Os ministros europeus do Exterior quase encontraram uma postura comum em relação ao país sul-americano. Eles perderam a chance de apoiar o líder oposicionista Guaidó, e a razão para tal é frustrante, opina Barbara Wesel.
Barbara Wesel | Deutsch Welle
É de arrancar os cabelos: o Parlamento Europeu se adiantou e, com grande maioria, reconheceu o líder oposicionista Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela, colocando-se assim do lado das "forças democráticas" do país.
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Assim, o órgão declarava seu apoio à oposição, fortalecendo o oponente do presidente Nicolás Maduro. Pelo menos simbolicamente, pois o Parlamento não é responsável por essa forma de política externa. Mas era um sinal político.
Ao mesmo tempo, os ministros do Exterior dos países da UE se reuniram em Bucareste para um de seus encontros regulares. Havia a oportunidade de, algumas horas mais tarde, ampliar essa notícia em um aspecto decisivo: uma declaração conjunta de apoio à oposição do país que se afunda no caos.
Contudo a medida fracassou devido à resistência de um único ministro, como se ficou sabendo mais tarde. Caso os demais se tivessem ocupado um pouco mais intensivamente do renitente, talvez oferecido uma pequena vantagem, quem sabe se teria alcançado conformidade.
Mas desse jeito desperdiçou-se um dos raros sinais positivos de unidade na política exterior europeia. Isso também se deve à fraqueza da liderança das negociações.
A cada semestre, um país assume a presidência dos conselhos ministeriais e das cúpulas da UE. No momento quem ocupa esse papel é a Romênia, com seu governo soterrado em escândalos de corrupção e uma carência gritante de políticos de gabarito e experiência.
Na discussão sobre a Venezuela, ficou infelizmente demonstrada toda a fraqueza do sistema. A Finlândia se oferecera para assumir a presidência no lugar dos mal preparados romenos, mas Bucareste rejeitou a troca. E no entanto o governo em Helsinque teria, com quase toda certeza, conseguido a resolução sobre a Venezuela. Aqui foi a combinação entre um colapso do sistema e um país-membro especialmente fraco à frente da UE.
A UE poderia perfeitamente ter-se feito útil na Venezuela, mesmo não tendo praticamente nenhuma base histórica lá. Pois, na briga das superpotências Rússia e Estados Unidos por suas esferas de influência, haveria espaço para os europeus como negociadores e apoiadores, sobretudo para a população que sofre com o colapso total de abastecimento.
Até o momento Nicolás Maduro não ofereceu nenhuma via de acesso para a assistência humanitária, portanto o êxodo em massa prossegue. E agora o presidente agrava ainda mais a situação no país, ao mandar prender jornalistas estrangeiros e impossibilitar-lhes o trabalho. Tudo indica que a luta entre o regime e a oposição entra em sua fase decisiva.
Diante disso, não deveria ser tão difícil assim para a UE assumir uma posição e deixar de ambivalência política. Como quer que Moscou e Washington definam sua política de interesses, com uma mensagem clara a Europa poderia ter se postado do lado da oposição. Um presidente que reprime seu país e o faz passar fome desse jeito perdeu toda legitimidade. Na verdade, a decisão poderia ter sido fácil.
Como as coisas ficaram, porém, quase todos os Estados-membros da UE deverão declarar seu respaldo a Guaidó pouco a pouco, no decorrer da semana. Assim se desfazem em fumaça a mensagem e uma rara chance de coesão. Também na política externa, e especialmente nela, a Europa é mais forte quando se mantém unida. Esse fracasso em Bucareste teria sido evitável e é simplesmente frustrante.