Head Up Display (HUD). Como um sistema passivo, o IRST não possui dados de alcance inerentes, mas pode executar “variação cinética” – a aeronave realiza uma manobra de “weaving” e o alcance é determinado pela mudança no ângulo de azimute do alvo – ou os IRSTs de dois Gripen podem triangular o alvo com o link de dados.
O hardware IRST – ótica, detector e processador – foi aprimorado desde o início do desenvolvimento do sensor Pirate do Eurofighter, mas a mudança mais importante foi o desenvolvimento de algoritmos, com base na experiência operacional e na análise de alvos reais, que examinam as assinaturas de infravermelho em detalhes, incluindo variações de cor e brilho dentro do alvo, para filtrar alarmes falsos.
O IRST pode fornecer ao radar AESA um azimute e elevação muito precisos para o alvo, o que permite que ele concentre sua energia e aumente a probabilidade de alcançar a detecção e rastrear um alvo com baixa RCS.
Outro sistema da Selex selecionado para o Gripen E/F é de identificação amigo ou inimigo (IFF) com três arranjos de antenas orientáveis eletronicamente, que coincide com o alcance do radar e campo de visão. Integrado por fusão de dados com o novo sistema de guerra eletrônica, fornece ao piloto uma única imagem com as informações precisas, permitindo o compartilhamento desses dados com outros caças Gripen via por data link.