O presidente da Venezuela atacou, em conferência de imprensa, a posição da União Europeia em querer eleições antecipadas no país, mostrou-se disponível para receber o Grupo de Contacto Internacional, apesar de não concordar com as suas exigências
DN | Lusa
"A União Europeia quer apoderar-se da Venezuela e das nossas riquezas. Querem fazer um golpe de Estado tipo Pinochet. Querem impor um Pinochet à Venezuela." Foi esta a ideia central da conferência de imprensa do presidente venezuelano Nicolás Maduro, no Palácio de Miraflores, que centrou as suas atenções na atuação da Europa, que está ao lado do presidente interino Juan Guaidó e exige eleições antecipadas.
"A União Europeia quer apoderar-se da Venezuela e das nossas riquezas. Querem fazer um golpe de Estado tipo Pinochet. Querem impor um Pinochet à Venezuela." Foi esta a ideia central da conferência de imprensa do presidente venezuelano Nicolás Maduro, no Palácio de Miraflores, que centrou as suas atenções na atuação da Europa, que está ao lado do presidente interino Juan Guaidó e exige eleições antecipadas.
Nicolás Maduro © REUTERS/Carlos Barria |
Maduro reiterou a intenção de não aceitar a realização de eleições antecipadas preconizadas pelo Grupo de Contacto Internacional e garantiu que mais de dois milhões de venezuelanos assinaram a recusa da ingerência dos Estados Unidos e dos seus aliados contra a Venezuela.
"Se convocássemos eleições, eles iriam inventar qualquer coisa, como aconteceu em 2017. Eles não querem eleições, querem um golpe de Estado", frisou o presidente venezuelano.
Nicolás Maduro admitiu no entanto a disponibilidade de receber elementos do Grupo de Contacto Internacional (GCI). "Não estamos de acordo com a parcialização e teor ideológico do Grupo de Contacto, mas estou pronto para receber e restabelecer contacto com qualquer membro desse grupo. Dou as boas vindas ao Grupo de Contacto da UE, ainda que que esteja em desacordo com o seu teor ideológico e enviesado", disse, numa declaração que surge um dia depois de o GCI para a Venezuela, na sua primeira reunião, decidir enviar representantes para Caracas para se reunirem com ambas as partes no país, reconhecendo que a crise humanitária "se está a aprofundar".
E, nesse sentido, Maduro garantiu que será aberto um corredor humanitário para o povo venezuelano "com a ajuda de soldados e civis".
O GCI para a Venezuela, reunido quinta-feira em Montevideu, apelou ainda à realização de "eleições presidenciais livres", segundo a declaração divulgada no final dos trabalhos. O "grupo apela à criação de uma abordagem internacional comum para apoiar uma resolução pacífica, política, democrática e integralmente venezuelana da crise, excluindo o uso da força, através de eleições presidenciais livres, transparentes e credíveis, de acordo com o Constituição venezuelana", lê-se na declaração final assinada por todos os países participantes, com exceção da Bolívia e do México.
Participaram nesta primeira reunião do GCI a União Europeia (UE), que esteve representada pela chefe da diplomacia europeia, a italiana Federica Mogherini, e por oito Estados-membros do bloco comunitário (Portugal, Espanha, Itália, França, Alemanha, Reino Unido, Holanda e Suécia). Do lado da América Latina, estiveram presentes a Bolívia, Costa Rica, Equador, México e Uruguai. Portugal foi representado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autoproclamou presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro. Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.
Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos. A repressão dos protestos antigovernamentais desde 23 de janeiro provocou já 40 mortos, de acordo com várias organizações não-governamentais.
Esta crise política soma-se a uma grave crise económica e social que levou 2,3 milhões de pessoas a fugirem do país desde 2015, segundo dados da ONU. Na Venezuela, antiga colónia espanhola, residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.